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ARTIGOS

Ganho de peso: como perder peso após o tratamento do HIV

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

Hoje o que mais me preocupa na saúde das pessoas vivendo com HIV (PVHIV) com carga viral indetectável são os problemas metabólicos e hormonais.

Acredito que não seja só eu, mas diversos infectologistas, já que temos cada dia mais estudos sobre essas doenças nas revistas médicas sobre o HIV.

Para justificar minha preocupação eu trouxe os resultados do artigo “Comorbidities and co-medications among 28 089 people living with HIV: A nationwide cohort study from 2009 to 2019 in Japan”, publicado na HIV Medicine em novembro de 2021.

Neste estudo com 28089 PVH, entre 2009 e 2019, 22881 (81,5%) pacientes foram diagnosticados com doenças crônicas. Destes, 10.020 (35,7%) tinham três ou mais comorbidades. Os problemas mais frequentes foram diabetes (42,8%), dislipidemia (colesterol e/ou triglicerídeos altos) (39,7%), transtornos psiquiátricos (28,7%) e hipertensão (pressão alta) (24,2%).

Complicações desses problemas também foram prevalentes. As mais frequentes foram osteoporose (12.7%), doenças cardiovasculares, como o infarto e AVC (11.1%), câncer não relacionado à AIDS (8.8%) e doença renal crônica (5.8%).

Outro dado é a quantidade de doenças crônicas por idade. Entre 20-29 anos, 55% tinham pelo menos uma comorbidade. Com o passar das faixas etárias, essa porcentagem foi aumentando. Entre 30-39, 70% tinham uma doença crônica; entre 40-49, 82%; entre 50-59, 89%; acima de 60, mais de 90%.

Quais conclusões podemos chegar? Primeiro, adultos jovens estão desenvolvendo doenças crônicas que encontramos em adultos mais velhos e idosos. E grande parte dessas comorbidades estão relacionados aos hábitos de saúde ruins, como má alimentação, sedentarismo, privação de sono e uso de álcool, drogas e cigarro. “Mas Richard, não pode ser por causa dos antirretrovirais?” Sim, mas os antirretrovirais modernos dificilmente causam essas alterações.

Segundo, como uma das principais causas desses problemas é o excesso de peso decorrente do excesso de gordura corporal e pouca massa muscular, nós precisamos melhorar a composição corporal das PVH. Para isso temos diversas ferramentas: medicamentos, como o Ozempic®, dieta, exercício físico, etc.

Este artigo se concentra em ensinar estratégias, opções e ideias para ajudá-lo a perder peso após o início do tratamento do HIV.

Prevalência do excesso de peso

Sobre a prevalência do excesso de peso na PVH eu trouxe dois artigos. O primeiro, “Factors associated with overweight/obesity in a cohort of people living with HIV over 50 years of age”, publicado na AIDS Care em abril de 2022.

Neste estudo com 744 PVHIV com idade acima de 50 anos, definiram obesidade como IMC ≥ 30 kg/m² e sobrepeso como IMC ≥ 25 e < 30 kg/m², conforme a OMS (2018). A obesidade foi encontrada em 98 pacientes (13,2%) e o sobrepeso em 317 (42,6%). 

O segundo, realizado no Brasil, “Sobrepeso e obesidade em pessoas que vivem com HIV”, publicado em 2021, foi um estudo quantitativo, analítico e transversal, desenvolvido em cinco serviços de atendimento especializado (SAE) no interior paulista, no período de outubro de 2014 a outubro de 2016, com PVHIV em tratamento.

Das 340 PVHIV investigadas, 57,9% eram do sexo masculino e a idade média foi de 44. A obesidade foi encontrada em 52 pacientes (15,4%) e o sobrepeso em 110 (32,4%). 

Podemos concluir que o excesso de peso é muito prevalente nas PVHIV. Somados os pacientes com sobrepeso e obesidade temos 55,8% no primeiro estudo, e 47,7% no estudo brasileiro. 

Ganho de peso e a terapia antirretroviral

Existe associação entre o ganho de peso e a terapia antirretroviral? Para responder essa pergunta eu trouxe o artigo “Weight gain after antiretroviral therapy initiation and subsequent risk of metabolic and cardiovascular disease”, publicado na Clinical Infectious Diseases em setembro de 2023.

Pesquisadores associados ao US AIDS Clinical Trials Group analisaram os resultados de dois grandes estudos de coorte, o A5001 e o A5322. A análise incluiu todos os participantes que utilizaram em suas terapias antirretrovirais o tenofovir disoproxil (TDF), a emtricitabina, a lamivudina, o abacavir, o efavirenz, o atazanavir, o darunavir ou o raltegravir.

Foram incluídas 2.624 pessoas no estudo. Elas eram predominantemente do sexo masculino (81%) e  idade média era de 37 anos. No início do estudo 48% tinham sobrepeso ou obesidade e 27% estavam com síndrome metabólica.

Quarenta e oito semanas após o início do tratamento, os homens ganharam em média 3,5 kg e as mulheres 4,2 kg, e 22% dos participantes ganharam pelo menos 10% de peso corporal.

Na semana 480 (aproximadamente nove anos após a entrada no estudo), os participantes ganharam uma média de 7,1 kg de peso, e 45% das mulheres e 38% dos homens ganharam pelo menos 10% de peso corporal em comparação com o valor basal. 

O que podemos concluir? Primeiro, que, no longo prazo, mais de um terço dos participantes ganharam mais de 10% do peso corporal total. Segundo os pesquisadores, este valor está de acordo com com o ganho de peso da população em geral dos Estados Unidos. No estudo NHANES, 36% de uma grande e diversificada coorte de adultos norte-americanos ganharam pelo menos 10% de peso corporal ao longo de 10 anos.

Isso nos leva às seguintes perguntas: os antirretrovirais estão ou não associados ao ganho de peso? Ou são os hábitos de saúde? Independentemente da causa, é fundamental que todas as pessoas vivendo com HIV tenham uma boa composição corporal e percam esse excesso de gordura através de uma possível troca de antirretroviral, de um tratamento medicamentoso, dieta e exercício físico.

Excesso de peso e doenças crônicas

Existe um associação entre o excesso de peso e doenças crônicas? Para responder essa pergunta eu trouxe mais resultados do artigo anterior.

Em relação à diabetes tipo II, para cada 1 kg de ganho de peso até a semana 48, foi associado a um aumento de 1,13 mg/dL na glicemia de jejum. Durante o acompanhamento, 130 pessoas desenvolveram diabetes. Aqueles com ganho de peso superior a 10% tiveram duas vezes mais risco de desenvolvê-la em comparação com aqueles que ganharam menos de 5% de peso ou que perderam.

Em relação à dislipidemia, para cada 1 kg de ganho de peso até à semana 48, foi associado a um aumento de colesterol total de 0,63 mg/dL, um aumento de LDL de 0,39 mg/dL e um aumento de triglicerídeos de 1,42 mg/dL.

Em relação à síndrome metabólica, 360 pessoas desenvolveram. Aqueles que ganharam pelo menos 5% de peso, tiveram 50% mais chances de desenvolver síndrome metabólica. Quem ganhou pelo menos 10% de peso corporal, tiveram duas vezes mais chances de desenvolvê-la em comparação com aquelas que ganharam menos de 5% de peso ou que perderam.

Em relação aos eventos cardiovasculares, 28 pessoas sofreram acidente vascular cerebral ou infarto agudo do miocárdio ou um procedimento cardíaco. A alteração de peso não foi associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares.

O que podemos concluir? Que o ganho de peso, principalmente acima de 10% do peso corporal, pode estar associado ao aumento do risco da PVHIV desenvolver doenças crônicas, como a diabetes tipo II e a síndrome metabólica, além de aumentar o colesterol total e o LDL. 

Opções de tratamento farmacológico

A revisão “Safety and Efficacy of Weight-Loss Pharmacotherapy in Persons Living with HIV: A Review of the Literature and Potential Drug-Drug Interactions with Antiretroviral Therapy” publicado na revista Pharmacotherapy traz informações sobre cinco tratamentos para obesidade: liraglutida, bupropiona com naltrexona, orlistat, lorcaserina e fentermina com topiramato. Neste parte comentarei sobre os três primeiros, que estão disponíveis no Brasil. Na próxima parte sobre a semaglutina (Ozempic®).

 

Liraglutida: 

– Nome comercial: Saxenda®.

– Mecanismo de ação: análogo de GLP-1.

– Eventos adversos: constipação, diminuição do apetite, indigestão, náusea, diarreia, vômito, hipoglicemia, pancreatite (raro).

– Interação com ITRN (inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos): sem interações clinicamente relevantes.

– Interação com ITRNN (inibidores da transcriptase reversa não-análogos de nucleosídeos): administrar a rilpivirina 4 horas antes da liraglutida devido à inibição da secreção gástrica, resultando na diminuição da concentração de rilpivirina.  

– Interação com IP (inibidores da protease): administrar o atazanavir 2–4 horas antes da liraglutida devido à inibição da secreção gástrica, resultando em diminuição da concentração de atazanavir. 

– Interação com INI (inibidores da integrase): sem interações clinicamente relevantes.

– Interação com inibidores de entrada: sem interações clinicamente relevantes.

 

Bupropiona com naltrexona: 

– Nome comercial: Contrave®

– Mecanismo de ação: antagonista do receptor opióide / inibidor da recaptação de dopamina e norepinefrina.

– Eventos adversos: constipação, diarreia, náusea, vômito, xerostomia, insônia, ansiedade, depressão, hipertensão.

– Interação com ITRN: sem interações clinicamente relevantes.

– Interação com ITRNN: monitorar a eficácia quando coadministrado com efavirenz ou nevirapina devido ao potencial de diminuição da concentração de bupropiona.

– Interação com IP: monitorar a eficácia quando coadministrado com lopinavir, tipranavir ou ritonavir devido ao potencial de diminuição da concentração de bupropiona. Monitorar os efeitos adversos se coadministrado com atazanavir/ritonavir devido ao potencial aumento da concentração de bupropiona. Aumentar lentamente a dose de bupropiona e monitorar os efeitos adversos quando coadministrado com darunavir/ritonavir devido ao potencial aumento da concentração de bupropiona.

– Interação com INI: aumentar cuidadosamente a dose de bupropiona e monitorar os efeitos adversos se coadministrado com cobicistate devido ao potencial aumento da concentração de bupropiona.

– Interação com inibidores de entrada: sem interações clinicamente relevantes.

 

Orlistat: 

– Nome comercial: Xenical.

– Mecanismo de ação: inibidor de lipase.

– Eventos adversos: manchas oleosas, fezes gordurosas, urgência fecal, flatulência (com ou sem secreção).

– Interação com ITRN: evite o uso concomitante.

– Interação com ITRNN: evite o uso concomitante.

– Interação com IP: evite o uso concomitante.

– Interação com INI: evite o uso concomitante.

– Interação com inibidores de entrada: evite o uso concomitante com maraviroc. Nenhuma interação clinicamente relevante com enfurvitida. 

Semaglutina (Ozempic®): a melhor opção

A semaglutina, conhecida no Brasil por seu nome comercial Ozempic®, é um agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), que imita o hormônio natural que suprime o apetite, regula a insulina e o açúcar no sangue e retarda o esvaziamento do estômago. No nosso país, está aprovado para o tratamento da diabetes tipo 2 sob a marca Ozempic®, e em uma dose mais elevada para o tratamento da obesidade sob a marca Wegovy®.

Estudos recentes demonstraram que a semaglutida reduz o peso corporal, o risco de eventos cardiovasculares e a progressão de doença renal em pessoas sem o vírus HIV. Mas será que, em PVHIV, causa o mesmo efeito, com segurança? Para responder essa pergunta eu trouxe dois estudos.

O primeiro estudo, que ainda não foi publicado de forma completa, mas através de uma comunicado conciso na revista AIDS, em março de 2024, chama-se “Weight loss associated with semaglutide treatment among people with HIV”.

Este foi um estudo observacional, que utilizou a coorte da Rede de Sistemas Clínicos Integrados (CNICS) dos Centros de Pesquisa em AIDS dos EUA. No total, 222 PVHIV preencheram os critérios de inclusão. O seguimento médio foi de 1,1 anos. 

Aproximadamente 75% das PVHIV em uso semaglutida eram homens; a idade média era de 53 anos; o peso médio era de 108 kg; e o IMC médio era de 35,5 kg/m2. No início do estudo, 97% estavam em terapia antirretroviral e 89% estavam com a carga viral indetectável (menor que 50 cópias/ml). A maioria (69,6%) recebeu doses baixas de semaglutida injetada por via subcutânea (0,25, 0,5 e 1 mg), enquanto 19,2% receberam doses altas (1,7, 2 e 2,4 mg). 

Na análise dos resultados, o tratamento com semaglutida foi associado a uma perda de peso média de 6,5 kg em 1 ano. As reduções de peso foram: -4,1 kg em PVHIV com IMC normal; -4,6 kg em PVHIV com excesso de peso; -5,4 kg em PVHIV com obesidade grau 1, -7,6 kg em PVHIV com obesidade grau 2; e -8,8 kg kg em PVHIV com obesidade grau 3.

Os pesquisadores concluíram que o tratamento foi associado a perda significativa de peso entre PVHIV, comparável aos resultados de estudos anteriores da população em geral.

Sobre a segurança do tratamento, o artigo “Semaglutide Reduces Metabolic Dysfunction-Associated Steatotic Liver Disease in People With HIV: SLIM LIVER” apresentado no CROI em março de 2024, demonstrou que a semaglutida foi bem tolerada, com apenas 2 eventos adversos de Grau 3 (1 náusea, 1 síndrome serotoninérgica) e nenhum evento adverso de Grau 4. Os efeitos colaterais foram semelhantes aos observados na população em geral (principalmente gastrointestinais) e não houve efeitos adicionais específicos para PVHIV.

Em relação à inflamação, o artigo “Effects of Semaglutide on Inflammation and Immune Activation in HIV-Associated Lipohypertrophy”, também apresentado no CROI de 2024, demonstrou que, em PVHIV não diabéticos com acúmulo de tecido adiposo central, a semaglutida teve efeitos significativos em vários biomarcadores importantes associados à inflamação. 

Este foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com PVHIV não diabéticos com carga viral indetectável, com IMC ≥25 kg/m², aumento da circunferência da cintura/relação cintura-quadril e aumento subjetivo da circunferência abdominal após o início da TARV. 

Foram inscritos 108 participantes (N=54 semaglutida: idade mediana=52 anos, 70% do sexo masculino, 61% negros, 83% inibidor da integrase). Foram observadas alterações significativas no grupo semaglutida entre o início do estudo e as médias da semana 32 para interleucina-6, proteína C reativa de alta sensibilidade e sCD163, com tendência em sCD14 Não foram observadas alterações significativas para sICAM-1 ou receptor de TNF-I/-II. Os níveis de biomarcadores não mudaram significativamente no grupo placebo.

O que podemos concluir? A semaglutina pode ser um excelente aliado para a perda de peso e diminuição da inflamação crônica nas pessoas que vivem com HIV.

Cuide da alimentação

Assim como o um bom combustível é necessário para um desempenho do seu carro, a alimentação é fundamental para o funcionamento do seu corpo.

A nutrição desempenha um papel no sistema imunológico, em sua capacidade de combater infecções; diminui o estresse oxidativo e a inflamação crônica; retarda o envelhecimento; e consequentemente, aumenta sua expectativa de vida.

Além disso, é através da dieta que você controla a quantidade de energia, chamada calorias, que está entrando no seu corpo. Nada é mais central para perder gordura corporal do que o controle da quantidade de calorias que você consome por dia. Por isso, o primeiro passo é a quantidade de calorias. Como é algo extenso para se explicar com palavras, eu gravei um vídeo explicando como perder gordura corporal através do déficit calórico.

Depois de focar na quantidade de comida, agora foque na qualidade. Coma comida de verdade. Uma boa dieta consiste em um equilíbrio dos seguintes tipos de alimentos:

  1. Vegetais.
  2. Peixe, ovos, carne, frango.
  3. Frutas.
  4. Gorduras boas, como castanhas, sementes, azeite de oliva, abacate, farinha de linhaça.
  5. Laticínios.
  6. Leguminosas, como feijão e lentilhas.
  7. Carboidratos, como arroz, batata, batata doce, mandioca, mandioquinha, inhame, macarrão, pão, cuscuz, tapioca.

Sua alimentação deve ser rica em vegetais. Elas são as principais fontes de vitaminas, minerais, fitoquímicos, fibras e polifenóis. Neles estão a maioria dos nutrientes importantes que combatem radicais livres e fatores inflamatórios, além de ajudar na saciedade. Coma sem moderação.

Ovos, carne e frango fornecem proteínas, minerais e vitaminas, principalmente ferro e B12. Outras opções de proteínas não animais incluem quinoa, soja, tofu, cogumelos e suplementos de proteínas vegetais. Leguminosas (feijões, lentilhas e ervilhas) também são uma excelente fonte de proteína. Sempre coma peixe (salmão, arenque, atum, sardinha, truta, cavala) duas vezes por semana, pois contém ômega-3, que possui propriedades anti-inflamatórias e também ajuda a prevenir alguns problemas cardíacos. Utilize para o cálculo de proteínas por dia o seu peso em quilo multiplicado por 1,6.

Gorduras boas fornecem energia, ácidos graxos essenciais, como ômega-3 e vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), e ajudam na saciedade. Porém, cuidado com a quantidade, pois são calóricos.

Na natureza, os açúcares estão quase sempre embalados em fibras, o que gera maior saciedade. Por isso troque doces por frutas: você ficará mais satisfeito quando come a fruta, além de serem fontes de muitos nutrientes essenciais, como potássio, fibra alimentar, vitamina C e folato (ácido fólico), além de fitoquímicos – são excelentes antioxidantes e anti-inflamatórios.

Produtos lácteos, como leite, queijo e iogurte, fornecem vitaminas, minerais e, principalmente, o cálcio. Você deve incluir alguns laticínios, ou alternativas, em sua dieta. Alguns alimentos lácteos são ricos em gorduras saturadas, portanto, cuidado com a quantidade. Porém, sempre escolha laticínios integrais e sem açúcar – são mais naturais e menos processados que os desnatados, “light” ou “diet”. Vegetais de folhas verdes escuras como couve, verduras, brócolis, frutas secas, nozes, feijões e tofu são fontes muito boas de cálcio e também de ferro.

Os alimentos ricos em carboidratos incluem arroz, aveia, batata, batata doce, mandioca, mandioquinha, inhame, abóbora, macarrão, pão, cuscuz, tapioca. Serão a base da sua alimentação e fornecerão a quantidade de energia necessária para você realizar seus treinos e atividades diárias.

Agora, alimentos e bebidas com alto teor de açúcar e óleo vegetal devem ser abandonados – contêm apenas calorias vazias e não fornecem nutrientes. A maioria desses produtos alimentícios leva ao ganho de peso e a obesidade – consequentemente doenças cardíacas, diabetes e câncer.

Mantenha-se hidratado para garantir que o corpo tenha líquido suficiente para funcionar bem. Beba de 6 a 8 copos por dia, principalmente água, chás e café. Abandone sucos (mesmo naturais) e bebidas adoçadas.

Faça atividade físicas

Nós vimos que, para perder gordura corporal, a estratégia central é ajustar sua alimentação através da dieta. Para ganhar massa muscular só há um caminho – através do treino de força. No vídeo abaixo eu detalhadamente quais as variáveis e como ganhar massa muscular.

Agora, planeje seu programa de exercícios e converse com o seu médico.

Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.

Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.

Além disso, faça seu treinamento de força progressivo em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.

Imagem adaptada do Physical Activity Guidelines for Americans, 2ª Edição.

Mencione ao seu médico que você está pensando em iniciar um programa de exercícios, para os devidos cuidados relacionados a problemas médicos, como pressão alta ou problemas nas articulações.

Aqui vão algumas dicas:

  • Primeiro foque na execução do exercício. Fazê-lo errado, além de não trabalhar o músculo proposto, aumenta a chance de lesão muscular.
  • Seus músculos só se desenvolverão quando forem submetidos a uma sobrecarga. Ou seja, você precisa progredir na carga a cada treino.
  • Utilize cargas com 70 a 75% de suas repetições máximas.
  • Faça 8 a 12 repetições para músculos da parte superior; 12 a 16 repetições para grandes músculos.
  • Leve seu músculo até a falha em pelo menos 1 exercício, e o mais próximo disso nos outros.
  • Use pesos livres, não só maquinas.

Melhore seu sono

Dificuldade para dormir é uma das queixas mais frequentes que recebo no meu consultório. Isso pode ser causado por efeitos colaterais dos medicamentos, como o efavirenz, preocupações, ansiedade, depressão, deficiência de vitaminas, minerais e hormônios, além de outras doenças. Também pode ser causado por uso de drogas ou álcool.

O sono é essencial para a saúde física e mental. Permite que o corpo e a mente descansem e se recuperem. A privação de sono a longo prazo pode causar problemas emocionais, como depressão, e problemas físicos, como doenças cardíacas, obesidade e diabetes, além de prejudicar o sistema imunológico.

Se você não tem uma boa noite de sono, algumas mudanças no estilo de vida são suficientes para recuperá-lo. Aqui vão algumas dicas:

  1. Acorde às 6:00.
  2. Faça algo importante às 7:00 (missa, musculação, atividade aeróbica, etc).
  3. Não vá para a cama até às 23:00.
  4. Rotinas/rituais regulares na hora de dormir ajudam a relaxar e a preparar o corpo para dormir (rezar, meditar, leitura, banho quente, etc.).
  5. Não cochile durante o dia.
  6. Use a cama apenas para dormir e transar; não para quaisquer outras atividades, como TV, computador ou telefone, etc.
  7. Evite cafeína após o almoço.
  8. Não beba álcool durante os dias de semana.
  9. Não fume.
  10. Não faça exercício aeróbico intenso antes de dormir.
  11. Deixe o quarto silencioso, o mais escuro possível e um pouco frio em vez de quente.
  12. Evite luz azul emitida pelas telas pelo menos 2 horas antes de dormir (smartphones, laptop, monitores). A luz azul suprime a produção de melatonina necessária para induzir o sono. Evite mensagens de texto, mídia social, jogos, uso de aplicativos.
  13. Não aperte o botão de soneca.
  14. Coma mais carboidrato à noite.
  15. Não suplemente melatonina.
  16. Não adormeça com a TV ligada.
  17. Colchão, travesseiro, roupa de cama e pijama bons.
  18. Não beba muito liquido à noite.

Abandone o hábito de fumar

O artigo “Factors Associated with Tobacco Smoking and Cessation among HIV-Infected Individuals under Care in Rio de Janeiro, Brazil”, publicado PLOS ONE em dezembro de 2013, nos mostra qual a prevalência e os fatores associados ao tabagismo.

Este foi um estudo transversal realizado com PVHIV em acompanhamento no IPEC/FIOCRUZ, que tiveram pelo menos uma consulta médica entre 01 de janeiro de 2011 e 31 de julho de 2013. Foi aplicado um questionário com diversas perguntas sobre tabagismo, informações sociodemográficas, comportamentais, clínicas e terapêuticas.

Responderam ao questionário 2.775 (76,7%) pessoas em acompanhamento ativo; 1.281 nunca fumaram (46,2%), 830 (29,9%) eram fumantes ativos e 664 (23,9%) eram ex-fumantes.

Fumantes ativos apresentaram maior prevalência de uso de álcool e drogas ilícitas quando comparados aos outros dois grupos. Quando comparados aos ex-fumantes, os fumantes atuais tinham mais tempo de uso do tabaco e eram mais propensos a fumar mais de 10 cigarros por dia.

Ex-fumantes foram diagnosticados com mais frequência com hipertensão (37,5%), diabetes tipo II (16,0%), doença cardiovascular (9,5%) e depressão (30,6%), enquanto para fumantes ativos apresentavam mais doença pulmonar obstrutiva crônica (9,6%), tuberculose (29,9%) e pneumonia (30,0%). Ex-fumantes e fumantes ativos apresentaram maior probabilidade de ter alguma internação hospitalar (42,0% e 41,2%,respectivamente) do que os participantes que nunca fumaram (33,5%).

O que podemos concluir? Primeiro, que o tabagismo é muito prevalente entre às PVHIV. Neste estudo, 29,9% eram fumantes ativos e 23,9% ex-fumantes. Segundo, comorbidades, como hipertensão, diabetes e depressão, foram mais frequentes em ex-fumantes. Isso aconteceu, pois, após os diagnósticos dessas doenças crônicas, a pessoa optou por parar de fumar. Terceiro, doenças pulmonares, como DPOC, tuberculose e pneumonia aconteceram com mais frequência em fumantes ativos. Quarto, fumantes e ex-fumantes têm probabilidade maior de internamento hospitalar.

Aí você me pergunta “Richard, como abandonar o hábito de fumar?” Terapias de reposição de nicotina (NRTs) com adesivos, goma, pastilhas, inalador de nicotina ou spray nasal dobram a taxa de sucesso de uma tentativa de parar. As NRTs atenuam os sintomas de abstinência e podem fornecer uma estratégia de adaptação para os aspectos comportamentais dela: estímulo oral (goma, pastilha) e mão-a-boca (inalador).

O estudo “A randomized placebo-controlled clinical trial of five smoking cessation pharmacotherapies” demonstrou que a combinação de adesivo e pastilha de nicotina produziu o maior benefício em relação ao placebo. Eu prescrevo uma combinação do adesivo Nicotinell® com a goma Nicorette®. 

A bupropiona e a vareniclina são ambas consideradas medicamentos de primeira linha para o abandono do hábito de fumar. Porém, a vareniclina é difícil de ser encontrada no Brasil, por isso, nossa opção é a bupropiona.

O artigo “Smoking and HIV: what are the risks and what harm reduction strategies do we have at our disposal?”, publicado na AIDS Research and Therapy em dezembro de 2018, sugere:

  1. Os 5As: (i) perguntar sobre o hábito de fumar; (ii) avaliar a prontidão para parar e a dependência da nicotina; (iii) aconselhar a pessoa parar; (iv) assistência (terapia, farmacoterapia, recursos de auto-educação, grupos de apoio); e (v) organizar o acompanhamento para avaliar o progresso.
  2. Considerar a farmacoterapia para dependência de nicotina. A bupropiona e a terapia de reposição de nicotina são os dois tratamentos aprovados mais eficazes. O indicador mais confiável de dependência de nicotina é o tempo até o primeiro cigarro após acordar pela manhã (< 30 min).
  3. Os produtos de reposição de nicotina vêm em preparações de ação lenta (ou seja, adesivos de nicotina) ou média (ou seja, goma de nicotina). A maioria das pessoas que necessitam de reposição de nicotina precisa de uma combinação destes, como ação lenta para lidar com a dependência e ação rápida para lidar com os gatilhos.
  4. Os adesivos de nicotina são mais eficazes se iniciados 2 semanas antes do dia estipulado para parar e não causam efeitos adversos adicionais.
  5. A nicotina não causa câncer e a terapia de reposição de nicotina é sempre mais segura do que fumar. Precisamos aconselhá-los a não sub dosar produtos de terapia de reposição de nicotina ou interromper o uso muito cedo, pois pode levar à recaída.
  6. O aconselhamento comportamental envolve uma avaliação dos gatilhos para fumar, barreiras para parar de fumar e outras mudanças relacionadas ao estilo de vida, como exercícios e uso de álcool. A farmacoterapia é mais eficaz quando combinada com apoio da terapia.
infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

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