Por Dr. Richard Portier
em 23 de junho de 2023.
Uma boa noite de sono é crucial para manter uma boa saúde. Hoje sabemos que dormir bem, e com a qualidade e na quantidade certa, é fundamental para prevenir doença crônicas e retardar o processo de envelhecimento.
Infelizmente, diversas pessoas vivendo com HIV (PVHIV) apresentam dificuldades para induzir ou manter o sono, por sonhos vívidos, pesadelos e suores noturnos. Ou por simples hábitos ruins.
Neste artigo mostrei as principais causas e como alcançar a noite de sono que você merece.
O artigo “Prevalence and Risk Factors of Sleep Disturbance in a Large HIV-Infected Adult Population”, publicado na AIDS and Behavior em agosto de 2015, nos mostra qual é a prevalência e os fatores associados ao problema.
Este foi um estudo transversal na região de ‘‘Pays de la Loire’’, noroeste da França, que tem uma população de pessoas vivendo com HIV de 3.736. Entre novembro de 2012 e maio de 2013, todas as PVHIV com mais de 18 anos de idade que se apresentaram para atendimento de rotina nas clínicas de Nantes, Angers, La Roche sur Yon, Saint Nazaire, Le Mans e Laval, foram convidadas para o estudo.
Cada participante respondeu um questionário sobre distúrbios do sono, o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI). O PSQI é um questionário de 19 itens sobre o sono do último mês e avalia os componentes do sono, incluindo qualidade do sono, latência do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios do sono, uso de hipnóticos e sono diurno. Os distúrbios do sono foram definidos como um escore global maior que 5.
No período estipulado, 1.354 PVHIV foram incluídos no estudo. Os participantes eram principalmente homens nascidos na França, no final dos anos quarenta. A maioria dos participantes estava em terapia antirretroviral, por uma mediana de quase 10 anos, com carga viral indetectável e CD4 maior que 500 células/mm3.
O tempo médio de sono foi de 7 horas. Observou-se o distúrbio do sono em 47% dos participantes e sintomas depressivos moderados a graves em 19,7%. Fatores significativamente associados foram depressão, sexo masculino, emprego ativo, viver sozinho, tabagismo, duração da infecção pelo HIV maior que 10 anos e uso de efavirenz na terapia antirretoviral.
O que podemos concluir? Primeiro, que a prevalência de distúrbios no sono é alta na PVHIV, pois neste estudo 637 (47%) pessoas apresentaram o problema. Segundo, o transtorno depressivo está relacionado aos sintomas, tanto que faz parte de um dos critérios de depressão maior do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5ª edição (DSM-5). Terceiro, o efavirenz, nosso antirretroviral de escolha até 2017, causa este efeito colateral. Quarto, está associado ao tabagismo.
Por essa alta prevalência, precisamos perguntar ativamente para a PVHIV como está o sono, e fazer um rastreio sobre sintomas de depressão e tabagismo. Caso positivo, precisamos tratar o transtorno depressivo com antidepressivos e o tabagismo. Por fim, caso o paciente use o efavirenz, trocar para outro antirretroviral.
Estas são orientações chamadas de higiene do sono. Elas serão fundamentais para você dormir melhor – não só isso, ter uma saúde melhor. Então siga todas:
Uma queixa frequente no meu consultório é o ronco excessivo, associado à apneia. Esses sintomas fazem parte de uma doença chamada apneia obstrutiva do sono (AOS). O artigo “Sleep disturbances in HIV-infected patients associated with depression and high risk of obstructive sleep apnea”, publicado na SAGE Open Medicine em abril de 2019, nos mostra qual a prevalência e os fatores associados ao problema.
Este estudo foi um estudo transversal, com PVHIV de um ambulatório na Temple University, na Filadélfia. Os pacientes que se apresentaram para o acompanhamento de rotina entre 2014 e 2015 foram convidados para participarem do estudo.
Para o diagnóstico de AOS, aplicaram um questionário chamado “STOP-BANG”. Cada letra representa uma pergunta ou característica demográfica que pode ser respondida como “sim” ou “não”: ronco; cansaço; apneia observada; pressão alta; IMC maior que 35 kg/m; idade maior que 50 anos; circunferência do pescoço maior que 41 cm em mulheres e maior que 43 cm em homens; e sexo masculino. As pontuações de 0 a 2, 3 a 4 e 5 a 8 indicam baixo, médio ou alto risco de AOS, respectivamente.
Foram incluídos no estudo 176 participantes. No questionário “STOP-BANG”, 36 (20%), 67 (38%) e 73 (41%) tinham risco de AOS alto, médio ou baixo, respectivamente. O aumento do risco de AOS foi associado com idade mediana mais avançada (54 x 51 x 45), sexo masculino (56% x 49% x 34%), ter IMC maior 30 kg/m2 (75% x 43% x 22%), circunferência de pescoço elevada (36% vs 24% vs 14%) e comorbidades metabólicas incluindo diabetes (36% vs 24% vs 7%), hipertensão (83% vs 64% vs 25%) e dislipidemia (44% vs 40% vs 26%), diagnóstico preexistente de apneia do sono (25% vs 9%) e problemas de sono autorreferidos (78% vs 70% vs 58%).
O que podemos concluir? Primeiro, neste estudo, a prevalência de AOS foi alta, pois cerca de 20% tinham risco alto e 38% risco médio. Segundo, a AOS está associada ao excesso de gordura corporal. Nos participantes de risco alto, 75% estavam com obesidade e 36% com a circunferência do pescoço elevada. Terceiro, neste mesmo grupo, os pacientes apresentavam outras comorbidades, como hipertensão, dislipidemia e diabetes, que são doenças crônicas relacionadas ao excesso de gordura. Quarto, 78% relataram distúrbio no sono, o principal sintoma da AOS.
A polissonografia completa continua sendo o método definitivo para o diagnóstico de AOS, e no caso de suspeita, deve ser realizada.
Após o diagnóstico, a primeira opção de tratamento é a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Dormir com uma máscara com selo periférico sobre o rosto, com aplicação de pressão positiva nas vias aéreas, evita o seu colapso, interrompendo, portanto, a obstrução e o ronco. O CPAP irá ajudar a melhorar a qualidade do sono, porém não trata a causa.
Portanto, para curar a AOS, é necessário perder gordura corporal através da dieta com déficit calórico, musculação, exercício aeróbico leve e suplementação.
Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.
Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.
Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV.
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