Problemas no sono

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ARTIGOS

Problemas no sono

Por Dr. Richard Portier

em 23 de junho de 2023.

Uma boa noite de sono é crucial para manter uma boa saúde. Hoje sabemos que dormir bem, e com a qualidade e na quantidade certa, é fundamental para prevenir doença crônicas e retardar o processo de envelhecimento.

Infelizmente, diversas pessoas vivendo com HIV (PVHIV) apresentam dificuldades para induzir ou manter o sono, por sonhos vívidos, pesadelos e suores noturnos. Ou por simples hábitos ruins.

Neste artigo mostrei as principais causas e como alcançar a noite de sono que você merece.

Prevalência e os fatores associados ao distúrbio no sono

O artigo “Prevalence and Risk Factors of Sleep Disturbance in a Large HIV-Infected Adult Population”, publicado na AIDS and Behavior em agosto de 2015, nos mostra qual é a prevalência e os fatores associados ao problema.

Este foi um estudo transversal na região de ‘‘Pays de la Loire’’, noroeste da França, que tem uma população de pessoas vivendo com HIV de 3.736. Entre novembro de 2012 e maio de 2013, todas as PVHIV com mais de 18 anos de idade que se apresentaram para atendimento de rotina nas clínicas de Nantes, Angers, La Roche sur Yon, Saint Nazaire, Le Mans e Laval, foram convidadas para o estudo.

Cada participante respondeu um questionário sobre distúrbios do sono, o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI). O PSQI é um questionário de 19 itens sobre o sono do último mês e avalia os componentes do sono, incluindo qualidade do sono, latência do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios do sono, uso de hipnóticos e sono diurno. Os distúrbios do sono foram definidos como um escore global maior que 5.

No período estipulado, 1.354 PVHIV foram incluídos no estudo. Os participantes eram principalmente homens nascidos na França, no final dos anos quarenta. A maioria dos participantes estava em terapia antirretroviral, por uma mediana de quase 10 anos, com carga viral indetectável e CD4 maior que 500 células/mm3. 

O tempo médio de sono foi de 7 horas. Observou-se o distúrbio do sono em 47% dos participantes e sintomas depressivos moderados a graves em 19,7%. Fatores significativamente associados foram depressão, sexo masculino, emprego ativo, viver sozinho, tabagismo, duração da infecção pelo HIV maior que 10 anos e uso de efavirenz na terapia antirretoviral.

O que podemos concluir? Primeiro, que a prevalência de distúrbios no sono é alta na PVHIV, pois neste estudo 637 (47%) pessoas apresentaram o problema. Segundo, o transtorno depressivo está relacionado aos sintomas, tanto que faz parte de um dos critérios de depressão maior do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5ª edição (DSM-5). Terceiro, o efavirenz, nosso antirretroviral de escolha até 2017, causa este efeito colateral. Quarto, está associado ao tabagismo. 

Por essa alta prevalência, precisamos perguntar ativamente para a PVHIV como está o sono, e fazer um rastreio sobre sintomas de depressão e tabagismo. Caso positivo, precisamos tratar o transtorno depressivo com antidepressivos e o tabagismo. Por fim, caso o paciente use o efavirenz, trocar para outro antirretroviral.

Melhorando a qualidade e duração do sono

Estas são orientações chamadas de higiene do sono. Elas serão fundamentais para você dormir melhor – não só isso, ter uma saúde melhor. Então siga todas:

  1. Acorde cedo, entre às 6:00 e 7:00, para ajustar o ritmo circadiano.
  2. Faça algo importante entre às 7:00 e 8:00 (missa, culto, musculação, exercício aeróbico, etc), para todos os dias acordar cedo.
  3. Durma entre 22:00 e 23:00.
  4. Rotinas/rituais regulares na hora de dormir ajudam a relaxar e a preparar o corpo para dormir (rezar, meditar, leitura, banho quente, etc.).
  5. Não cochile durante o dia.
  6. Use a cama apenas para dormir, ler e transar; não use para outras atividades, como assistir TV, trabalhar no computador ou telefone, etc.
  7. Evite cafeína após o almoço.
  8. Não beba álcool durante os dias de semana.
  9. Não fume.
  10. Não faça exercícios aeróbicos intensos antes de dormir.
  11. Deixe o quarto silencioso, o mais escuro possível e um pouco frio em vez de quente.
  12. Evite luz azul emitida pelas telas pelo menos 2 horas antes de dormir (smartphones, laptop, monitores). A luz azul suprime a produção de melatonina necessária para induzir o sono. Evite mensagens de texto, mídia social, jogos, uso de aplicativos.
  13. Não aperte o botão de soneca na hora de acordar.
  14. Coma mais carboidrato à noite.
  15. Não suplemente melatonina.
  16. Não adormeça com a TV ligada.
  17. Colchão, travesseiro, roupa de cama e pijama bons. 
  18. Não beba muito líquido à noite.

Prevalência e os fatores associados à apneia obstrutiva do sono

Uma queixa frequente no meu consultório é o ronco excessivo, associado à apneia. Esses sintomas fazem parte de uma doença chamada apneia obstrutiva do sono (AOS). O artigo “Sleep disturbances in HIV-infected patients associated with depression and high risk of obstructive sleep apnea”, publicado na SAGE Open Medicine em abril de 2019, nos mostra qual a prevalência e os fatores associados ao problema.

Este estudo foi um estudo transversal, com PVHIV de um ambulatório na Temple University, na Filadélfia. Os pacientes que se apresentaram para o acompanhamento de rotina entre 2014 e 2015 foram convidados para participarem do estudo. 

Para o diagnóstico de AOS, aplicaram um questionário chamado “STOP-BANG”. Cada letra representa uma pergunta ou característica demográfica que pode ser respondida como “sim” ou “não”: ronco; cansaço; apneia observada; pressão alta; IMC maior que 35 kg/m; idade maior que 50 anos; circunferência do pescoço maior que 41 cm em mulheres e maior que 43 cm em homens; e sexo masculino. As pontuações de 0 a 2, 3 a 4 e 5 a 8 indicam baixo, médio ou alto risco de AOS, respectivamente.

Foram incluídos no estudo 176 participantes. No questionário “STOP-BANG”, 36 (20%), 67 (38%) e 73 (41%) tinham risco de AOS alto, médio ou baixo, respectivamente. O aumento do risco de AOS foi associado com idade mediana mais avançada (54 x 51 x 45), sexo masculino (56% x 49% x 34%), ter IMC maior 30 kg/m2 (75% x 43% x 22%), circunferência de pescoço elevada (36% vs 24% vs 14%) e comorbidades metabólicas incluindo diabetes (36% vs 24% vs 7%), hipertensão (83% vs 64% vs 25%) e dislipidemia (44% vs 40% vs 26%), diagnóstico preexistente de apneia do sono (25% vs 9%) e problemas de sono autorreferidos (78% vs 70% vs 58%).

O que podemos concluir? Primeiro, neste estudo, a prevalência de AOS foi alta, pois cerca de 20% tinham risco alto e 38% risco médio. Segundo, a AOS está associada ao excesso de gordura corporal. Nos participantes de risco alto, 75% estavam com obesidade e 36% com a circunferência do pescoço elevada. Terceiro, neste mesmo grupo, os pacientes apresentavam outras comorbidades, como hipertensão, dislipidemia e diabetes, que são doenças crônicas relacionadas ao excesso de gordura. Quarto, 78% relataram distúrbio no sono, o principal sintoma da AOS.

Tratamento da apneia obstrutiva do sono

A polissonografia completa continua sendo o método definitivo para o diagnóstico de AOS, e no caso de suspeita, deve ser realizada. 

Após o diagnóstico, a primeira opção de tratamento é a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Dormir com uma máscara com selo periférico sobre o rosto, com aplicação de pressão positiva nas vias aéreas, evita o seu colapso, interrompendo, portanto, a obstrução e o ronco. O CPAP irá ajudar a melhorar a qualidade do sono, porém não trata a causa. 

Portanto, para curar a AOS, é necessário perder gordura corporal através da dieta com déficit calórico, musculação, exercício aeróbico leve e suplementação.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Náusea, vômito e perda de apetite

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Náusea, vômito e perda de apetite

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Náuseas e vômitos estão entre os sintomas mais comuns entre as pessoas vivendo com HIV (PVHIV). 

Nos deixam desconfortáveis, atrapalham o dia a dia, e levam a perda do apetite. Sem comer nos sentimos fracos, e não conseguimos viver a vida como desejamos.

Além disso, o vômito também pode resultar em baixa absorção dos antirretrovirais, baixa concentração na corrente sanguínea e na possibilidade de resistência aos medicamentos.

Por todas essas razões, é muito importante controlar a náusea e o vômito. Neste artigo mostrei as principais causas e o que fazer caso você esteja sofrendo com esses sintomas.

Descobrindo a causa

A náusea, ou sensação de “estômago embrulhado”, é algo que todo mundo sente às vezes. Também pode levar à vômitos. 

Às vezes, passa rápido. Outras vezes, demora algumas horas. Mas pode durar mais tempo.

Quando a náusea causa vômitos repetidos ao longo de vários dias, pode resultar em desnutrição grave, desidratação e desequilíbrio em alguns dos compostos químicos, chamados eletrólitos, no sangue.

A perda de apetite, ou não sentir vontade de comer, pode acompanhar a náusea, mas também pode ocorrer sozinha. Pode ser difícil perceber, mas quando é grave, leva você a não consumir os nutrientes suficientes para manter sua saúde.

Faça anotações dos seus sintomas para ajudar seu médico a saber como resolvê-los. Aqui está um esquema simples para você deixar pronto para a próxima consulta:

  1. Com que frequência você se sente nauseado? Todos os dias? Por quanto tempo a náusea dura? Você vomita em alguma dessas ocasiões? Se o sintoma persistir durante a maior parte do dia, observe isso. Também acompanhe quantos dias da semana a náusea ocorre.
  2. Observe qualquer padrão quando ocorrer a náusea. Ocorre quando você acorda pela primeira vez? Depois de tomar seus medicamentos? Quando cheira a comida? Quando começa a comer? Após as refeições? Há outra coisa que possa identificar?
  3. A náusea está atrapalhando seu tratamento? Você acaba pulando doses? Ou doses de outros medicamentos porque se sente enjoado demais para tomá-los? Você tem dificuldade em tomar devido ao vômito? Se sim, com que frequência isso ocorre? Já abandonou o tratamento por causa dos sintomas?
  4. Tudo o que você come e bebe ao longo de alguns dias. Isso pode ajudar a avaliar se sua ingestão total de calorias e nutrientes é suficiente.

Embora os antirretrovirais possam causar náusea, vômito ou perda de apetite, pode haver outras causas para esses sintomas. Por isso contar ao seu médico é importante.

Os antirretrovirais

Praticamente todos os antirretrovirais atualmente disponíveis podem causar náusea. Porém, ocorre principalmente no início do tratamento e passa com o tempo.

Porém, os inibidores de protease são mais propensos a causar esses sintomas.

Além disso, é também um dos sintomas da reação de hipersensibilidade ao abacavir.

Medicamentos usados como profilaxia, como o sulfametoxazol/trimetroprim (Bactrim®) e a azitrocimicina, também podem causar os sintomas.

Porém, a náusea é um efeito colateral comum de outros medicamentos, como analgésicos, suplementos, quimioterápicos e muitas outras terapias.

As infecções

Infecções também causam esses sintomas – diminuem o apetite, causam febre, diarreia, mal-estar e cansaço – principalmente em intoxicações alimentares.

Em PVHIV sem tratamento e na fase AIDS devemos pensar em doenças oportunistas como: esofagite, sífilis secundária, meningite criptocócica, criptosporidiose, hepatite viral, complexo Mycobacterium avium (MAC), toxoplasmose grave e linfoma.

Outras causas

Problemas no fígado e pancreatite podem acontecer nas pessoas que abusam do álcool.

A deficiência de testosterona, que é comum em homens e mulheres vivendo com HIV, pode levar à diminuição do apetite.

Depressão, ansiedade, enxaqueca, gastrite, constipação também podem causar esses sintomas.

Mude hábitos alimentares

Para melhor os sintomas de náusea, vômitos ou perda de apetite, mude seus hábitos alimentares

Coma sempre no mesmo horário e diminua a quantidade de comida nas suas refeições – faça lanches pequenos mais frequentes, e coma menos  no café da manhã, almoço e janta – pois deixar o estômago vazio por muito tempo tende a aumentar a náusea. 

Essa mudança também ajudará a evitar níveis baixos de açúcar no sangue, o que pode piorar a náusea. E mesmo que não sinta fome na próxima refeição ou lanche, faça o melhor que puder para comer naquele momento.

Qualquer coisa que estimule seu apetite e não faça você se sentir enjoado deve ser tentado. Por exemplo:

  • Experimente temperos ou molhos diferentes para encontrar um que melhore o sabor dos alimentos sem criar náuseas.
  • O gengibre pode ser muito útil para ajudar a controlar náuseas. Gengibre em cápsula, chá de gengibre ou gengibre em pó podem ser úteis.
  • O limão pode suprimir a náusea; portanto, antes de uma refeição, fatie um limão fresco e cheire-o por um minuto ou dois. Faça doses com gengibre e água, e tome antes das refeições.
  • Se você tiver mais apetite ou menos náusea em determinados momentos do dia, tente comer nesses horários. E lembre-se: cada mordida conta.
  • Às vezes, os cheiros podem desencadear náuseas, e alimentos frios geralmente têm menos cheiro; portanto, tente fazer uma refeição com alimentos frios.
  • Beba líquidos através de um canudo para para não precisar cheirá-los.
  • Se o cheiro da comida provocar náusea, tente ficar longe da cozinha quando a comida estiver sendo preparada.
  • Mantenha lanches que você gosta por perto, para que qualquer momento de apetite possa ser aproveitado.
  • Use alimentos secos e/ou salgados, como bolachas, pão ou torradas para acalmar o estômago.
  • Alimentos protéicos podem melhorar a náusea, e alimentos doces às vezes podem piorá-la, portanto, evite o que desencadeia o sintoma. Em vez disso, comece o seu dia com uma pequena quantidade de proteína, como ovos mexidos com azeite.
  • Beba bebidas geladas.
  • Mastigue bem os alimentos para que o estômago possa trabalhar com mais facilidade.
  • Evite comidas apimentadas, frituras, carnes com alto teor de gordura, molhos, creme de leite, bebidas que contenham cafeína e álcool.
  • Coma alimentos leves como caldo, sopas, purês, arroz, aveia, torradas ou iogurte natural.
  • Coma sentado e tente permanecer nesta posição por pelo menos duas horas depois de comer. Isso pode ajudar a reduzir a sensação de vômito.

Melhore a ingesta de nutrientes

Antes de iniciar qualquer suplementação ou fitoterapia, converse com o seu médico para evitar possível interações com os medicamentos.

A náusea ou a perda de apetite leva a um ciclo vicioso, em que a ingestão reduzida de alimentos resulta em níveis inadequados de nutrientes. 

Essa falta de nutrientes aumenta a perda de apetite induzida por desnutrição, piorando esse ciclo. Quando isso ocorre, é necessário restaurar os níveis de nutrientes do seu corpo.

 A solução envolve uma combinação de estimulantes de apetite, alimentos com alto teor de nutrientes e suplementação.

A deficiência de minerais mais conhecida é o zinco. Você pode restaurar os níveis mais rapidamente adicionando-o como um suplemento separado, junto com o cobre para reduzir o risco de problemas cardíacos. No entanto, níveis muito altos de cobre podem levar a danos no fígado, por isso fale com seu médico antes de iniciar qualquer suplementação.

Ou dica: beber uma refeição líquida pode ser muito mais fácil do que comer uma. Experimente uma sopa caseira ou uma vitamina rica em nutrientes e altamente calórica. Misture os seguintes ingredientes:

  • Leite de vaca integral, ou de arroz, ou leite de coco, com frutas frescas não ácidas, como banana, maçã e pêssego.
  • Óleo de coco ou creme de amendoim, se você precisar de mais calorias e gorduras boas.
  • Baunilha ou outros aromas naturais.
  • Frutas congeladas (em vez de frescas) ou geladinho.
  • Proteína em pó de alta qualidade, como whey protein ou proteínas vegetais.
  • Use triglicerídeos de cadeia média (MCTs) pois são moderadamente altos em gorduras de boa qualidade e ricos em calorias em geral.

Utilize antinauseantes naturais

Estudos demonstraram que o gengibre é um poderoso agente anti-náusea. Porém precisa estar no estômago no momento da refeição. Por isso, consuma-o alguns minutos antes para comer, beber ou tomar o seu medicamentos. 

Pode ser tomado em forma de cápsula, ou em chá, cortando ou ralando de duas ou três colheres de sopa de raiz de gengibre fresco e adicionando-o a 250 ml de água fervente. Deixe infundir por cinco a 10 minutos e beba ao longo do dia. 

A raiz de gengibre picada também pode ser adicionada a muitos pratos, adicionando sabor e ajudando a diminuir os sintomas. Chá de camomila, funcho ou hortelã-pimenta também acalmam o estômago.

Se os sintomas estiverem associados ao estresse, chás ou tinturas de melissa, camomila e lavanda poderão trazer benefícios.

Utilize medicamentos antinauseantes ou toque de medicamento

Quando todas as sugestões acima não resolverem seus sintomas, ou eles não diminuirem com o passar do tempo, é muito importante conversar com seu médico sobre o que fazer: utilizar medicamentos anti-náuseas ou trocar seu medicamento.

Antieméticos incluem a bromoprida, metoclopramida, ondansetrona e dimenidrinato.

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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

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© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Efeitos colaterais: o básico que você precisa saber

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Efeitos colaterais: o básico que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Qualquer medicamento pode causar efeitos colaterais. Independente se é um antitérmico, um analgésico ou um anti-inflamatório.

Vou te dar um exemplo: os antibióticos. O efeito desejado é curar uma infecção bacteriana, porém pode causar efeitos indesejados, náuseas ou diarreia.

Esses efeitos não intencionais são chamados de efeitos colaterais e podem variar de leves a graves.

Alguns criarão sinais ou sintomas que você pode ver ou sentir; outros não.

Outros podem alterar resultados dos exames de sangue – por exemplo, você não sentirá, fisicamente, uma mudança no seu colesterol. Mas os resultados dos exames de rotina mostrarão alterações no LDL e nos triglicerídeos.

Efeitos colaterais podem acontecer ao longo do tratamento, depois de muitos anos, como por exemplo, alterações nos rins.

Mas nem todas as pessoas vivendo com HIV (PVHIV) que realizam a terapia antirretroviral desenvolvem efeitos colaterais. Acaba sendo uma questão de sorte: você pode ter ou pode não ter.

Porém, felizmente, os medicamentos atuais causam muito menos toxidade comparado aos da década de 1990 e 2000.

Hoje, a maioria das pessoas conseguem manter os mesmos medicamentos por muitos anos com nenhum, ou poucos, efeitos colaterais. Quando ocorrem, geralmente acontecem nas primeiras semanas de tratamento, são temporários e desaparecem após alguns dias ou semanas.

No entanto, para algumas pessoas, o efeito adverso pode persistir e atrapalhar o dia a dia. Apenas lembre-se de que não está sozinho. Inúmeros outros estão sentindo a mesma coisa. Neste caso, converse com o seu médico para a troca do medicamento.

Eu sei, você está preocupado ou já ficou preocupado por causa dos efeitos colaterais. Aqui está algo a se pensar: sempre converse com seu médico sobre possíveis efeitos colaterais antes de iniciar qualquer tratamento. Assim você estará melhor preparado para lidar com problemas que surgirem e saberá o que fazer.

O que você está sentindo?

Parece óbvio, mas sempre procure um diagnóstico correto junto com seu médico sobre todos os sinais e sintomas que está sentindo. 

Sim, pode ser por causa do seu medicamento. Mas também pode ter outra causa, como hábitos de vida ruins, problemas hormonais, deficiência de nutrientes, infecção, depressão, a própria infecção pelo HIV ou outra coisa.

Você também pode consultar as informações disponíveis na bula – normalmente contêm uma lista bastante abrangente de todos os efeitos colaterais conhecidos. 

Na maioria das bulas, essa lista é longa e inclui todos os efeitos colaterais possíveis. No entanto, se você perceber um sintoma listado como um dos efeitos adversos comuns, essa é uma dica que o seu medicamento pode ser a causa.

Duas outras situações são importantes. Primeiro, é sempre possível que você seja a primeira pessoa a experimentar um sintoma específico. Isso é extremamente improvável, mas é possível. O fato de você não ver um sinal listado não significa que é impossível que o medicamento esteja causando esse problema em você.

Segundo, mesmo que um medicamento contribua para um problema específico, pode não ser a única causa. Muitos sintomas, como diarreia, cansaço, dor de cabeça e outros, têm diversas causas possíveis. Antes de concluir que o medicamento é a única causa do seu sintoma, considere as outras possibilidades.

Converse com o seu médico

Muitas pessoas não trazem todos os seus problemas na consulta médica, por vários motivos: medo, insegurança, tempo limitado da consulta, médicos impacientes.

Se você acha importante conversar sobre efeitos colaterais do seu tratamento, utilize uma consulta apenas para isso. Se você tem condições financeira, marque uma consulta particular para discutir o assunto.

É extremamente importante que você já leve as informações anotadas, para não perder tempo pensando no momento da consulta. E não minimize seus sintomas. Seja muito claro e específico sobre a extensão do problema.

O único sintoma que certamente não será tratado pelo seu médico é o que você não mencionou. Com informações completas, seu médico irá entender completamente o que contribuí para um efeito colateral, ou se há outra causa, e assim desenvolver um plano para diagnosticá-lo e tratá-lo.

O que relatar ao meu médico?

Aqui está um esquema em 5 tópicos simples para você deixar pronto para a próxima consulta:

  1. Qual é o sintoma: em poucas palavras.
  2. Qual a frequência: com que frequência você o sente? É algo que você percebe apenas duas vezes por mês? Várias vezes por dia? Durante o dia inteiro todos os dias?
  3. Intensidade: esse é um problema menor ou algo grave? Se você classificá-lo em uma escala de um a cinco, onde cai? Se a intensidade variar, observar isso em detalhes a cada ocorrência.
  4. Duração: este é um problema que dura apenas alguns minutos ou continua por muitas horas ou dias? Quando isso acontece, ele vem e vai, ou continua sem parar?
  5. Padrão: Você pode identificar algum padrão relacionado a quando e por que o sintoma ocorre? Isso só acontece a uma determinada hora do dia? Isso ocorre logo após você tomar seus medicamentos? Se é um sintoma gastrointestinal, existe algum padrão relacionado à ingestão de determinados alimentos ou bebidas? O seu nível de atividade física afeta isso? Isso ocorre apenas à noite?

Interações medicamentosas

Alguns medicamentos reagem entre si, ou interagem com suplementos, drogas ou fitoterápicos. Essa reação é chamada de interação medicamentosa.

Essa interação pode afetar como um medicamento é absorvido, utilizado ou metabolizado pelo corpo. E em alguns casos, pode ser um problema.

Por exemplo, um medicamento pode retardar a metabolização de outro. Isso aumenta o nível deste no organismo, o que pode melhorar sua eficácia, mas também pode levar a efeitos colaterais mais intensos.

Uma interação medicamentosa também pode ter o efeito oposto: às vezes acelera o metabolismo de outro. Nesse caso, a eficácia do segundo pode ser diminuída. Se o medicamento é o antirretroviral, pode levar à resistência e a menor opções de tratamento no futuro.

As interações nem sempre são óbvias e podem assumir várias formas. Alguns ocorrem imediatamente; outras não causam problemas perceptível por meses ou anos.

Sempre peça ao seu médico e farmacêutico para verificar possíveis interações com outros medicamentos ou tratamentos, incluindo ervas e suplementos, que você possa estar usando ou deseja utilizar.

Você também pode verificar neste site em português.

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Dr. Richard Portier

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Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

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Fígado e o HIV: como ser um aliado

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Fígado e o HIV: como ser um aliado

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

O fígado é um órgão vital: você não conseguiria viver sem ele. O maior órgão interno sólido do corpo humano, funciona 24 horas, 7 dias por semana, para executar mais de 300 funções.

Ele metaboliza e armazena nutrientes dos alimentos que ingerimos. Ajuda a processar os medicamentos que tomamos. Remove os resíduos do nosso sangue. Decompõem e desintoxica substâncias nocivas. Regula nossos hormônios. Cria proteínas necessárias para o sistema imunológico. Ajuda a combater infecções. Além de diversas outras funções.

Neste artigo vamos conhecer a doença hepática que mais me preocupa na pessoa vivendo com HIV (PVHIV), e como ser um aliado e não um inimigo deste importante órgão.

Como funciona o fígado

Como funciona um filtro d’água?

A água chega através de um cano, onde será filtrado pelo filtro e depois, através de outro pequeno cano dentro do próprio filtro, levará a água ao seu copo. Simples assim.

Agora imagine que esse filtro está endurecido e danificado. A água não conseguirá passar com a mesma facilidade que antes, e também não será filtrada com a mesma qualidade. Resultado: começa a acumular água antes de entrar no filtro, o fluxo estará diminuído e água cheia de toxinas.

O fígado funciona de forma semelhante. O sangue, através das veias (cano), chega ao fígado (filtro), onde será filtrado, e distribuído para o resto do corpo.

Porém, se o fígado estiver endurecido, e danificado, o sangue não conseguirá passar com a mesma facilidade, e também não filtrará com a mesma qualidade. Resultado: começará a acumular nas veias, causando varizes no esôfago e no abdome. Além disso, o fluxo ficará prejudicado, causando inchaço, e o sangue estará cheio de toxinas, causando confusão mental, chamado de encefalopatia hepática.

O fígado endurecido chama-se cirrose hepática. E essa fibrose pode ser causada por diversos motivos, mas os principais são:

  • Uso de álcool, drogas e anabolizantes.
  • Por vírus, sendo os principais, a hepatite B e a hepatite C.
  • Gordura no fígado, chamada de esteatose hepática, causada pelo sobrepeso e obesidade.
  • Medicamentos.
  • Exposição química.
  • Causas genéticas.

Fígado e o HIV

Dentre as principais causas, a esteatose hepática, conhecida como gordura no fígado, é a que eu tenho realizado diagnósticos. Principalmente na faixa etária entre os 25 e 40 anos.

No estudo “Prevalence and risk factors of nonalcoholic steatohepatitis with significant fibrosis in people with HIV” publicado na AIDS em outubro de 2022, entre 282 PVH, 100 (35,5%) estavam com esteatose hepática. O principal fator de risco para desenvolvê-la foi o aumento da circunferência abdominal, maior que 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres.

Isso me preocupa, pois, esse acúmulo de gordura no fígado traz duas consequências importantes: fibrose do fígado e aumento do risco cardiovascular.

No mesmo estudo, 19 (6,7%) PHV estavam com grau 2 ou mais de fibrose, considerado pelos autores como significativo. O principal fator de risco para desenvolvê-la foi a diabetes. Na revisão “Causes and outcomes of hepatic fibrosis in persons living with HIV” publicado na Current Opinion in HIV and AIDS em outubro de 2022, uma das principais causas encontradas de fibrose hepática foi a esteatose.

Além disso, o artigo “Dangerous liaisons: NAFLD and liver fibrosis increase cardiovascular risk in HIV”, publicado na HIV Medicine em fevereiro de 2022, concluiu que a esteatose hepática e a fibrose hepática são fatores para aumentar o risco cardiovascular. Ou seja, ter gordura no fígado pode aumentar a chance de um evento como o infarto e o AVC.

Diagnosticando danos no fígado

Por isso o diagnóstico é fundamental. Eu solicito o exame de ultrassom para todos os pacientes com excesso de gordura corporal, aumento da circunferência abdominal, hipertrigliceridemia, síndrome metabólica ou alterações em TGO e TGP. Caso o paciente tenha diabetes, eu solicito a elastografia hepática para o diagnóstico da fibrose.

Seja um aliado do seu fígado

Acredite, você pode fazer muito para proteger o seu fígado. Para isso, elimine o maior número possível de fontes de toxicidade.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o acompanhamento médico

A cada 6 meses, no mínimo, seu médico solicitará vários exames de sangue para avaliar danos ou inflamação no seu fígado, que servem para realizar o diagnóstico precoce da lesão hepática.

Os principais são: TGO, TGP, bilirrubinas, albumina e RNI. Outros podem ser indicados, de acordo com a indicação médica.

Esses exames são ainda mais importantes se você já possui dano no fígado – devido à hepatite, consumo de álcool ou drogas, ou esteatose hepática, por exemplo.

Quanto mais cedo você realizar o diagnóstico, mais cedo irá iniciar o tratamento e as mudanças no estilo de vida.

Cesse o tabagismo, o uso de álcool, drogas e esteróides anabolizantes

O cigarro, o uso de álcool, drogas e esteróides anabolizantes são fatores de risco para desenvolver a lesão hepática. Portanto, cesse o uso.

Tome a vacina contra a hepatite A e B

As vacinas para hepatite A e hepatite B são amplamente distribuídas pelo SUS, e são indicadas para as PVHIV.

Por isso, tome as vacinas. É uma forma fácil de prevenção.

Reduza a exposição à substâncias químicas

Se possível, evite ser exposto a produtos químicos ou reduza sua exposição.

No local de trabalho, ou em outros lugares, evite ser exposto a vapores químicos, como gasolina, solventes, pesticidas e herbicidas. Reduza sua exposição usando equipamentos de proteção individual.

Evite tomar medicamentos desnecessários

Todos os medicamentos são metabolizamos pelo fígado.

Quando menos medicamentos você tomar, menos seu fígado trabalhará e terá toda sua força voltada para metabolizar seus antirretrovirais.

Exercite-se regularmente

Realizar atividade física regularmente ajuda a diminuir a esteatose hepática e aumenta a sensibilidade à insulina das células. Portanto, quando você se exercita, menos insulina é necessária para manter seus níveis de açúcar no sangue sob controle e você queima gordura no fígado.

Portanto, planeje seu programa de exercícios e converse com o seu médico.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça exercícios de fortalecimento muscular em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Mantenha um peso saudável

O excesso de gordura na barriga leva ao acúmulo de gordura no fígado.

Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%.

Coma alimentos que ajudam o fígado

Ter uma alimentação bem equilibrada que inclua frutas e vegetais, boas fontes de proteínas e gorduras boas será fundamental para você evitar a esteatose hepática e a resistência à insulina.

Consuma uma variedade de frutas e vegetais coloridos para fornecer antioxidantes que protegem o fígado e ajudam no processo de detoxificação.

Além disso, a fibra desses alimentos ajudam a eliminar toxinas através do intestino, reduzindo a carga de trabalho do fígado. Alguns suplementos, como o psyllium, ou farelo de aveia, podem aumentar sua ingestão de fibras.

As gorduras boas do azeite, nozes, sementes, abacates e peixes gordos são mais fáceis para o fígado processar e ajudam a criar membranas celulares ao redor de suas células. 

Por outro lado, gorduras ruins, como gorduras trans, são responsáveis pelo aumento de lipídeos e a esteatose hepática, por isso, tire-as da sua alimentação.

Beba chás e café, e troque os doces por chocolate com 70% de cacau – todos são ricos em antioxidantes.

Se possível, escolha alimentos orgânicos, pois não contêm os pesticidas que são pulverizados em muitas frutas, vegetais e grãos, ou os resíduos de antibióticos encontrados em carnes, frangos, ovos e peixes.

Os alimentos orgânicos tendem a ser mais caros, e eu sei. Muitos não podem pagar. Mas se você puder comprar orgânicos ocasionalmente, priorize maçãs, aipo, pimentão, pêssego, morango, nectarina, uva, espinafre, alface, pepino e batata, pois são os que mais absorvem pesticidas.

Por fim, certifique-se de beber bastante água para ajudar a eliminar as toxinas.

Evite alimentos que prejudicam o fígado

O xarope de milho e o açúcar branco são os grandes vilões, por isso reduzir o consumo é necessário. Ambos estão na maioria dos alimentos industrializados e processados, como sucos, refrigerantes, sorvetes, bolos, biscoitos, barras de chocolate, cereais matinais e doces.

Quantidades significativas também são encontradas em frios, condimentos, sopas e legumes enlatados, maionese, molhos para salada, ketchup e muitos pães comerciais. Portanto, para reduzir a ingestão de açúcar, coma comida de verdade.

Ao ler rótulos, lembre-se de que todos esses são açúcares: xarope de milho, xarope de milho com alto teor de frutose, xarope de glicose/frutose, sacarose, glicose, frutose, dextrose, maltose, suco de cana evaporado, açúcar de cana, açúcar de beterraba, maltodextrina, açúcar de milho, malte de cevada, caramelo e xarope de alfarroba. Se você ver algum, fuja!

Para pessoas com doença hepática moderada ou grave, certas restrições alimentares podem ser necessárias, como uma dieta pobre sal, assim como a quantidade de proteína que você consome pode precisar ser limitada.

Utilize suplementos

O estudo “Vitamin E is an effective treatment for nonalcoholic steatohepatitis in HIV mono-infected patients”, publicado na AIDS em fevereiro de 2020, demonstrou benefício de suplementar vitamina E 800 UI na PVHIV com esteatose hepática.

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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Rins e o HIV: mitos e verdades

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ARTIGOS

Rins e o HIV: mitos e verdades

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Os rins são incríveis filtros do nosso corpo – processam quase 200 litros de sangue todos os dias e filtram quase dois litros de resíduos e água em excesso, que depois se tornam urina. Se os rins não estão funcionando bem, esses resíduos se acumulam no sangue e danificam o corpo.

Também desempenham outros papéis cruciais: regulam os níveis de minerais, produzem o hormônio que estimula a produção de sangue, ajudam a regular a pressão sanguínea e transformam a vitamina D para a sua forma ativa.

Por isso, monitorar sua função renal e manter esses órgãos poderosos em bom funcionamento é essencial para a sua saúde a longo prazo.

Neste artigo você irá aprender como o HIV contribui alterações renais, de forma direta e indireta, e como você pode preveni-las com mudanças nos seus hábitos de vida.

Rins e o HIV

Apesar da terapia anti-retroviral, as pessoas vivendo com HIV (PVHIV) permanecem em maior risco de doenças renais agudas e crônicas, devido à polimorfismos genéticos, a própria infecção pelo HIV e alguns antirretrovirais.

Além disso, como o HIV pode infectar células renais, o rim serve como um reservatório viral.

Nos últimos anos, muito progresso foi feito na elucidação do mecanismo pelo qual o HIV infecta células renais e os fatores virais, e individuais, que promovem o desenvolvimento de doenças renais, principalmente a nefropatia associada ao HIV (NAHIV).

Agora, vamos discutir um a um. E não se assuste com os termos – caso ache complexo ou difícil, leia atentamente e comece a se familiarizar com os termos. Com o tempo, tudo ficará mais fácil. 

Como o HIV infecta as células dos rins?

Vários estudos estabeleceram que o HIV pode infectar células renais in vitro e in vivo, e modelos animais sugerem que algumas proteínas do HIV tem um papel central como causa da nefropatia associada ao HIV.

A infecção pelo vírus no rim se estende além de seu papel na doença renal, porque as tentativas de curar as pessoas precisarão abordar o rim como um local que pode abrigá-lo.

No entanto, as células renais normalmente não expressam os receptores e co-receptores clássicos do HIV, ou seja, a questão de como o vírus entra nas células permanece sem solução.

Ray et al demonstram que a incubação de macrófagos infectados pelo HIV com células renais resultou em infecção.

Hubner et al. demonstraram recentemente que, a transferência do RNA viral e a subsequente ativação das proteínas do HIV aumentaram acentuadamente nas células renais expostas a linfócitos infectados.

Além disso, a transferência do material viral dos linfócitos CD4 para as células renais exigiu contato estável célula-célula. Portanto, é provável que a infecção pelo HIV nas células renais seja iniciada por transferência de leucócitos.

Outro grupo demonstrou recentemente que células renais podem absorver linfócitos destruídos e infectados pelo HIV in vitro.

O papel das proteínas do HIV no processo inflamatório

Tat e Vpr são proteínas virais que têm papéis importantes no ciclo de vida do HIV, e no processo inflamatório crônico desencadeado pelo vírus.

Enquanto a Tat induz citocinas pró-inflamatórias, o Vpr causa autodestruição celular (apoptose).

Toda essa expressão de vários mediadores pró-inflamatórios são mediadas pelo fator nuclear kappa B.

Lembre-se: a terapia antirretroviral é a melhor forma de suprimir todos os eventos descritos.

Susceptibilidade genética à nefropatia associada ao HIV

Desde a primeira descrição da nefropatia associada ao HIV em 1984, há uma predileção para pessoas de ascendência africana para a doença renal.

A recente descoberta de que polimorfismos genéticos na apolipoproteína L1 (APOL1), localizada no cromossomo 22, explicam a maior parte da suscetibilidade genética dos negros a várias formas de doença renal não diabética, incluindo o NAHIV.

Ou seja, pessoas que possuem duas cópias de um alelo APOL1 têm um risco 50% maior de desenvolver NAHIV na ausência da terapia anti-retroviral em comparação com pessoas com zero ou um alelo de risco.

No entanto, apesar dessa forte associação, o mecanismo pelo qual esses polimorfismos conferem risco permanece desconhecido.

Além disso, alguns investigadores encontraram evidências de aumento do risco associado a polimorfismos MYH9.

Os antirretrovirais

Quando se fala em rim, com certeza se fala em tenofovir.

Embora seja bem tolerado, aproximadamente de 0,7 a 10% das pessoas podem desenvolver alterações renais induzidas pelo tenofovir, incluindo aumento da excreção de proteínas e/ou hiperfosfatúria (perda de fosfato pela urina).

Isso acontece devido a lesão causada pelo tenofovir na mitocôndria da célula renal e demonstrado pela observação em biópsias renais de pessoas com nefrotoxicidade ao tenofovir – essas mitocôndrias estavam inchadas com perda proeminente de crista, assim, perdendo suas funções e aumentando o estresse oxidativo.

Já os inibidores de protease são pouco solúveis em solução aquosa e, portanto, podem criar cristais, que causam pedra no rim.

Relatou-se que o indinavir estava associado a várias doenças renais agudas e/ou crônicas, incluindo nefrolitíase, insuficiência renal aguda devido à obstrução tubular aguda por cristais e nefrite tubulointersticial crônica devido à oclusão crônica dos túbulos renais por cristais.

Associou-se ao atazanavir o aumento do risco de nefrolitíase e ao desenvolvimento de doença renal crônica em alguns estudos, porém foi atenuado em pessoas que pararam de tomá-lo, sugerindo que o dano é reversível.

Outros medicamentos e drogas

Muitos outros medicamentos e drogas causam problemas renais, como anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), alguns antibióticos, diuréticos, aciclovir ou valaciclovir intravenoso, o antifúngico anfotericina B, alguns suplementos para perda de peso, cocaína, heroína e anfetaminas, entre muitos outros.

Além disso, medicamentos que normalmente não causam danos nos rins, podem interagir uns com os outros e, assim, causar danos. Por isso é tão importante que o seu médico e farmacêutico conheçam todos os medicamentos e drogas que você está tomando e usando.

Tabagismo e álcool

O tabagismo é um fator de risco para doença renal.

Quando consumido em grandes quantidades, o álcool também pode danificar os rins.

Pressão alta e diabetes

Pressão alta e diabetes são as duas principais causas de insuficiência renal no mundo.

Hepatite C

A infecção pela hepatite C pode danificar não apenas o fígado, mas também os rins. As PVHIV co-infectadas com hepatite C têm um risco aumentado de doença renal crônica e insuficiência renal.

Diagnosticando alterações renais

Alterações na função renal raramente causam sinais e sintomas. O corpo pode funcionar muito bem com apenas 50% da função renal normal. É por isso que muitas pessoas doam um rim.

No entanto, os sintomas surgem quando a função renal cai para menos de 25%. Quando cai para 10 a 15%, é necessário hemodiálise até que o transplante renal aconteça.

Os sintomas que ocorrem durante a insuficiência renal aguda ou crônica são:

  • Pouco volume da urina ao urinar.
  • Necessidade de urinar com mais ou menos frequência.
  • Cansaço ou sonolência.
  • Perda de apetite, náusea e vômito.
  • Inchaço nas mãos ou pés.
  • Sensação de coceira ou dormência.
  • Dificuldade de concentração.
  • Cãibras.
  • Palidez.

Se você sentir algum destes sintomas, procure atendimento médico urgente.

Para rastrear danos nos rins, seu médico irá solicitar, a cada 6 meses, os exames de creatinina, ureia e uma amostra de urina.

Pedras nos rins

Pedras nos rins são um problema diferente, não relacionado a danos renais crônicos. Se você já deve, assim como eu, sabe da dor intensa causada por essas pequenas pedras.

Uma pedra no rim é uma massa sólida composta por pequenos cristais que se unem, formando pedras tão pequenas como um grão de sal ou tão grande quanto um limão. Uma ou mais pedras podem sair do rim, e migrar para o ureter, causando a cólica renal.

Pessoas que não bebem líquidos suficientes têm maior probabilidade de desenvolver pedras nos rins.

Sabe-se também que alguns antirretrovirais causam cálculos renais, como o indinavir e, muito menos frequente, o atazanavir.

Os sintomas incluem:

  • Dor intensa que começa subitamente e pode desaparecer de repente, como uma cólica. Sente-se a dor na região lombar, nas laterais ou na barriga e também pode ser sentida na região da virilha.
  • Micção difícil ou dolorosa ou incapacidade de urinar.
  • Urina escura
  • Náusea e vômito.

Se você desenvolver esses sintomas, vá imediatamente para o pronto atendimento.

Protegendo os seus rins

Acredite, você pode fazer muito para manter os seus rins saudáveis – seu corpo filtrará e expelirá resíduos adequadamente e produzirá os hormônios para ajudar seu corpo a funcionar.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o tratamento

Apesar das evidências demonstrarem que os antirretrovirais podem causar hiperglicemia, no longo prazo, a inflamação crônica, o estresse oxidativo, as alterações hormonais e a AIDS – todos causados pelo HIV – serão muito piores.

Por isso mantenha-se aderente e nunca abandone seu tratamento. Hoje, os antirretrovirais modernos causam muito menos efeitos colaterais do que os antigos.

Faça o acompanhamento médico

A única forma de você saber se algo está dando errado no seu tratamento, ou se você desenvolveu alguma alteração renal, é através dos exames de rotina e o acompanhamento médico.

Seu médico irá solicitar exames de sangue, como a creatinina e a ureia, e uma amostra de urina, para avaliar alguma lesão renal.

E caso seja necessário, realizar a troca do antirretroviral.

Exercite-se regularmente

A atividade física regular diminui o risco de desenvolver doença renal crônica. Também reduz a pressão sanguínea, equilibra sua glicemia e melhora a saúde do seu coração, que são importantes para prevenir danos nos rins.

Se você já tem problemas renais, converse com o seu médico sobre o que é apropriado para você antes de iniciar um programa de exercícios.

Se você estiver liberado, planeje-o.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça treinamento de força progressivo em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Controle sua glicemia

Por falar em glicemia, a diabetes e a resistência à insulina podem causar danos nos rins, sendo uma das principais causas de insuficiência renal no Brasil. 

Quando as células do seu corpo não conseguem usar a glicose no seu sangue, seus rins são forçados a trabalhar mais para filtrá-lo. Após anos de esforço, isso causa dano renal.

No entanto, se você controlar a glicemia, reduzirá bastante o risco. Além disso, se o dano for detectado precocemente, seu médico tomará medidas para reduzir ou evitar danos adicionais.

Você diminui sua glicemia mudando seus hábitos de vida, como:

  • Alimentação saudável.
  • Exercícios físicos.
  • Controle do peso.
  • Limitar o consumo de álcool.
  • Abandonar o uso de drogas e o tabagismo.

Monitore sua pressão arterial

Além da diabetes, a pressão alta também causa danos nos rins, e também é uma das principais causas de insuficiência renal no Brasil. E caso ocorra com outros problemas de saúde, como a própria diabetes, doenças cardíacas ou colesterol alto, o dano é ainda maior.

Por isso você precisa monitorar sua pressão arterial nas consultas médicas e fazer alterações nos hábitos de vida, como:

  • Alimentação saudável.
  • Exercícios físicos.
  • Controle do peso.
  • Evitar o estresse.
  • Limitar o consumo de álcool.
  • Abandonar o uso de drogas e o tabagismo.

E, caso seja necessário, utilizar anti-hipertensivo.

Mantenha um peso saudável

Pessoas com sobrepeso ou obesidade estão em risco para diversos problemas de saúde que danificam os rins, como a pressão alta, diabetes, doenças cardíacas e colesterol alto.

Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%.

Beba bastante água

Não há mágica por trás do clichê de beber oito copos de água por dia, mas é uma boa meta porque incentiva a se manter hidratado. A ingestão regular e consistente de água é saudável para os rins.

A água ajuda a eliminar sal e toxinas. Também reduz o risco de doença renal crônica.

Procure beber pelo menos de 1,5 a 2 litros por dia. Porém, a quantidade exata depende muito da sua saúde e estilo de vida. Fatores como clima, exercícios, sexo, saúde geral e se você está ou não grávida ou amamentando são importantes ao planejar sua ingestão diária de água.

Se você já teve pedras nos rins, beba um pouco mais para ajudar a evitar depósitos de cristais.

E lembre-se: água, chá ou café. Todos os outros líquidos devem ser evitados.

Pare de fumar

Fumar danifica os vasos sanguíneos do seu corpo. Isso leva a um fluxo sanguíneo mais lento nos rins.

Além disso, fumar também aumenta sua chance de câncer nos rins. Se você parar de fumar, seu risco cairá.

Por isso, pare de fumar.

Cuidado com os medicamentos sem receitas

Se você toma muitos analgésicos, está causando danos nos seus rins. Os anti-inflamatórios não esteróides, como o ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida e naproxeno podem danificar os rins se você os toma regularmente para qualquer tipo de dor.

Cuidado com os medicamentos sem receitas. Sempre converse com o seu médico sobre quais são os ideais para você, principalmente se está em uso do tenofovir.

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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Testosterona e o HIV: o que você precisa saber

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ARTIGOS

Testosterona e o HIV: o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Os nossos hormônios são como mensageiros: viajam pelo corpo para avisar as células quais tarefas devem realizar. Por isso influenciam em tudo – nosso sistema imunológico, nossa energia, nosso humor, quão bem dormimos, nosso desejo sexual, nossa fome, a força de nossos músculos, a saúde de nossos ossos e muitos outros aspectos de nossa vida.

A deficiência de testosterona, chamada de hipogonadismo, é muito negligenciada no homem vivendo com HIV (HVHIV).

Isso acontece com mais frequente nas pessoas que realizaram o diagnóstico na fase AIDS, e com probabilidade menor nas diagnosticadas precocemente. 

Qualquer que seja o estágio do seu diagnóstico, é uma boa ideia testar seus níveis de testosterona, e se necessário, restaurar esse equilíbrio.

Neste artigo você irá aprender qual a prevalência, os fatores de riscos, os sinais e sintomas e como tratar o hipogonadismo no HVHIV.

Usarei como referência o livro “Endocrinologia clínica”, 7.ª edição e o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição, além de outros artigos específicos.

Testosterona e o HIV

O artigo “Hypogonadism: a neglected comorbidity in young and middle-aged HIV-positive men on effective combination antiretroviral therapy, publicado na revista AIDS em julho de 2022, nos demonstra qual é a prevalência e o fatores de risco associados ao hipogonadismo no HVHIV.

Neste estudo, 231 homens vivendo com HIV com idade entre 18 e 50 anos estavam com a carga viral indetectável (abaixo de 50 cópias/mL) em terapia antirretroviral por pelo menos 6 meses. O hipogonadismo foi definido, de acordo com as diretrizes, como uma concentração média calculada de testosterona livre no sangue inferior a 7,0 ng/dL.

Dos 231 homens, 20 (8,7%) estavam com hipogonadismo exclusivamente de origem secundária. Os fatores de risco para o hipogonadismo foram: idade superior a 43 anos, percentual de gordura total superior a 19% e tratamento incluindo efavirenz.

O que podemos concluir a partir deste estudo? Primeiro, que devemos solicitar o exame de testosterona total e testosterona livre para HVHIV com sintomas de hipogonadismo ou que apresentam os fatores de risco citados para realizar o diagnóstico.

Segundo, manter um percentual de gordura abaixo de 19% é fundamental para o tratamento. Mas o mais importante, para prevenir o problema. Por isso eu insisto tanto no treino de força para ganhar massa muscular, dieta para perder gordura corporal e suplementação para melhorar a performance. Dessa forma você alcançará e manterá uma boa composição corporal e níveis de testosterona.

Terceiro, se você utiliza o efavirenz e está com a deficiência, substituí-lo por outro antirretroviral, como o dolutegravir ou o darunavir, será fundamental para melhorar os níveis de testosterona.

Sinais e sintomas do hipogonadismo

Existem vários sinais e sintomas no hipogonadismo. Podemos dividi-los em 3 grupos: específicos, sugestivos e inespecíficos.

  • Específicos: desenvolvimento sexual incompleto ou atrasado; perda de pelos corporais (axilares e pubianos); e testículos muito pequenos (< 6 mL).
  • Sugestivos: diminuição da libido e da atividade sexual; redução de ereções espontâneas durante o sono; disfunção erétil; desconforto mamário; ginecomastia; incapacidade de gerar filhos; baixa contagem de espermatozoides; perda de altura, fratura de baixo traumatismo; diminuição da densidade óssea; fogachos; suores.
  • Inespecíficos: diminuição da energia, motivação, iniciativa e autoconfiança; sensação de tristeza, humor depressivo, transtorno depressivo persistente de baixo grau; dificuldade de concentração e memória; distúrbios sono e sonolência excessiva; aumento da gordura corporal; obesidade abdominal; diminuição da massa e força musculares; anemia leve, sem causa aparente.

Apresentando os sintomas, o diagnóstico será realizado através dos exames de testosterona total e testosterona livre.

Se você está sentindo estes sintomas, converse com o seu médico.

Melhore seus níveis de testosterona no sangue

Acredite, você pode fazer muito para manter bons níveis de testosterona no sangue.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o acompanhamento médico

Apesar de não ser protocolar a solicitação dos exames de testosterona no HVHIV, eu solicito rotineiramente para os meus pacientes. Quanto mais cedo você realizar o diagnóstico, mais cedo irá iniciar o tratamento e as mudanças no estilo de vida.

Exercite-se regularmente

Realizar atividade física é a principal forma de aumentar a testosterona naturalmente.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça exercícios de fortalecimento muscular em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Mantenha um bom percentual de gordura

Nós vimos anteriormente que o excesso de gordura corporal é um fator de risco associado ao hipogonadismo.

Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%

Cesse o tabagismo, o uso de álcool e drogas

O cigarro, o uso de álcool e drogas pioram os níveis de testosterona. Portanto, cesse o uso.

Terapia de reposição de testosterona (TRT)

Realizado o diagnóstico do hipogonadismo (deficiência de testosterona), a terapia de reposição de testosterona (TRT) visa, principalmente, restaurar níveis normais do hormônio, melhorar a qualidade de vida e reduzir a mortalidade do homem que vive com HIV.

A testosterona pode ser administrada pela via oral, bucal, nasal, intramuscular, transdérmica (gel ou adesivos) ou subcutâneas (implantes ou subcutâneas). 

Porém, antes, é necessário escolher uma das formas de apresentação. E todas possuem vantagens e desvantagens, por isso a conduta precisa ser individualizada.

Entre as intramusculares, o undecilato de testosterona (Nebido®) tem a vantagem da maior comodidade posológica, já que pode ser administrada a cada 10 a 14 semanas. Também mantém menor oscilação nos níveis séricos do hormônio e, portanto, resposta mais estável e mais satisfatória. Porém, seu custo é o mais elevado quando comparado ao Durateston® (fenilpropionato + isocaproato + propionato + decanoato de testosterona) ou Deposteron® (cipionato de testosterona). Esse custo inferior é o principal benefício dessas duas apresentações. As desvantagens são: os níveis séricos altamente variáveis, o que propicia flutuações na libido, no humor e na qualidade de vida; episódios de tosse após a aplicação; e o maior risco de eritrocitose.

O gel de testosterona a 1% (Androgel®) tem a vantagem de manter níveis séricos mais estáveis, porém apresenta custo elevado, pode causar reações alérgicas cutâneas e necessita aplicação diária. Além disso, existe a possibilidade de transferência para terceiros, como parceiros sexuais ou filhos.

A seguir está um resumo das principais apresentações:

Testosterona em gel 1% (Androgel®)

  • Posologia: aplicar 1x ao dia 5 g de gel. Se necessário, a dose pode ser ajustada para 7,5, e, subsequente, 10 g/dia. Eventualmente, reduz-se a dose de 5 para 2,5 g/dia.
  • Vantagens: conveniente, eficaz, mimetiza o ritmo circadiano, facilidade de aplicação, boa tolerabilidade cutânea, causa menos eritrocitose que a testosterona injetável.
  • Desvantagens: transferência por contato de pele; irritação de pele.

Cipionato de testosterona (Deposteron®)

  • Posologia: 200 mg IM, a cada 2 a 3 semanas; raros pacientes precisarão de 100 mg IM a cada 7 dias.
  • Vantagens: eficaz, facilidade de aplicação, baixo custo.
  • Desvantagens: níveis séricos altamente variáveis, o que propicia flutuações na libido, no humor e na qualidade de vida.

Fenilproprionato + isocaproato + propionato + decanoato de testosterona (Durateston®)

  • Posologia: 250 mg IM, a cada 2 a 3 semanas; raros pacientes precisarão de 125 mg IM a cada 7 dias.
  • Vantagens: eficaz, facilidade de aplicação, baixo custo.
  • Desvantagens: níveis séricos altamente variáveis, o que propicia flutuações na libido, no humor e na qualidade de vida.

Enantato de testosterona (Nebido®, Hormus®)

  • Posologia: 1000 mg IM inicialmente, seguido de 1000 mg IM após 4 a 6 semanas; em seguida 1000 mg IM a cada 10 a 14 semanas.
  • Vantagens: comodidade posológica, níveis estáveis de testosterona.
  • Desvantagens: custo elevado.

Benefícios, os riscos e as contraindicações da terapia de reposição hormonal

Assim como qualquer tratamento medicamentoso, a terapia de reposição hormonal apresenta benefícios, riscos e contraindicações.

Benefícios: desenvolvimento ou manutenção das características sexuais secundárias; melhora da libido e da função sexual; aumento de massa e força muscular; aumento da densidade óssea; diminuição da gordura corporal e visceral; melhora do humor; efeito nas funções cognitivas e na qualidade de vida.

Riscos: retenção de líquidos; aumento da hemoglobina e do hematócrito (eritrocitose); ginecomastia; acne ou pele oleosa; diminuição do colesterol HDL; agravamento ou precipitação da apneia obstrutiva do sono; hiperplasia prostática benigna.

Riscos controversos: aumento do risco cardiovascular; carcinoma de próstata; comportamento agressivo.

Contraindicações:

  • Desejo de procriar no curto prazo.
  • Câncer de mama ou de próstata diagnosticado.
  • Eritrocitose (hematócrito > 54%).
  • Pacientes sem avaliação urológica adicional que apresentem nódulo ou endurecimento palpável na próstata, ou PSA > 4 ng/mL ou > 3 ng/mL em negros ou homens com parentes de primeiro grau com história de câncer de próstata.
  • Hiperplasia prostática benigna com sintomas do trato urinário inferior intensos.
  • Insuficiência cardíaca classe IV da NYHA.
  • Evento cardiovascular nos últimos 6 meses.
  • Apneia obstrutiva do sono não tratada.
  • Nenhuma melhora, apesar da adequada TRT.

Por isso que antes de iniciar a TRT, é necessário investigar o desejo de procriar, apneia obstrutiva do sono, história pessoal ou familiar de câncer de próstata ou mama, sintomas de hiperplasia prostática benigna e de insuficiência cardíaca. Além disso, uma avaliação laboratorial essencial para determinar valores de hemoglobina, hematócrito e PSA (a partir dos 40 anos). Deve ser realizado também um exame prostático digital a partir dessa idade.

Monitoramento da terapia de reposição de testosterona

Como qualquer tratamento, é necessário avaliar a eficácia e ajustar a dose, caso necessário, de preferência a cada 3 meses.

Além disso, é necessário o monitoramento dos efeitos colaterais, por causa das possíveis contraindicações.

Exame digital retal:

  • Não existem dados disponíveis sobre os benefícios em homens saudáveis com idade < 40 anos.
  • Realizar, antes do início do tratamento, em homens entre 40 e 49 anos que sejam negros ou que tenham parentes de 1º grau com câncer de próstata ou níveis basais de PSA > 0,6 ng/dL.
  • Realizar, antes do início do tratamento, em todos os homens com idade acima de 50 anos.
  • Repetir 3 a 6 meses após o início do tratamento e depois anualmente; interromper a terapia se forem detectados nódulos ou endurecimento prostático.

Níveis de PSA:

  • Verificar, antes do início do tratamento, em todos os homens com idade acima de 40 anos.
  • Avaliar com 3 a 12 meses após o início do tratamento.
  • Encaminhar ao urologista diante do aumento do PSA em 1,4 ng/mL, ou acima de 4 ng/mL.

Hematócrito:

  • Verificar, antes do início do tratamento, para excluir o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono, hipoxemia e distúrbios hematológicos.
  • Verificar a cada 3 a 6 meses após início do tratamento.
  • Interromper se hematócrito > 54%; se o valor voltar ao normal, o tratamento pode ser recomeçado em uma dose mais baixa.
  • Em casos selecionados, a flebotomia terapêutica pode ser considerada.

Sintomas graves do trato urinário inferior: descontinuar caso apresente sintomas.

Apneia obstrutiva do sono: pesquisar sintomas como roncos noturnos, sonolência diurna, etc.

Densidade óssea: solicitar exame de densitometria óssea, se indicado, antes do tratamento e a cada 1 a 2 anos.

Tratamento do hipogonadismo induzido por esteróides anabolizantes

O tratamento do hipogonadismo induzido por esteróides anabolizantes é diferente do que vimos anteriormente.

A primeira fase do tratamento, com duração de 4 semanas, é realizada com um modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM), como o citrato de clomifeno 25 mg/dia ou 50 mg em dias alternados. Esse medicamento estimula a produção de LH, e consequentemente, pode aumentar os níveis de testosterona. Caso o paciente apresente sintomas de hipogonadismo, a testosterona em gel pode ser necessária.

Após 4 semanas de tratamento com SERM, com ou sem TRT associado, solicita-se novos exames de testosterona e LH. Caso o paciente não apresente resposta, acrescenta-se hCG 1000 a 3000 UI 3x por semana. Contudo, devido a limitação da apresentação nessa posologia, tem-se indicado 5000 UI 1 x por semana. Além disso, a TRT é suspensa.

Após 8 semanas, solicita-se novos exames. Se resposta, reduzir o SERM em 50% na 10.ª de tratamento. Entre a 12.ª e 16.ª semana de tratamento, novamente novos exames, e se atingido o alvo de testosterona, o SERM é suspenso.

Se, em 12 a 16 semanas de tratamento os níveis de testosterona não se normalizarem, há falência testicular primária por toxicidade dos esteróides anabolizantes. Nessa situação a TRT pode ser necessária de forma permanente.

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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

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Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Diabetes e o HIV: como prevenir

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ARTIGOS

Diabetes e o HIV: como prevenir

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Quando comemos, nosso corpo converte o carboidrato dos alimentos em um tipo específico de açúcar – a glicose – que é transportada para as células do corpo, fornecendo a energia necessária para o seu funcionamento.

Porém, ter muita glicose no sangue – condições chamadas de resistência à insulina (pré-diabetes) e diabetes – causa graves problemas na saúde e na vida.

Por isso você precisa evitá-las. Mas caso já tenha desenvolvido, é possível controlá-las, principalmente através da alimentação, exercícios físicos, e para algumas pessoas, medicamentos.

Neste artigo você irá aprender qual a incidência da diabetes nas pessoas vivendo com HIV (PVHIV), quais os fatores de risco, como diagnosticá-las e como você pode preveni-las e tratá-las com mudanças nos seus hábitos de vida e medicamentos.

Usarei como referência o livro “Endocrinologia clínica”, 7.ª edição e o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição, além de outros artigos específicos.

Como acontece a resistência à insulina e a diabetes

Quando a glicemia aumenta no sangue após a ingestão de carboidratos, o pâncreas libera um hormônio chamado insulina, que transporta a glicose para dentro das células dos músculos, gordura e fígado, onde será usada como energia.

A resistência à insulina ocorre quando as células dos músculos, gordura e fígado não respondem bem ao hormônio e não conseguem absorver facilmente a glicose do sangue. Como resultado, seu pâncreas produz mais insulina para ajudar a glicose a entrar nas células.

Enquanto seu pâncreas puder produzir insulina suficiente para superar a fraca resposta das suas células, seus níveis de glicose no sangue permanecem normais.

Porém, em um determinado momento, o pâncreas entra em exaustão e deixa de produzir a insulina. Isso é chamado de diabetes.

Como a pessoa não tem insulina para retirar o glicose do sangue, esta se eleva e resulta em hiperglicemia, que em períodos prolongados, traz danos aos órgãos, vasos sanguíneos e nervos.

Existem três tipos de diabetes:

  • Diabetes gestacional – diabetes que se desenvolve durante a gravidez.
  • Diabetes tipo 1 – doença autoimune que geralmente se desenvolve durante a infância. Ocorre quando o corpo é incapaz de produzir insulina.
  • Diabetes tipo 2 – afeta adultos de meia-idade e idosos, embora possa afetar uma pessoa em qualquer idade. Essa é a forma mais comum e a que focaremos neste artigo.

Diabetes e o HIV

Um número crescente de PVHIV têm desenvolvido a diabetes tipo 2. O artigo “Trends in diabetes incidence and associated risk factors among people with HIV in the current treatment era”, publicado na revista AIDS em novembro de 2022, nos mostra qual é a incidência e os fatores de risco para desenvolvê-la.

Este foi um estudo retrospectivo, de coorte, realizado com pessoas vivendo com HIV de uma clínica do sudeste dos EUA entre 2008 até 2018.

Foram avaliados, através do prontuário eletrônico, as PVHIV que compareceram, pelo menos, a duas consultas médicas. Definiram diabetes como: hemoglobina glicada ≥6,5% e/ou 2 resultados de glicose >200 mg/dl (com pelo menos 30 dias de intervalo); diagnóstico descrito no prontuário; ou uso de medicamentos para o tratamento.

Entre 4113 PVHIV, identificaram 252 casos de diabetes. A incidência aumentou de 1,04 por 1.000 pessoas-ano em 2008 para 1,55 por 1.000 pessoas-ano em 2018.

Índice de massa corporal aumentado, doença hepática, exposição à esteróides anabolizantes e uso de inibidores da integrase foram associados ao maior risco de desenvolver diabetes.

O que podemos concluir? Primeiro, que a incidência de diabetes está aumentando. Neste estudo, aumentou de 1,04 por 1.000 pessoas-ano para 1,55 por 1.000 pessoas-ano em 10 anos. No estudo “Comorbidities and co-medications among 28 089 people living with HIV: A nationwide cohort study from 2009 to 2019 in Japan”, publicado na HIV Medicine em novembro de 2021, entre 28089 PVH, 42,8% tinham diabetes.

Segundo, esse aumento da incidência e a grande prevalência podem ser explicadas pelos dois principais fatores de risco. Hoje, aproximadamente 60% das PVH estão com excesso de gordura e a maioria faz tratamento com inibidores da integrase, como o dolutegravir. Nos homens vivendo com HIV também é frequente o uso de esteróides anabolizantes, outro fator de risco.

Sinais e sintomas da resistência à insulina e a diabetes

A resistência à insulina não causa sintomas. Porém, a diabetes sim. Estes são os sinais e sintomas do diabetes:

  • Sede excessiva que continua apesar de beber muita água.
  • Fome anormal.
  • Aumento da micção (aumento da frequência e do volume de urina).
  • Cansaço ou falta de energia.
  • Visão turva.
  • Perda de peso inexplicada (mesmo quando a pessoa come grande quantidade de alimentos).
  • Ferimentos e contusões que demoram a cicatrizar.
  • Dificuldade em obter ou manter a ereção.
  • Sonolência excessiva.
  • Formigamento nas mãos ou nos pés.

Se você está sentindo estes sintomas, converse com o seu médico.

Diagnóstico da resistência à insulina e a diabetes

O diagnóstico requer dois resultados anormais de glicemia em jejum (GJ), hemoglobina glicada (HbA1c) ou teste oral de tolerância à glicose (TOTG) na mesma amostra ou em duas amostras separadas. Caso os resultados sejam discordantes em testes diferentes, deve ser repetido o teste que estiver alterado.

Glicemia em jejum

A GJ é o meio mais prático para o diagnóstico. Dois valores superiores ou iguais a 126 mg/dL, obtidos em dias diferentes, são suficientes para estabelecer o diagnóstico de diabetes II.

Níveis entre 100 e 125 mg/dL caracterizam glicemia de jejum alterada, sendo necessário realizar o exame de TOTG.

Teste oral de tolerância à glicose

No TOTG, coleta-se uma amostra em jejum e depois administra-se, via oral, 75 g de glicose anidra dissolvidos em 250 a 300 mL de água. Após duas horas, obtém-se uma nova amostra de glicemia.

Nível de glicemia de 2 horas igual ou acima de 200 mg/dL é considerado diabetes II. Entre 140 e 199 mg/dL, resistência à insulina.

Hemoglobina glicada

Para interpretar o resultado da Hb1Ac, é necessário considerar vários fatores. Não se deve usá-lo como diagnóstico na presença de hemoglobinopatias, aumento da produção eritrocitária e disfunção hepática ou renal grave. Valores falsamente altos ocorrem sob suplementação com ferro, vitamina C e E, bem como em idosos (idade acima de 70: HbA1c + 0,4%). O uso de abacavir no tratamento da PVHIV tende a diminuir os valores falsamente.

Valor igual ou acima de 6,5% é considerado diabetes II. Entre 5,7% e 6,4%, resistência à insulina.

Critérios diagnósticos para diabetes II:

  1. Glicemia de jejum igual ou acima de 126 mg/dL, ou
  2. Teste de tolerância à glicose igual ou acima de 200 mg/dL, ou
  3. Hemoglobina glicada igual ou acima de 6,5%, ou
  4. Glicemia ao acaso acima de 200 mg/dL com sintomas de diabetes.

Critérios diagnósticos para resistênca à insulina:

  1. Glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL, ou
  2. Teste de tolerância à glicose entre 140 e 199 mg/dL, ou
  3. Hemoglobina glicada entre 5,7 e 6,4%.

Melhore seus níveis de glicose no sangue

Acredite, você pode fazer muito para manter a sua glicose baixa no sangue, independentemente se ela está aumentada ou não.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o acompanhamento médico

A glicemia em jejum e a hemoglobina glicada são exames solicitados rotineiramente para as PVHIV.

Além disso, baixos níveis de testosterona e vitamina D estão associados à resistência à insulina.

Quanto mais cedo você realizar o diagnóstico, mais cedo irá iniciar o tratamento e as mudanças no estilo de vida.

Diminua o açúcar e carboidratos refinados da sua alimentação

Ao comer muitos alimentos açucarados e carboidratos refinados, você está se colocando em risco para desenvolver a diabetes.

A metanálise “Glycemic index, glycemic load, and chronic disease risk- a meta-analysis of observational studies“, publicado na American Journal of Clinical Nutrition em 2008, constatou que pessoas com maior consumo de carboidratos de digestão rápida tinham 40% mais chances de desenvolver diabetes do que aquelas com menor consumo.

Por isso, diminua o consumo de açúcar e carboidratos refinados da sua alimentação.

Exercite-se regularmente

Realizar atividade física regularmente ajuda a prevenir e tratar o diabetes.

O exercício aumenta a sensibilidade à insulina das células. Portanto, quando você se exercita, menos insulina é necessária para manter sua glicemia sob controle, pois seus músculos irão absorver a glicose.

Se você já está com diabetes, converse com o seu médico sobre o que é apropriado antes de iniciar um programa de exercícios.

Se você estiver liberado, planeje-o.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça exercícios de fortalecimento muscular em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Mantenha um peso saudável

Embora nem todas as PVHIV com diabetes tipo 2 estejam com sobrepeso ou obesos, a maioria está.

Além disso, aqueles com resistência à insulina tendem a ter excesso de gordura na barriga e nos órgãos abdominais, como o fígado. Isso é conhecido como esteatose hepática.

O excesso de gordura visceral promove a inflamação e a resistência à insulina, o que aumenta significativamente o risco de diabetes.

Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%.

Coma mais alimentos ricos em fibras

Comer bastante fibras será essencial para o controle do peso e da glicemia.

A fibra pode ser dividida em duas grandes categorias: solúvel e insolúvel. A fibra solúvel absorve a água, enquanto a fibra insolúvel não.

No trato digestivo, a fibra solúvel e a água formam um gel que diminui a velocidade com que os alimentos são absorvidos. Isso leva a um aumento mais lento dos níveis de açúcar no sangue, ajudando na resposta do corpo à insulina.

Já a fibra insolúvel tem sido associada a reduções nos níveis de açúcar no sangue e a uma diminuição do risco de diabetes, embora não seja claro exatamente como funciona.

Por isso, coma bastante vegetais. Porém se você não está comendo o suficiente, suplementar com psyllium pode ser uma boa opção.

Cesse o tabagismo, o uso de álcool, drogas e esteróides anabolizantes

O cigarro, o uso de álcool, drogas e esteróides anabolizantes são fatores de risco para desenvolver a diabetes. Portanto, cesse o uso.

Tratamento medicamentoso

Além da mudança nos hábitos de vida, o tratamento medicamentoso pode ser necessário.

Hoje contamos com diversos medicamentos com diferentes mecanismos de ação, como as biguanidas, sulfonilureias (SU), inibidores da DPP-4, glinidas, glitazonas, inibidores da α-glicosidase e inibidores do cotransportador 2 de sódio e glicose (iSGLT-2), agonistas do receptor GLP1-1 (GLP-1RA) e insulinas.

O tratamento inicial de escolha é a metformina, além da mudança nos hábitos de saúde. Se o controle glicêmico permanecer inadequado (HbA1Ac > 7% ou acima da meta estipulada) após 3 meses de tratamento, adiciona-se um segundo medicamento de acordo com a característica e necessidade do paciente. Na presença de um descontrole glicêmico maior (diagnóstico com a HbA1Ac > 7,5%), a terapia dupla pode ser considerada inicialmente.

Se a prioridade for a perda de gordura corporal, utiliza-se preferencialmente um GLP-1RA. Se apresentar insuficiência cardíaca ou insuficiência renal crônica, um iSGLT-2. Em caso de alto risco cardiovascular, um GLP-1RA com evidência de benefício cardiovascular. Diante de limitações econômicas, uma glitazona ou um DPP-4.

A seguir estão as principais informações de cada classe de medicamentos:

Biguanidas

Metformina:

  • Formulação: 500 mg, 850 mg e 1 g.
  • Posologia: iniciar 500 mg a 850 mg, e se necessário, fazer ajustes até o controle glicêmico ou a dose máxima (2 g em 2 a 3x por dia), junto com uma refeição.
  • Glifage XR®: mais tolerada por apresentar menos efeitos gastrointestinais.
  • Efeitos colaterais: gastrointestinais, acidose lática, reduz absorção de vitamina B12.
  • Outras considerações: o dolutegravir aumenta a concentração da metformina, aumentando a chance de hipoglicemia.
Sulfonilureias (SU)

Glibenclamida:

  • Posologia: 2,5 a 20 mg/dia, 1 a 2x ao dia.
  • Efeito colateral: hipoglicemia grave.

Glicazida:

  • Posologia: Diamicron MR® 30 a 120 mg, 1x ao dia.

Glimepirida:

  • Posologia: dose inicial de 1 a 2 mg, dose de manutenção 2 a 4 mg, 1x ao dia.
Glitazonas (TZD)

Pioglitazona:

  • Formulação: 15 mg, 30 mg e 45 mg.
  • Posologia: iniciar com 15 a 30 mg, 1x ao dia. Dose máxima de 45 mg.
  • Efeitos colaterais: edema periférico, ganho de peso, piora da insuficiência cardíaca.
  • Outras considerações: tratamento da esteatose hepática.
Inibidores da DPP-4
  • Efeitos colaterais: piora da insuficiência cardíaca.
  • Outras considerações: efeito neutro no peso e não melhoram desfecho cardiovascular.

Vildagliptina (Galvus®):

  • Posologia: 50 mg 2x ao dia.

Sitagliptina (Januvia®):

  • Posologia: 100 mg 1x ao dia.

Saxagliptina (Onglyza®):

  • Posologia: 5 mg 1x do dia.

Linagliptina (Trayenta®):

  • Posologia: 5 mg 1x ao dia.

Alogliptina (Nesina®):

  • Posologia: 25 mg 1x ao dia.
Inibidores do cotransportador 2 de sódio e glicose (iSGLT-2)
  • Outras considerações: atenção em pacientes com taxa de filtração glomerular (TFG) entre 45 e 60. Não utilizar se TFG menor que 45.

Canagliflozina (Invokana®):

  • Posologia: 100 ou 300 mg 1x ao dia.

Dapagliflozina (Forxiga®):

  • Posologia: 5 ou 10 mg 1x ao dia.

Empagliflozina (Jardiance®):

  • Posologia: inicial de 10 mg 1x do dia, até 25 mg 1x ao dia.
  • Reduz evento cardiovascular.
Agonistas do receptor do GLP-1 (GLP-1 RA)
  • Efeitos colaterais: náusea (menor esvaziamento gástrico), vômitos e diarreia.

Liraglutina (Victoza® e Saxenda®):

  • Posologia: 1,2 a 1,8 mg 1x ao dia, SC.
  • Outras considerações: perda de peso, reduz evento cardiovascular e melhora da esteatose hepática.
  • Saxenda® 3 mg/dia para tratamento da obesidade.

Dulaglutida (Trulicity®):

  • Posologia: 1,5 mg 1x por semana, SC.
  • Outras considerações: perda de peso e reduz evento cardiovascular.

Semaglutina (Ozempic®):

  • Posologia: 0,25 a 0,5 mg, até 1 mg, 1x por semana, SC.
  • Outras considerações: perda de peso e reduz evento cardiovascular.
  • Aprovado para o tratamento da obesidade nos EUA.
Metas do tratamento

Essas são as metas do tratamento pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia:

  • HbA1C: < 7
  • Glicemia de jejum: <100
  • Glicemia pré-prandial: <100
  • Glicemia pós-prandial de 2 horas: < 160

Metas mais rigorosas (HbA1Ac) ≤ 6,5%, se alcançáveis com segurança, devem ser vislumbradas para pacientes com curta duração de doença e longa expectativa de vida, sem doença cardiovascular significativa. Isso vale para a maioria das pessoas vivendo com HIV.

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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

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RQE 23.586

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Coração e o HIV: melhore seu colesterol já

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ARTIGOS

Coração e o HIV: melhore seu colesterol já

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Doença cardiovascular é o termo usado para descrever problemas no coração e nos vasos sanguíneos, como o infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco), o acidente vascular cerebral (derrame), angina (dor no peito), cardiomiopatia (coração aumentado), hipertensão (pressão alta) e distúrbios valvares, entre outros.

Mas por que você deve se preocupar? As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos EUA e é uma preocupação crescente para as pessoas que vivem com o HIV (PVHIV), pois a infecção pelo vírus pode ser mais um risco.

A boa notícia é que muitas medidas podem ser tomadas para ajudar a prevenir, principalmente com mudanças de hábitos de vida, como dieta, exercícios físicos e parar de fumar.

Neste artigo você irá aprender como a dislipidemia, que é o aumento das gorduras no sangue, prejudicam o coração e o sistema circulatório, quais são os fatores de risco para desenvolvê-la, como diagnosticá-la e como você pode prevenir problemas cardiovasculares com mudanças nos seus hábitos de vida e o tratamento com estatinas.

Usarei como referência o livro “Endocrinologia clínica”, 7.ª edição e o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição, além de outros artigos específicos.

Como funciona o coração e o sistema circulatório

Imagine o seguinte sistema em uma casa: uma bomba, que bombeia a água até a torneira. Lá, usa-se a água, e pelo ralo, retorna ao centro de purificação. Depois de purificada, retorna à bomba, onde será bombeada novamente.

Porém, algo acontece com a bomba – ela fica mais fraca. Agora, a água não chegará com a mesma força até a pia, e terá dificuldade para voltar até a bomba novamente.

Ou se o cano entupir? A água não chegará na torneira, e a casa ficará sem água.

O nosso sistema circulatório é semelhante. O coração (bomba), bombeia o sangue oxigenado, chamado de sangue arterial, para os demais tecidos através das artérias (canos). Oxigênio que será convertido em energia pelas células.

O resultado dessa reação é o gás carbônico. O sangue então, agora com gás carbônico, chamado de sangue venoso, irá até o pulmão (purificador) através das veias, onde será novamente oxigenado, retornando ao coração onde será bombeado.

Mas se o coração ficar fraco? O sangue não chegará até os tecidos, e terá dificuldade para voltar ao coração. Ou se a artéria entupir por excesso de gorduras? O sangue não chegará ao tecido.

Você não quer que o seu coração fique fraco por causa de um infarto? Nem que as suas artérias entupam, e o sangue não chegue até o cérebro, como em um derrame?

Cuidar do coração, e do sistema circulatório, é fundamental para que o seu corpo se mantenha em pleno funcionamento.

Dislipidemia e o HIV

A dislipidemia é um distúrbio metabólico caracterizado por alteração nos níveis séricos das principais gorduras do sangue, o colesterol e o triglicerídeos.

  • Colesterol HDL, também conhecido como “bom”, remove o colesterol “ruim” do sangue.
  • Colesterol LDL, também conhecido como colesterol “ruim”, acumula nas artérias e leva às doenças cardiovasculares e outros problemas de saúde.
  • Triglicerídeos, que em níveis elevados, também aumentam o risco de doenças cardiovasculares, especialmente se você estiver acima do peso ou com a pressão alta.

O artigo “Prevalence and risk factors of high cholesterol and triglycerides among people with HIV in Texas” publicado na revista AIDS Research and Therapy em setembro de 2022, nos demonstra qual é a prevalência e os fatores associados à dislipidemia na PVHIV.

Entre junho de 2015 e maio de 2018, foram coletados dados de 981 PVHIV que participaram do programa Texas e Houston Medical Monitoring Project (MMP). Consideraram dislipidemia quando o paciente apresentava colesterol total igual ou acima 200 mg/dL, ou triglicerídeos igual ou acima de 150 mg/dL, ou quando registrado em prontuário o tratamento medicamentoso da dislipidemia.

Dos 981 participantes, 41% apresentavam colesterol ou triglicerídeos alto (n = 400). Destes, 40% estavam com sobrepeso ou 36% com obesidade.

Os fatores de risco encontrados foram a idade, índice de massa corporal (IMC) e diabetes (DM). Os pacientes com faixas etárias dos 40, 50 e ≥60 anos tiveram uma prevalência de 57%, 64% e 62% maior de desenvolver dislipidemia, respectivamente, em comparação com aqueles de 18 a 39 anos de idade. Aqueles com sobrepeso (IMC entre 25 e 30 kg/m²) e obesidade (IMC entre acima de 30 kg/m²) tiveram 41% e 30%, respectivamente, chances maiores de desenvolver dislipidemia se comparados com as pessoas com peso normal (IMC entre 18,5 e 25 kg/m²). Por fim, os que apresentavam DM tiveram uma probabilidade quase duas vezes maior de desenvolver dislipidemia em comparação com os não diabéticos.

O que podemos concluir? Primeiro, que a prevalência de dislipidemia é alta nas PVHIV. No estudo “Comorbidities and co-medications among 28 089 people living with HIV: A nationwide cohort study from 2009 to 2019 in Japan”, publicado na HIV Medicine em novembro de 2021, entre 28089 PVHIV, 39,7% tinham dislipidemia, muito próximo deste estudo.

Segundo, esta grande prevalência é explicada pelos principais fatores de risco, o sobrepeso, a obesidade e a diabetes. Hoje, aproximadamente 60% das PVHIV estão com excesso de gordura. E certa de 40% apresentam diabetes.

Diagnóstico da dislipidemia

Para o diagnóstico nós solicitamos o exame chamado perfil lipídico, conhecido também com lipidograma. Esse exame é definido pelas determinações bioquímicas do colesterol total (CT), do HDL-c, do LDL-c e do triglicerídeos (TG).

De acordo com a Atualização da Diretriz de Dislipidemia e Prevenção de Aterosclerose – 2017, os valores de referência desejáveis para adultos com mais de 20 anos de idade são um CT abaixo de 190 mg/dL, HDL-c acima de 40 mg/dL e TG abaixo de 150 mg/dL.

Porém, é a elevação do LDL-c que aumenta o risco de uma PVHIV ter um evento cardiovascular, como um infarto ou um AVC. Por isso que, após calcular através de uma equação qual é o risco cardiovascular de uma pessoa, nós utilizamos o LDL-c como alvo para orientar a terapia.

Mas nós temos um problema – as equações disponíveis para o cálculo não são precisas para as PVHIV. Por isso a estratificação e as metas de LDL-c são diferentes quando comparadas com a população geral.

Por exemplo, pessoas com doença cardiovascular aterosclerótica (DCA) diagnosticada clinicamente ou por exame de imagem; SCORE (Systematic Coronary Risk Estimation) ≥ 10%; hipercolesterolemia familiar com DCA ou com outro fator de risco importante; doença renal crônica (DRC) grave (TFG < 30 mL/min); diabetes tipo II com lesões em órgãos-alvo ou com 3 fatores de risco importantes; ou início precoce de diabetes tipo I de longa duração (> 20 anos), são considerados muito alto risco e a meta de LDL-c será de 55 mg/dL.

Pessoas com SCORE ≥ 5% e < 10%; CT > 310 mg/dL ou LDL-c > 190 mg/dL; pressão arterial ≥ 180/110 mmHg; hipercolesterolemia familiar sem outros fatores de risco importantes; DRC moderada (TFG > 30 – < 60 mL/min); ou diabetes sem lesão de órgão-alvo, com duração do DM ≥10 anos ou outro fator de risco adicional, são considerados de alto risco e a meta de LDL-c será de 70 mg/dL.

Pessoas com diabetes tipo 1 com menos 35 anos ou diabetes tipo II menos 50 anos com duração do diabetes menor que 10 anos, sem outros fatores de risco; ou SCORE entre > 1% e < 5%, são consideradas de médio risco e a meta de LDL-c será de 100 mg/dL.

Pessoas com SCORE < 1% são consideradas de baixo risco e a meta de LDL-c será de 116 mg/dL.

Tudo isso parece complicado, e é complicado, porém, para você que vive com HIV, o mais importante é saber que isso existe e cabe ao seu médico identificar qual é o seu risco cardiovascular para tomar a melhor conduta.

Proteja seu coração

Acredite, você pode fazer muito para manter baixo o seu risco de doenças cardiovasculares e manter o seu coração saudável.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o acompanhamento médico

O lipidograma é um exame solicitado rotineiramente para as PVHIV.

Quanto mais cedo você realizar o diagnóstico, mais cedo irá iniciar o tratamento e as mudanças no estilo de vida.

Como alguns antirretrovirais podem causar o aumento do colesterol, seu médico poderá substituí-lo, caso necessário.

Pare de fumar

O passo mais crucial que você pode tomar para diminuir o risco de doença cardiovascular é parar de fumar.

O tabagismo é um dos principais fatores de risco para infarto, arritmia e derrame.

Fumar provoca acúmulo de gordura e obstrui as artérias. Além disso, danifica seus órgãos, reduz o colesterol HDL e aumenta a pressão sanguínea.

Os efeitos de parar de fumar são bastante rápidos. Sua pressão arterial diminui, sua circulação melhora e seu suprimento de oxigênio aumenta.

Essas mudanças aumentarão seu nível de energia e facilitarão o exercício. Com o tempo, seu corpo começará a se curar.

Seu risco de doença cardiovascular diminui, e irá reduzir ao longo do tempo.

Mantenha sua pressão arterial sob controle

A pressão alta, ou hipertensão, aumenta o estresse no sistema cardiovascular, que leva ao infarto e ao derrame.

Você pode diminuir sua pressão arterial através de:

Trabalhe em estreita colaboração com seu médico e monitore sua pressão sanguínea regularmente pelo menos uma vez por ano. Faça as mudanças no estilo de vida, e caso seja necessário, tome os anti-hipertensivos prescritos pelo seu médico.

Cuide da glicemia no sangue

A diabetes é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Tem efeitos prejudiciais em vários órgãos do corpo quando não tratada e pode levar ao infarto, doenças das artérias periféricas, derrame e outras complicações. Se você tem diabetes, o cuidado deve ser ainda maior.

Você diminui sua glicemia no sangue através de:

  • Alimentação saudável.
  • Exercícios físicos.
  • Controle do peso.
  • Limitar o consumo de álcool.
  • Abandonar o uso de drogas e o tabagismo.

Caso mudanças nos hábitos de vida não sejam realizadas, pode ser necessário o uso de medicamentos.

Sempre que possível, mantenha seu nível de estresse no mínimo

Claro, isso é mais fácil falar do que fazer. Viver com HIV e outras condições crônicas adiciona estresse às nossas vidas, além de todos os outros problemas da vida, pressões e responsabilidades com as quais temos de lidar.

Por isso, trabalhar a mente é fundamental.

Espiritualidade, acupuntura, massagem, meditação, ioga ou outras técnicas de relaxamento podem ajudá-lo a liberar e gerenciar o estresse.

Tire um tempo para fazer coisas com seus amigos ou doe seu tempo – seja voluntário para uma organização sem fins lucrativos ou em um hospital infantil.

Encontre um grupo com o qual possa exercitar-se ou caminhar. A interação com outras pessoas é fundamental para a sua saúde mental.

Se você estiver se sentindo deprimido ou ansioso, encontre apoio psicológico ou psiquiátrico. Estudos associaram a depressão – uma realidade para muitas pessoas vivendo com HIV – a um risco aumentado de doença cardíaca. 

Exercite-se regularmente

O exercício físico regular fortalece o coração, reduz a pressão sanguínea, melhora os níveis de colesterol, alivia o estresse, ajuda no controle do peso, diminui a resistência à insulina e ajuda a melhorar os níveis de açúcar no sangue.

Se você já tem problemas cardiovasculares, converse com o seu médico sobre o que é apropriado antes de iniciar um programa de exercícios.

Se você estiver liberado, planeje-o.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça exercícios de fortalecimento muscular em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Coma uma alimentação saudável para o coração

A alimentação desempenha um papel enorme na prevenção de doenças cardiovasculares. É, particularmente, a mudança central que você deve realizar (além de parar de fumar!).

Primeiro, corte a ingestão de gorduras trans. Estas são quimicamente modificadas encontradas na maioria das margarinas, gordura vegetal, muitas frituras ​​e salgadinhos.

Fique com as gorduras produzidas pela natureza, especialmente gorduras monoinsaturadas, como o azeite, castanhas, sementes, peixes gordos e abacate.

Depois, diminua a ingestão de açúcar refinado, bebidas açucaradas e doces. Troque carboidratos refinados por integrais, diminuindo a quantidade progressivamente.

Além disso, comece a comer comida de verdade – muitos vegetais, frutas e legumes.

Mantenha um peso saudável

O sobrepeso e a obesidade são dois fatores de risco associados à dislipidemia. Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%.

Abandone vícios

Drogas prejudicam seu coração. Cocaína, anfetaminas e ecstasy podem aumentar a pressão sanguínea e a temperatura do corpo, acelerar o coração e estreitar os vasos sanguíneos de uma maneira que aumenta muito o risco de ataque cardíaco.

Também podem causar arritmias e edema pulmonar (líquido nos pulmões que dificulta a respiração). Além disso, injetar drogas pode resultar em infecções cardíacas graves.

Se o uso de drogas é um problema para você, procure ajuda médica.

Utilize o ômega-3

O ômega-3 ajuda PHVIV com hipertrigliceridemia a diminuir os triglicerídeos altos, maiores que 150 mL/dL.

Faça o tratamento medicamentoso da dislipidemia

Além da mudança nos hábitos de vida para perder gordura corporal e ganhar massa muscular, com a dieta, o exercício físico e a suplementação com ômega-3, e cessar o uso de álcool, drogas, cigarro e esteróides anabolizantes, o tratamento medicamentoso da dislipidemia pode ser necessária.

Para o tratamento da hipertrigliceridemia, ou seja, triglicerídeos (TG) alto, eu utilizo o ciprofibrato (Lipless®) 100 mg ao dia ou o benzofibrato (Cedur Retard®) 400 mg ao dia. Porém, não são todas as PVHIV com hipertrigliceridemia que necessitam do tratamento medicamentoso. A seguir estão as indicações:

  • TG > 500 mg/dL, independentemente do risco cardiovascular.
  • Diabéticos com TG > 204 mg/dL e HDL-c < 34 mg/dL.

Para o tratamento da hipercolesterolemia, ou seja, colesterol alto, dependerá do risco cardiovascular, como expliquei no post anterior. Para cada classificação, há uma meta específica de LDL-c.

As estatinas são a primeira opção e a principal classe terapêutica para a diminuição do LDL-c. A ezetimiba 10 mg/dia encontra-se como segunda opção na intolerância às estatinas ou terapia adjuvante.

Atualmente, existem sete estatinas que diferem na sua potência para a diminuição do LDL-c: rosuvastatina > atorvastatina > pitavastatina > sinvastatina > pravastatina = lovastatina > fluvastatina. Elas são classificadas como alta, moderada ou de baixa efetividade para reduzir o LDL-c. Devem ser tomadas em dose única diária sempre à noite.

  • Alta efetividade: rosuvastatina 20 a 40 mg; atorvastatina 40 a 80 mg.
  • Moderada efetividade: rosuvastatina 5 a 10 mg; atorvastatina 10 a 20 mg; sinvastatina 20 a 40 mg; pravastatina 40 a 80 mg; fluvastatina 40 a 80 mg; pitavastatina 2 a 4 mg; lovastatina 40 mg.
  • Baixa efetividade: sinvastatina 10 mg; pravastatina 10 a 20 mg; pitavastatina 1 mg; lovastatina 20 mg; fluvastatina 20 a 40 mg.

As estatinas são bem toleradas e raramente faz-se necessária a interrupção do uso por efeitos colaterais. Sintomas musculares, como dor muscular, fraqueza e cãibras são os efeitos mais comuns.

Nas PVHIV há considerações importantes relacionadas ao uso das estatinas:

  • Deve-se evitar a sinvastatina no paciente em terapia antirretroviral, porém é a única estatina disponível gratuitamente no SUS. Seu uso é contraindicado no tratamento com um inibidor da protease (darunavir ou atazanavir).
  • No tratamento com um inibidor da protease (darunavir ou atazanavir), deve-se iniciar a atorvastatina e a rosuvastatina em doses mais baixas, enquanto a fluvastatina e a pravastatina em doses mais altas.
  • No tratamento com um inibidor da transcriptase reversa não-análogos de nucleosídeos (efavirenz e etravirina), deve-se iniciar a rosuvastatina em doses mais baixas e a atorvastatina, fluvastatina e pravastatina em doses mais altas.
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Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

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Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.

Cérebro e o HIV: como mantê-lo saudável

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ARTIGOS

Cérebro e o HIV: como mantê-lo saudável

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

O nosso cérebro é o que nos diferencia dos outros animais – coordena todos os nossos movimentos voluntários e involuntários, nossos sentidos e sentimentos. Graças ao cérebro, somos seres racionais e emocionais, pensamos e amamos, cremos e fazemos. 

Envelhecer com boa saúde inclui manter seu cérebro saudável e ativo. Tenho certeza de que você quer chegar ao final da vida reconhecendo as pessoas que ama, ativo e cuidando de si.

Desde que a terapia antirretroviral se tornou disponível no Brasil, a demência relacionada ao HIV – a grave deterioração da função mental e física que antes era comum – agora é raramente diagnosticada.

No entanto, formas mais leves de comprometimento cognitivo permanecem em algumas pessoas que vivem com HIV (PVHIV).

Através de pesquisas recentes, estamos aprendendo mais sobre maneiras de minimizar os efeitos do vírus no cérebro.

Neste artigo você irá aprender sobre o transtorno neurocognitivo associado ao HIV, chamando de HAND, mas principalmente, como mudanças nos seus hábitos podem ajudar a preveni-lo.

O transtorno neurocognitivo associado ao HIV (HAND)

Desde a introdução da terapia anti-retroviral combinada em 1996, a infecção pelo HIV tornou-se tratável.

Antes, manifestações cerebrais, como alterações das funções cognitivas, comportamentais, motoras e autônomas aconteciam com mais frequência, porém ainda continua sendo um problema para algumas PVHIV para aquelas diagnosticadas tardiamente. 

Os termos mais antigos, como “encefalopatia pelo HIV” ou “demência por AIDS” foram substituídos pelo termo “transtorno neurocognitivo associado ao HIV” (HAND). A terminologia atual do HAND baseou-se em uma revisão de 2007 da classificação anterior de 1991.

HAND é um termo abrangente para uma série de problemas:

  • Comprometimento neurocognitivo assintomático: são pessoas com testes neuropsicológicos com resultados abaixo do esperado, porém não apresentam sintomas perceptíveis e seu dia-a-dia não é afetado.
  • Comprometimento neurocognitivo leve: são pessoas com sinais leves ou moderados no pensamento, memória, humor, coordenação e função física. Os sintomas incluem não ser capaz de lembrar coisas no qual foi informado, leu ou viu recentemente; dificuldade para se lembrar de incidentes do passado ou fatos vivenciados; dificuldade em resolver problemas e aprender coisas novas; confusão, depressão ou ansiedade; dificuldade de atenção; reflexos reduzidos; sensação de “vazio no cérebro” ou de “tontura”.
  • Demência associada ao HIV: é a forma mais rara e grave. Pessoas com demência associada ao HIV experimentam um declínio na função cerebral que interfere significativamente em suas atividades diárias e na qualidade de vida – lembra o Alzheimer nos estágios terminais.

Cérebro e o HIV

A forma da HAND causar dano no cérebro não é compreendida, mas existem vários fatores: toxicidade dos antirretrovirais, multiplicação do HIV no cérebro quando não se está tratando, reservatórios do vírus, inflamação crônica e co-infecção com outros vírus, como o da hepatite C.

Tentarei explicar da forma mais simples possível, mas caso você não entenda, não se preocupe, apenas siga o texto.

A lesão e inflamação crônica no cérebro começa por diversas maneiras.

A primeira é por lesão direta do neurônio, principal célula do cérebro, causada por proteínas do vírus, como a Tat ou a Gp120.

Estudos recentes descreveram novos mecanismos para a inflamação causada pela Tat: reduz a sinalização do receptor NLRC5, aumentando a expressão do NF-κB, que leva à ocorrência de neuroinflamação.

O impacto indireto na integridade dos neurônios também é observado durante a inflamação crônica induzida pelos macrófagos perivasculares ou células microgliais. Após a ativação, essas células imunológicas liberam toxinas como citocinas pró-inflamatórias (TNFα, IFNα, IL6, IL8, IL1β) e quimiocinas (CCL2 e CCL5), que causam dano cerebral.

Por fim, evidências indiretas demonstram a existência de reservatórios do vírus no cérebro. Mas ainda não sabemos qual o impacto clínico e sintomático disso. Apenas que, se você parar de tomar seus medicamentos, o vírus voltará a se multiplicar no seu cérebro.

Lembre-se: a terapia anti-retroviral é a melhor forma de suprimir todos os eventos descritos.

Outros fatores que podem danificar o cérebro

Além dos efeitos citados acima, muitos outros fatores podem causar ou contribuir para o dano cerebral, incluindo:

  • Envelhecimento natural.
  • Ingesta rica em carboidratos.
  • Sobrepeso e obesidade.
  • Privação de sono.
  • Estresse.
  • Depressão e ansiedade.
  • Concussão (trauma no cérebro).
  • Consumo excessivo de álcool.
  • Doença cardiovascular, hepatite C, diabetes ou doença da tireóide.
  • Deficiências de vitaminas B1 e B12.
  • Uso de drogas recreativas, como cocaína, metanfetamina, heroína, ecstasy, LSD e inalantes.
  • Doenças neurológicas, como epilepsia e esclerose múltipla.

Diagnosticando a HAND

O diagnóstico da HAND é um desafio. Os testes são demorados e seu médico pode não ter os recursos necessários para realizá-los. Os principais são:

  • HIV Dementia Scale, utilizada para detectar formas graves e moderadas de comprometimento.
  • Montreal Cognitive Assessment (MoCA), projetada para detectar comprometimento cognitivo leve.
  • International HIV Dementia Scale, validou-se para uso em populações de diferentes origens culturais, mas não deve ser utilizada para casos leves.

Se você está preocupado com mudanças neurocognitivas, o primeiro passo é fazer um registro desses problemas e com que frequência os percebe.

Se sua família, amigos ou outras pessoas ao seu redor apontarem sintomas, anote-os. 

Depois, converse com o seu médico para que faça o diagnóstico apropriado, pois algumas doenças podem apresentar sinais semelhantes com a HAND, como: depressão, ansiedade, hepatite B ou C, uso de substâncias, doença cardiovascular, diabetes, deficiência de vitamina B12, hipotireoidismo; bem como efeitos colaterais de medicamentos, incluindo alguns anti-retrovirais, como o efavirenz.

Fique atento aos seguintes sintomas, e peça para outros pessoas observarem:

  • Esquecimento frequente.
  • Sensação de “vazio no cérebro”.
  • Confusão mental.
  • Sensação de fraqueza que continua piorando.
  • Mudanças de comportamento.
  • Dores de cabeça intensas.
  • Problemas com equilíbrio e coordenação.
  • Convulsões.
  • Mudanças na sua visão.
  • Dificuldade em engolir.
  • Perder a sensação nas pernas ou nos braços.
  • Problemas de saúde mental como ansiedade e depressão.

Diminua o seu risco, reverta seus sintomas

Felizmente, você pode fazer muito para prevenir a HAND ou, se você já apresenta sintomas, minimizá-los.

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o tratamento

A terapia antirretroviral diminui enormemente o risco da forma mais grave, a demência. Desde que tornou-se disponível, as taxas caíram muito no Brasil.

Pessoas com carga viral indetectável têm probabilidade baixíssima de desenvolver a demência associada ao HIV; e se já apresentam sintomas, dificilmente pioram.

Porém, se você apresenta sintomas, converse com seu médico sobre otimizar seu tratamento. 

Abaixo está a tabela que classifica os medicamentos de acordo com a penetração no cérebro.

4 3 2 1
ITRN
Zidovudina
Abacavir Entricitabina
Didanosina Lamivudina Estavudina
Tenofovir
ITRNN
Nevirapina
Efavirenz Etravirina
Rilpivirina
IPs
Indinavir/r
Darunavir/r Fosamprenavir/r Lopinavir/r
Atazanavir/r
Saquinavir/r Tipranavir/r Ritonavir
CCR5/IF
Maraviroque
Enfuvirtida
II
Dolutegravir
Raltegravir
Elvitegravir

Tabela adaptada de Letendre, S. 2011. Central nervous system complications in HIV disease: HIV-associated neurocognitive disorder.

Quanto maior a pontuação somada dos seus anti-retrovirais, mais o seu cérebro estará protegido. Mas não se preocupe, você não precisa tirar nota 10.

Se você não apresenta sintomas, 4 é o suficiente. Porém, se apresenta sinais da HAND, quanto mais, melhor.

Faça o acompanhamento médico

A única forma de você saber se o seu tratamento está dando certo, e se seu cérebro está protegido, é através do acompanhamento médico e dos exames de rotina.

Manter a carga viral indetectável será fundamental para você proteger o seu cérebro e evitar a demência associada ao HIV.

Além disso, trate comorbidades, como a hepatite B, hepatite C, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças renais e hepáticas, pois aumentam a inflamação no cérebro e levam a outros tipos de demência.

Coma alimentos que ajudam o cérebro

Como eu expliquei anteriormente, a inflamação causa dano nos neurônios, que podem levar a HAND. Portanto, é importante combatê-la, principalmente através da alimentação.

Coma alimentos ricos em:

  • Doadores metílicos, precursores de ácidos graxos de cadeia curta e polifenóis.
  • Ricos em vitaminas do complexo B como leite e derivados, cogumelos, soja, ovo, banana, abacate, sementes, nozes e carne.
  • Precursores de ácidos graxos como fibras de frutas e vegetais.
  • Ômega-3 como peixes gordos, castanhas, nozes, amêndoas, pistache, sementes e folhas verdes escuras.
  • Zinco, como chocolate amargo 70%, semente de linhaça, castanha de caju e ovo.
Se você está considerando suplementar, converse primeiro com seu médico ou farmacêutico, pois os suplementos podem interagir com alguns anti-retrovirais.

Exercite-se regularmente

Faça atividades físicas regularmente para ajudar a manter o seu cérebro ativo e bem oxigenado.

Portanto, planeje seu programa de exercícios e converse com o seu médico.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça treinamento de força progressivo em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit. 

Mantenha um peso saudável

Um dos principais objetivos é manter um peso saudável, pois você evitará a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças renais e hepáticas, todos associadas a outros tipos de demência.

Ou seja, quanto mais gordura você perder, mais benefícios terá. Se você é homem, coloque como meta alcançar 19% de percentual de gordura. Se é mulher, 24%.

Abandone vícios

Drogas e álcool causam diversos danos ao cérebro, incluindo: 

  • Alteração nos nutrientes necessários para as células do cérebro.
  • Danos diretos, lesões e morte de células cerebrais, incluindo receptores de neurotransmissores.
  • Alterações nas concentrações químicas do cérebro, incluindo neurotransmissores e hormônios.
  • Privação de oxigênio no tecido cerebral.

Uma das principais maneiras pelas quais o abuso de substâncias pode resultar em danos cerebrais é interferir nos nutrientes necessários para manter a química do cérebro.

Por exemplo, o abuso de álcool pode resultar em deficiência de tiamina, a vitamina B1, pela perda da capacidade do corpo de absorvê-la.

Essa deficiência resulta em lesão cerebral, chamada de encefalopatia de Wernicke e psicose de Korsakoff. Ambas são potencialmente fatais, causando paralisia nervosa e confusão mental, além de incapacidade de coordenar os movimentos e demência.

Portanto, procure assistência médica e psicológica para te auxiliar no processo de abandonar vícios.

Pare de fumar

O tabagismo causa doenças cardiovasculares, diabetes, doenças renais e hepáticas, todas associadas a outros tipos de demência.

É mais fácil falar do que fazer, mas você precisa parar de fumar.

Mantenha bons níveis hormonais

O hipotireoidismo pode causar uma sensação de “vazio no cérebro” muito semelhante à HAND. Portanto, é importante fazer os exames de TSH (hormônio estimulador da tireoide, um indicador indireto da função tireoidiana) e hormônios da tireóide, o T4 livre.

Se os resultados estiverem alterados, a terapia de reposição do hormônio da tireóide pode ajudar a restaurar sua energia e funções mentais.

Cuide do seu bem-estar emocional

Pessoas em estado de estresse constante, com o humor deprimido ou com ansiedade experimentam cansaço mental e função física prejudicada, principalmente por alterações hormonais.

É claro, isso também é mais fácil falar do que fazer. Viver com HIV e outras doenças crônicas adiciona estresse à vida, além de todos os outros problemas, pressões e responsabilidades com as quais você precisa lidar.

Por isso, trabalhar a mente é fundamental.

Espiritualidade, acupuntura, massagem, meditação, ioga ou outras técnicas de relaxamento podem ajudá-lo a liberar e controlar o estresse.

Tire um tempo para fazer coisas com seus amigos ou doe seu tempo – seja voluntário para uma organização sem fins lucrativos ou em um hospital infantil.

Encontre um grupo com o qual possa exercitar-se ou caminhar. A interação com outras pessoas é fundamental para a sua saúde mental.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

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Ossos e o HIV: como prevenir a osteoporose e a osteopenia

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Ossos e o HIV: como prevenir a osteoporose e a osteopenia

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Os ossos são órgãos fundamentais para a proteção do nosso corpo e para a nossa locomoção.

O crânio protege o cérebro, a coluna a medula espinhal, a caixa torácica o coração, o fígado e os pulmões, e assim por diante. Além disso, armazenam minerais e nossa medula óssea, responsável pela produção de células do sangue. Por isso devemos protegê-los.

As pessoas que vivem com HIV (PVHIV) apresentam maior risco de osteoporose e osteopenia – condições caracterizadas por perda da densidade mineral óssea. Felizmente, há muito para se fazer para promover a saúde dos seus ossos e impedir problemas futuros.

Neste artigo você irá aprender qual é a prevalência destes problemas nas PVHIV, quais os fatores de risco, como diagnosticá-las e como você pode preveni-las com mudanças nos seus hábitos de vida.

Usarei como referência o livro “Endocrinologia clínica”, 7.ª edição e o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição, além de outros artigos específicos.

Como funciona o sistema ósseo

O osso é um tecido que se reconstrói constantemente – células ósseas antigas são substituídas por novas células ósseas. Para fazer isso, nosso corpo precisa de dois componentes principais: colágeno e minerais.

O colágeno fornece a estrutura flexível, porque os ossos precisam ter alguma elasticidade – sem colágeno, se tornam muito quebradiços e podem quebrar mais facilmente.

Já os minerais endurecem a estrutura do colágeno fornecendo a estrutura e a força do seu corpo.

Para ter ossos saudáveis, você precisa encontrar um equilíbrio entre força e flexibilidade.

Existem dois tipos de células que trabalham neste processo: osteoclastos e osteoblastos.

Osteoclastos removem os ossos danificados, deixando para trás cavidades onde os osteoblastos constroem um novo osso, com o colágeno e os minerais. 

Quando crianças, estamos continuamente ganhando mais ossos do que perdendo. Porém, quando adultos, a perda pode começar a superar o ganho – processo chamado de “perda da densidade óssea”.

Na população geral, a perda óssea aumenta nas mulheres quando atingem a menopausa e nos homens na faixa dos 70 anos.

Embora tudo isso seja algo natural à medida que envelhecemos, você pode reduzir a perda óssea – com algumas mudanças nos hábitos de vida para permanecer forte e flexível por mais tempo.

Estudos demonstram que a perda da densidade óssea é comum em PVHIV, afetando até alguns adultos jovens. Embora as fraturas sejam raras – a maioria nunca quebrará um osso – apresentam maior risco de fratura do que à população geral, sendo aproximadamente três vezes mais. 

Ossos e o HIV

O artigo “Prevalence and Risk Factors of Low Bone Mineral Density in HIV/AIDS Patients: A Chinese Cross-Sectional Study” publicado na JAIDS em julho de 2022 nos demonstra qual a prevalência e os fatores de risco a baixa densidade mineral óssea nas PVHIV.

Neste estudo realizado entre outubro de 2017 a agosto de 2020, 717 pessoas vivendo com HIV em terapia antirretroviral foram incluídas. Diagnosticaram baixa densidade mineral óssea em 32,2% (231/717) dos pacientes, sendo 17 (2,4%) com osteoporose e 214 (29,8%) com osteopenia.

Os fatores de risco associados foram idade superior a 50 anos, índice de massa corporal menor que 18,5 kg/m² e terapia antirretroviral com tenofovir desoproxila.

Primeiramente, podemos concluir que a baixa densidade óssea é prevalente na PVHIV, podendo acometer 1 a cada 3 pessoas. Porém, a forma grave, a osteoporose, é infrequente. Neste estudo apenas 2,4% apresentaram osteoporose.

Podemos concluir também que o envelhecimento e o uso do tenofovir desoproxila são fatores de risco associados à baixa densidade óssea. Esses dois fatores já são conhecidos e bem descritos na literatura médica.

Diagnóstico da baixa densidade mineral óssea

O exame para o diagnóstico da baixa densidade óssea é a densitometria óssea, porém não são todas as PVHIV que necessitam realizá-la. A seguir estão os critérios para considerar o exame, de acordo com o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição:

  1. Mulheres na pós-menopausa.
  2. Homens com idade igual ou superior a 50 anos.
  3. Alto risco de quedas (utilizar Falls Risk Assessment Tool).
  4. Alto risco de fratura (> 20% de risco de fratura osteoporótica maior em 10 anos com base na avaliação FRAX sem DXA).
  5. Histórico de fratura de baixo impacto.
  6. Hipogonadismo.
  7. Uso oral de glicocorticóides (mínimo equivalente a 5 mg/d de prednisona por mais de 3 meses).

Se o resultado for normal (T-score ≥ -1), repetir após 3 a 5 anos nos grupos 1, 2 e 3; não há necessidade de novo exame nos grupos 4, 5 e 6, a menos que os fatores de risco mudem; novo exame no grupo 7 se o uso de glicocorticóide se manter.

Em caso de osteopenia (T-score < -1 e > -2,5), mudança nos hábitos de vida são fundamentais, como: prática de exercícios de força e aeróbicos; aumentado da ingesta de alimentos ricos em cálcios; reposição de vitamina D em caso de deficiência ou insuficiência; e cessar o uso de álcool, drogas e cigarro. Além disso, pode ser necessária a simplificação ou a troca do tenofovir desoproxila na terapia antirretroviral.

Em caso de osteoporose (T-score ≥ -2,5), além das orientações prévias, poderá ser necessário o tratamento medicamentoso. Por isso, um acompanhamento com o endocrinologista será necessário.

Como prevenir a osteoporose e a osteopenia

A boa notícia é que você pode fazer muito para prevenir a perda óssea. 

Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:

Faça o acompanhamento médico

O exame de densitometria óssea faz parte dos exames complementares de rotina que devem ser solicitado para as PVHIV, de acordo com os critérios vistos acima.

Além disso, seu médico pode solicitar exames de sangue, como dosagem de vitamina D, vitamina B12, testosterona, cálcio e fósforo para avaliar efeitos colaterais relacionados à terapia antirretroviral.

Faça exercícios de fortalecimento

O Colégio Americano de Medicina Esportiva recomenda atividades de resistência e de fortalecimento muscular.

Portanto, planeje seu programa de exercícios e converse com o seu médico.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça treino de força progressivo em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Tenha uma alimentação rica em minerais

Como explicado anteriormente, os ossos são constituídos por colágeno e minerais, como o cálcio, fósforo, manganês, potássio, zinco, cobre, boro e cromo.

Uma alimentação rica em proteínas e com uma grande variedade de vegetais, legumes, frutas, nozes e sementes, fornece todos os nutrientes necessários para formar e manter seus ossos saudáveis.

Porém, o mineral mais importante é o cálcio. Os alimentos ricos em cálcio são: 

  • Produtos lácteos integrais, como leite integral não homogeneizado, queijo maturado e iogurte natural.
  • Vegetais folhosos verde-escuros, como agrião, acelga, alface, almeirão, chicória, couve de bruxelas, couve, espinafre, mostarda, escarola, folha de brócolis, folha de beterraba e rúcula.
  • Peixes gordos, como sardinha, salmão selvagem, cavala e arenque. 
  • Amêndoas.
  • Leguminosas, como grão de bico e feijão.

Embora a melhor forma de obter cálcio e outros nutrientes essenciais seja através da comida de verdade, isso nem sempre é possível.

Se você está considerando suplementar, converse primeiro com seu médico ou farmacêutico, pois os suplementos de cálcio podem interagir com alguns antirretrovirais, principalmente o dolutegravir.

Utilize suplementos

Como o seu corpo precisa de vitamina D para absorver cálcio e fósforo, e muitas PVHIV apresentam deficiência de vitamina D, converse com seu médico sobre a dosagem e suplementação, caso seja necessário.

Outra vitamina essencial é a vitamina K, necessária para sintetizar a osteocalcina, uma proteína óssea necessária para a formação óssea.

Embora a vitamina K1 seja abundante em vegetais de folhas verdes, a vitamina K2, a mais importante para a saúde óssea, é encontrada apenas pequenas quantidades em alguns alimentos, como gemas de ovos, queijo cottage, queijos fermentados e produto fermentado de soja (natto).

Suplementar vitamina K2 pode ajudar a garantir a quantidade certa dessa vitamina para seus ossos.

Sempre verifique os rótulos dos suplementos, pois muitos contêm apenas vitamina K1, que não é a forma necessária para prevenir a osteoporose.

E por fim, se você está tomando qualquer anticoagulante, como a varfarina, fale com o seu médico e farmacêutico antes de aumentar a sua ingestão ou suplementar a vitamina K, pois interfere nos efeitos dos anticoagulantes.

Cesse o tabagismo, o uso de álcool e drogas

O cigarro, o uso de álcool e drogas são fatores de risco para desenvolver a osteoporose. Portanto, cesse o uso.

Reduza seu risco de queda

Também é uma boa ideia tomar medidas para reduzir o risco de queda. Aqui estão algumas dicas:

  • Remova as coisas que você pode tropeçar, como cabos elétricos e objetos no chão.
  • Use tapetes especiais para evitar escorregões.
  • Verifique se a banheira e o box do chuveiro não estão escorregadios.
  • Cuidado com medicamentos que podem te deixar sonolento ou tonto, como remédios para dormir, alguns antidepressivos e analgésicos.
  • Verifique seus olhos regularmente, pois a visão ruim pode dificultar a visualização de coisas.
  • Use sapatos adequados.
infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

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