Por Dr. Richard Portier
em 18 de julho de 2020.
As pessoas que vivem com HIV (PVHIV) estão vivendo mais. Por isso você viverá tanto quanto as pessoas que não têm o vírus.
Estudos recentes demonstram que uma PVHIV tem uma expectativa de vida semelhante à população geral – desde que seja diagnosticada precocemente, faça o acompanhamento médico e seja aderente ao tratamento, além de ter bons hábitos de vida.
Vários fatores podem modificar essa expectativa de vida, pois depende também de fatores individuais:
A expectativa de vida é o número médio de anos que uma pessoa pode esperar viver. Mais precisamente, é o número médio de anos que um indivíduo de uma determinada idade deve viver se as atuais taxas continuarem a se aplicar.
Por exemplo, no Brasil, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou em 3 meses e 4 dias de 2017 para 2018, alcançando 76,3 anos. Desde 1940, já são 30,8 anos a mais do que se espera que a população viva. Para as mulheres, espera-se maior longevidade: 79,9 anos. Já para os homens 72,8 anos.
Ou seja, é uma estimativa, e nem sempre o IBGE tem acesso a todas as informações relevantes.
Já para o cálculo da expectativa de vida das PVHIV, existem estimativas de acordo com a idade das pessoas no momento do diagnóstico e da contagem de linfócitos CD4, mas sem muitas informações sobre diversos outros fatores, como hábitos de vida, questões genéticas e sociais, que são individuais.
Como o HIV é uma infecção nova e o tratamento muda frequentemente, é difícil saber se o agora será semelhante ao futuro. No momento, há um grande número de PVHIV entre 20 e 70 anos. Mas temos pouca experiência com idades maiores que 70 anos, portanto sabemos menos sobre o impacto que o vírus pode ter nos idosos.
Além disso, a tendência é que a assistência médica, e a própria medicina, evoluam no futuro, com medicamentos com menos efeitos colaterais, mais fáceis de tomar e mais eficazes na supressão do vírus no longo prazo. Mas, ao meu ver, além da adesão ao tratamento, o que faz diferença é a mudança nos hábitos de vida para hábitos mais saudáveis, como alimentação balanceada, prática de atividade física, sono adequado e abandono de vícios, chaves para a prevenção de doenças cardíacas, renais, pulmonares, obesidade, diabetes, câncer e outras condições não relacionadas ao HIV. Esses fatores que mudarão substancialmente a expectativa de vida das PVHIV.
Infelizmente, não temos dados sobre a expectativa de vida das PVHIV no Brasil. Porém, podemos comparar com o Reino Unido, que são países ocidentais com cultura semelhante, e possuem um sistema de saúde universal gratuito e medicamentos disponibilizados gratuitamente pelo sistema.
Um estudo publicado em 2014 analisou os resultados de mais de 20.000 adultos que iniciaram o tratamento do HIV no Reino Unido entre 2000 e 2010. A análise não incluiu usuários de drogas injetáveis.
A principal descoberta foi que as pessoas que tiveram uma boa resposta inicial ao tratamento tinham uma expectativa de vida melhor do que a população em geral. Especificamente, um homem com uma contagem de células CD4 acima de 350 e uma carga viral indetectável (considerado abaixo de 400 cópias/ml na época), um ano após o início do tratamento, poderia viver entre 81 a 83 anos, sendo que para a população geral a expectativa de vida era de 78 anos. Já uma mulher poderia viver entre 83 a 85 anos. Isso se compara aos 83 anos na população em geral.
Para pessoas que tiveram uma contagem de CD4 entre 200 e 350 e uma carga viral indetectável um ano após o início do tratamento, a expectativa de vida foi semelhante à população em geral. Entre os homens, poderiam viver entre 78 a 81 anos, e as mulheres entre 81 a 83 anos.
Para pessoas cuja resposta inicial ao tratamento não foi tão boa, a expectativa de vida foi um pouco menor. Os resultados foram semelhantes em cada um dos seguintes cenários: contagem de CD4 abaixo de 200 e carga viral indetectável; contagem de CD4 entre 200 e 350 e carga viral detectável; e contagem de CD4 acima de 350 e carga viral detectável. Homens poderiam viver entre 70 a 77 anos e mulheres entre 72 a 79 anos.
Nos homens que tiveram uma resposta inicial ruim ao tratamento – um ano depois, suas contagens de CD4 estavam abaixo de 200 e suas cargas virais foram detectáveis – esperava-se viver entre 61 a 69 anos, enquanto nas mulheres entre 64 a 71 anos.
Atualmente, no Reino Unido, poucas pessoas morrem devido à AIDS. O que é semelhante no Brasil. Nos últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018. Geralmente são pessoas que foram diagnosticadas muito tarde, e desenvolveram doenças oportunistas graves. Em muitos desses casos, a pessoa não fez o tratamento ou fez de maneira errada ou irregular.
Com o tratamento, acompanhamento médico, exames de rotina e bons hábitos de vida, a maioria das PVHIV terão vidas longas, saudáveis e produtivas. Poucas pessoas morrem em decorrência da AIDS – e tem diminuído a cada ano.
As causas de doenças e morte são bastante semelhantes às da população geral, como doenças cardíacas, renais, hepáticas, diabetes, obesidade e câncer. E a maioria decorrentes de hábitos de vidas ruins.
Mudar hábitos depende de você e de uma orientação correta. Você pode aumentar sua expectativa de vida não fumando, sendo fisicamente ativo, tendo uma dieta equilibrada, mantendo um peso saudável adequado, evitando o uso excessivo de álcool ou e abandonando o uso de drogas e o tabagismo. Assim, envelhecerá mais lentamente, e prevenirá inúmeras doenças crônicas.
Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.
Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.
Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV.
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