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ARTIGOS

Tuberculose: tudo o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 8 de agosto de 2020.

A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo.

Mas por que existe essa letalidade, Richard? 

Pois é um quebra-cabeça.

  1. Existem várias definições que podem ser difíceis de compreender. 
  2. Apesar de ter sinais e sintomas característicos, detectar a bactéria em seu corpo não é simples. 
  3. Há tratamento, apesar de um diagnóstico provável ou não confirmado. Porém ele é longo e pode ter efeitos colaterais. 

Juntando as peças é possível realizar o diagnóstico e curar a tuberculose. 

Ao longo dessa leitura irei apresentar essas peças.

O que é a tuberculose e 4 definições

A tuberculose é uma doença infecciosa transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis

As duas primeiras definições são relacionadas aos locais onde a bactéria faz doença:

  1. Na maioria das vezes ela causa doença nos pulmões, sendo assim chamada de tuberculose pulmonar.
  2. Ela também ocorre em outros órgãos, como, por exemplo, nos rins, ossos, linfonodos (“ínguas”) e no cérebro. Quando acontece fora dos pulmões é chamada de extra pulmonar.

O terceiro e o quarto está relacionado a desenvolver ou não a doença. Como resultado, existem duas condições relacionadas à tuberculose: 

  1. Infecção latente por tuberculose: você contrai a bactéria porém não fica doente. Ela fica inativa dentro do seu corpo.
  2. Doença da tuberculose: você contrai a bactéria e fica doente. Pode ocorrer semanas ou anos após a infecção. 

Transmissão da tuberculose

A bactéria é transmitida pelo ar. Quando você tem a tuberculose pulmonar e tosse, espirra ou fala, pode transmitir para pessoas próximas. Estão em maior risco aquelas que passam mais tempo como você, como membros da família, amigos, colegas de trabalho ou colegas de escola.

Apenas a tuberculose pulmonar é transmissível. A tuberculose extrapulmonar não é infecciosa.

Ela não é transmitida por:

  1. Aperto de mão .
  2. Compartilhar comida ou bebida.
  3. Compartilhar assentos sanitários.
  4. Compartilhar escovas de dentes.
  5. Através do beijo.

Se você acha que está em risco, procure assistência médica

Prevenção da tuberculose

O tratamento da tuberculose latente é a melhor forma de prevenção da tuberculose (ver abaixo). 

Existe também a vacina contra a tuberculose que é aplicada logo após o nascimento. Ela previne a forma miliar e meníngea da doença.

Tuberculose na gestação

Existe risco maior para você e seu bebê se a doença da tuberculose não for tratada. Ele pode apresentar baixo peso ao nascer, e raramente, nascer com tuberculose.

As gestantes devem iniciar o tratamento assim que a tuberculose for detectada. Os antibióticos de primeira escolha não são nocivos ao bebê, apenas alguns utilizados para tuberculose resistente. 

A amamentação não é contra-indicada, porém necessita de cuidados especiais. 

Diferença entre tuberculose latente e doença da tuberculose

Tuberculose latente

Após contrair a bactéria, ela pode viver no seu corpo sem deixá-lo doente. Isso é chamado de tuberculose latente. Você:

  1. Não tem sintomas.
  2. Não se sente doente.
  3. Não transmite para outras pessoas.
  4. Geralmente tem uma reação positiva ao teste cutâneo (teste tuberculínico conhecido como PPD).
  5. Pode desenvolver a doença da tuberculose se não receber tratamento.

A maioria das pessoas não desenvolvem a doença da tuberculose, ou seja, a bactéria permanece inativa por toda a vida. Porém algumas pessoas apresentam um risco maior de desenvolver a doença (veja abaixo). 

Doença da tuberculose

Quando a bactéria entra no seu corpo e você não consegue combatê-la, ela causará a doença da tuberculose.

Você pode desenvolver a doença logo após ser infectado (dentro de semanas) ou anos depois, quando o sistema imunológico se enfraquece por outro motivo.

Se você tem a doença da tuberculose:

  1. Tem sintomas.
  2. Se sente doente.
  3. Pode transmitir a bactéria para outras pessoas.
  4. Geralmente tem um teste cutâneo positivo.
  5. Pode ter uma raio-x de tórax anormal.
  6. O exame de escarro pode ser positivo.
  7. Precisa de tratamento.

Cerca de 5 a 10% das pessoas infectadas, que não receberam tratamento para a infecção latente da tuberculose, desenvolveram a doença. Algumas pessoas apresentam risco maior:

  1. Contatos próximos de uma pessoa com tuberculose confirmada.
  2. Pessoas que migraram de áreas com altas taxas de infecção.
  3. Bebés, crianças e adolescentes expostos a adultos com risco aumentado para a doença.
  4. Grupos com altas taxas de transmissão, como pessoas em situação de rua e usuários de drogas injetáveis.​
  5. Pessoas que trabalham em instituições de alto risco, como hospitais, abrigos para sem-teto, estabelecimentos prisionais, lares de idosos e residências para pessoas vivendo com HIV.
  6. Pessoas com condições médicas que enfraquecem o sistema imunológico, como HIV | AIDS, linfoma, leucemia, silicose, diabetes, doença renal crônica, desnutridos, transplantados, câncer e que usam medicamentos imunossupressores, como o corticóide.
  7. Pessoas que se infectaram com bactéria nos últimos 2 anos.
  8. Idosos.

Se você acha que está em risco, procure assistência médica

Sinais e sintomas da tuberculose

A tuberculose pulmonar pode causar sintomas como:

  1. Tosse produtiva (com catarro) a mais de 3 semanas.
  2. Dor no peito.
  3. Tosse com sangue.
  4. Perda de peso.
  5. Fraqueza.
  6. Cansaço.
  7. Falta de apetite.
  8. Febre.
  9. Suor noturno.

Os sintomas da doença em outras partes do corpo dependem do órgão afetado, porém você pode apresentar os 6 últimos sintomas descritos acima. 

Diagnóstico da tuberculose

O diagnóstico da doença da tuberculose não é fácil pois envolve sete etapas: 

  1. História médica: o médico irá fazer várias perguntas, entre elas, quais são os sintomas, quando começaram, risco de exposição, se possui outras doença, entre outras.
  2. Exame médico: os sinais que você apresenta podem fornecer informações valiosas ao médico.
  3. Teste tuberculínico: conhecido como PPD, ele auxilia no diagnóstico, porém não confirma a doença. Entrarei em mais detalhes abaixo.
  4. Exame de imagem: raio-x de tórax ou tomografia de pulmão podem detectar alterações nos pulmões. As lesões aparecem em qualquer parte e diferem em tamanho, forma, densidade e cavitação. Essas alterações podem sugerir a doença da tuberculose, porém, igual o PPD, não confirma a doença.
  5. Diagnóstico microbiológico: quando a bactéria é detectada, confirma-se a doença da tuberculose. Isso ocorre quando algum teste microbiológico é positivo. Existem vários testes, mas os principais são realizados nas amostras de escarro ou biópsia do órgão onde há suspeita da doença. Nessa amostra são realizados três testes. O primeiro chama-se Bacterioscopia pela técnica de Ziehl-Nielsen. O microbiologista olha o material no microscópio e vê se há bactéria ou não. O segundo é quando se detecta o DNA da bactéria na amostra (técnica de PCR). E o terceiro é através da cultura – quando a bactéria se desenvolve em um meio, por exemplo, uma placa de sangue.
  6. Resistência aos medicamentos: esse teste é realizado em situações específicas e detecta quais antibióticos funcionam contra a bactéria. 
  7. Anatomopatológico: é realizado no fragmento de biópsia do órgão onde há suspeita da doença. Essa amostra é analisada pelo médico patologista e pode ajudar no diagnóstico, porém, como o PPD e os exames de imagem, não confirma a doença.

O diagnóstico da tuberculose é complexo. Envolve várias etapas que nem sempre estão presentes, principalmente os testes microbiológicos. Por isso, na maioria das vezes, o diagnóstico é provável. 

Só juntando várias peças desse quebra-cabeça é possível chegar ao diagnóstico. 

Teste tuberculínico (PPD)

O teste cutâneo para a tuberculose, também chamado de teste tuberculínico ou PPD, é realizado em duas etapas:

  1. Primeiro é injetado na pele uma pequena quantidade de líquido (chamada tuberculina), na parte inferior do braço.
  2. Após 48 a 72 horas um profissional de saúde treinado mede a reação que ocorre no braço.

O resultado depende do tamanho da reação:

  1. Teste cutâneo positivo: significa que a pessoa já entrou em contado com a bactéria da tuberculose.
  2. Teste cutâneo negativo: significa que a pessoa provavelmente nunca entrou em contado com a bactéria da tuberculose. 

O PPD não confirma, porém ajuda no diagnóstico da tuberculose latente e da doença da tuberculose. 

Se você recebeu a vacina BCG, o PPD pode ser positivo, ou seja, um falso-positivo. 

Diagnóstico diferencial da tuberculose

Os sinais e sintomas da tuberculose podem ser parecidos com outras doenças, como pneumonias, micoses pulmonares (paracoccidioidomicose, histoplasmose), sarcoidose, carcinoma brônquico, síndrome respiratória aguda grave (SRAG), entre outras.

Tratamento da tuberculose

Tratamento da tuberculose latente

Como explicado anteriormente, se você tem a tuberculose latente, não apresenta sintomas e não transmite a bactéria. No entanto, se a bactéria tornarem-se ativa, você pode desenvolver a doença.

Ela é diagnóstica através do PPD positivo. Porém, antes do tratamento, é necessário descartar doença ativa. 

Nem todos precisam realizar o tratamento. Alguns grupos são prioritários, como:

  1. Pessoas com PPD maior que 5 milímetros.
    • Pessoas vivendo com o HIV.
    • Contato próximo e recente com uma pessoa com a doença da tuberculose.
    • Pessoas com alterações em exame de imagem compatíveis com doença antiga.
    • Receptores de transplante de órgãos.
    • Pessoas imunossuprimidas por outras razões (por exemplo, uso de corticóide em altas doses e imunossupressores).
  2. Pessoas com PPD maior que 10 milímetros.
    • Pessoas que vivem em regiões com altas taxas de tuberculose.
    • Usuários de drogas injetáveis.
    • Pessoas que trabalham em instituições de alto risco, como hospitais, abrigos para sem-teto, laboratório de microbiologia, estabelecimentos prisionais, lares de idosos e residências para pessoas vivendo com HIV.
    • Crianças menores de 4 anos de idade ou crianças e adolescentes expostos a adultos em categorias de alto risco.

O tratamento é realizado com o antibiótico isoniazida por 9 meses. Ele é disponível exclusivamente pelo SUS. Durante o tratamento é muito importante o acompanhamento médico, principalmente pelos possíveis efeitos colaterais. 

Tratamento da doença da tuberculose

Após o diagnóstico confirmado ou provável da doença, faça o tratamento corretamente. Tome os medicamentos exatamente como foram prescritos e finalize a terapia. 

Se você abandona o tratamento no meio do caminho, ficará doente novamente e pior, a bactéria se tornar resistente aos antibióticos utilizados. Isso deixa o tratamento mais difícil, pois além de um tempo maior, é necessário medicamentos intravenosos. 

O tratamento envolve vários antibióticos que serão tomados por 6 meses (em alguns casos 9). Existem 10 medicamentos atualmente aprovados para a terapia. Todos são disponíveis exclusivamente pelo SUS. Os de primeira escolha são: 

  1. Isoniazida.
  2. Rifampina.
  3. Etambutol.
  4. Pirazinamida.

Durante os 2 primeiros meses você irá tomar os 4 antibióticos. Nos últimos 4 meses serão apenas a rifampicina e isoniazida. 

O acompanhamento médico é essencial, principalmente pelos possíveis efeitos colaterais e para avaliação da efetividade do tratamento. Vários fatores podem fazer o tratamento não funcionar e seu médico poderá identificá-los.

Efeitos adversos são comuns. Informe o seu médico imediatamente se você apresentar alguns deles. Entre os principais estão: 

  1. Perda do apetite.
  2. Náusea ou vômito.
  3. Urina escura .
  4. Icterícia (cor amarelada nos olhos ou na pele).
  5. Formigamento, dormência ou queimação nas mãos ou nos pés.
  6. Fraqueza persistente, cansaço.
  7. Febre.
  8. Dor abdominal.
  9. Hematomas ou sangramento.
  10. Visão turva ou visão alterada.
  • Você pode notar a urina alaranjada. Esse efeito é comum devido a rifampicina. Não se preocupe, apenas informe o seu médico.

Os antibióticos podem interagir com outros medicamentos que você toma, como por exemplo, medicamentos contra o HIV e anticonvulsivantes. Informe todos os medicamentos que você usa diariamente, incluindo suplementos e chás.

Vacina contra a tuberculose (BCG)

A vacina BCG utilizada no Brasil é preparada com bacilos vivos atenuados, a partir de cepas do Mycobacterium bovis, e apresenta eficácia em torno de 75% contra as formas miliar e meníngea da tuberculose, em indivíduos não infectados pela bactéria. 

É administrada em 1 dose por via intradérmica, na inserção do músculo deltoide direito. Essa localização permite a fácil verifiicação da existência da cicatriz vacinal e limita as reações à região axilar. 

Crianças de 0 a 4 anos de idade são prioridades:

  • Recém-nascidos com peso maior ou igual a 2kg devem ser vacinados na maternidade logo após o nascimento.
  • Crianças nessa faixa etária que não apresentam cicatriz vacinal 6 meses após a vacinação, devem ser revacinadas apenas um vez. 

Ela está contraindicada em gestantes e pessoas imunossuprimidas, como por exemplo, AIDS, neoplasias malignas, em uso de corticóide crônico e outras terapias imunossupressoras. 

Conclusão

A tuberculose é um desafio para você e para o seu médico. Porém ela tem tratamento e cura. Fique atento aos riscos e sintomas e procure assistência médica imediata.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

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