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ARTIGOS

Sexo após o diagnóstico: o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 18 de julho de 2020.

O diagnóstico do HIV afeta os sentimentos das pessoas sobre o sexo de maneiras diferentes. Algumas ficam ansiosas, com medo de transmitir, ou se sentem menos desejáveis. Enquanto outras param com as relações sexuais, algumas precisam de mais. Agora, é mais importante sentir-se desejado (a), e ter momentos de intimidade e prazer.

Vale a pena você saber que:

  • As pessoas vivendo com HIV continuam a fazer sexo e a ter relacionamentos.
  • Se você usar preservativo corretamente, não transmitirá o HIV a um parceiro (a) sexual.
  • Se você estiver em tratamento e estiver com a carga viral indetectável, não transmitirá o HIV por via sexual.
  • Pessoas vivendo com HIV podem ter filhos que não têm o HIV.

Neste artigo iremos conversar sobre a transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, e como evitá-las.

Como o HIV é transmitido de uma pessoa para outra?

As principais formas para contrair ou transmitir o HIV são:

  1. Relação sexual anal, vaginal e oral.
  2. Compartilhar agulhas ou outros materiais para injeção de drogas.
  3. De mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação.

Apenas certas secreções corporais podem transmitir o vírus, como:

  1. Sangue.
  2. Sêmen.
  3. Líquido pré-ejaculatório.
  4. Secreções retais, como pus, fístulas, entre outros.
  5. Secreções vaginais.
  6. Leite materno.

Mas como ocorre? Durante a relação sexual, uma dessas secreções entra em contato com uma membrana mucosa, como o reto, a vagina, o pênis e a boca ou um tecido danificado, como um pequeno corte na região genital, e consequentemente, o vírus entra no corpo da pessoa. Também pode ser injetado na corrente sanguínea através de uma agulha, como no uso de drogas injetáveis.

Também existem outras formas de transmissão que na teoria podem ocorrer, porém, são muito raras:

  1. Transfusão sanguínea: o risco de receber transfusões de sangue e derivados ou através do transplantes de órgãos é muito pequeno por causa dos testes rigorosos e das normas de biossegurança amplamente realizados no Brasil.
  2. Alimentos: a contaminação ocorre quando o sangue infectado da boca de um cuidador se mistura com alimentos durante a mastigação. Os únicos casos conhecidos estão entre crianças.
  3. Ser mordido por uma pessoa com HIV: poucos casos documentados. Não há risco de transmissão se a pele estiver intacta.
  4. Beijos: se ambos os parceiros tiverem feridas ou sangramentos gengivais. O HIV não é transmitido através da saliva.
  5. Tatuagem ou materiais de manicure: é possível a transmissão através de uma agulha reutilizada ou mal esterilizada.

O HIV sobrevive fora do corpo?

O HIV não se multiplica e não sobrevive durante muito tempo fora do corpo humano (como em superfícies).

O vírus não é transmitido:

  1. Abraçar.
  2. Apertar as mãos.
  3. Compartilhar sanitários.
  4. Compartilhar pratos.
  5. Dar beijos sociais.
  6. Saliva, lágrimas ou suor sem contato com sangue.
  7. Mosquitos, carrapatos ou outros insetos sugadores de sangue.
  8. Ar.
  9. Água.

Posso contrair outro tipo de HIV?

Sim, a superinfecção pelo HIV ocorre quando uma pessoa vivendo com o vírus é infectada por outra cepa, porém é algo muito raro. Essa nova cepa substitui ou permanece junto com a original.

Mas por que isso ocorre? O novo vírus pode ser resistente às medicações que você toma, por isso ele consegue se multiplicar, deixando sua carga viral detectável.

Indetectável = Intransmissível

A Sociedade Brasileira de Infectologia e o Ministério da Saúde publicaram em 2018 e 2019, respectivamente, dois pareceres técnicos intitulados “Indetectável = Intransmissível”. Mas o que isso significa?

Foram realizados dois grandes estudos, chamados HPTN 0528 e PARTNER. Estas pesquisas mostraram que, quando pessoas vivendo com o HIV mantém suas cargas virais indetectáveis por, pelo menos, seis meses e usam de maneira contínua suas medicações, realizam o acompanhamento médico regular e fazem os exames laboratoriais solicitados pelo médico, ao fazerem sexo com pessoas HIV negativas, não ocorre transmissão do vírus.

O estudo HPTN 052 acompanhou 1.763 casais heterossexuais – um parceiro era HIV positivo e o outro HIV negativo – em nove países. Esses casais praticavam principalmente sexo vaginal. Nenhuma transmissão do vírus ocorreu entre os parceiros quando a pessoa que vive com HIV estava em tratamento e tinha uma carga viral indetectável.

Já o estudo PARTNER acompanhou 888 casais de 14 países europeus. Ele incluiu casais homossexuais e heterossexuais que mantinham relações sexuais desprotegidas. Todas as pessoas vivendo com HIV estavam em tratamento e tinham carga viral indetectável. Assim como no estudo anterior, nenhuma transmissão ocorreu.

Embora um pequeno número de pessoas tenha contraído o vírus nos dois estudos, essas infecções vieram de um parceiro sexual fora do relacionamento ou quando o parceiro (a) HIV positivo tinha uma carga viral detectável por abandono de tratamento.

O que podemos concluir: o risco de transmitir o vírus por via sexual é insignificante. Portanto, podemos afirmar com segurança que alcançar e permanecer com carga viral indetectável não é apenas a melhor escolha que as pessoas vivendo com HIV podem fazer para manter a sua saúde, mas também a melhor maneira de prevenir a transmissão através do sexo.

Resumindo: para não transmitir o HIV por relações sexuais você preencher todos os seguintes critérios:

  • Estar com a carga viral indetectável há, no mínimo, 6 meses;
  • Manter a adesão ao tratamento perfeita;
  • Avaliar regularmente a carga viral;
  • Comparecer às consultas médicas regularmente.

Converse com o seu médico na próxima consulta para ele avaliar se você se encontra em todos os critérios do Indetectável = Intransmissível. 

Na aula abaixo eu explico detalhadamente sobre o Indetectável = Intransmissível. 

Colocando I = I em prática

O ‘Indetectável = Intransmissível’ se aplica igualmente a homens e mulheres, a heterossexuais e homossexuais.

É tão relevante para o sexo anal quanto para o sexo vaginal. Aplica-se ao uso ou não de preservativos.

Também é relevante se você deseja ter um filho com um parceiro (a) que não tenha HIV. Depois de ficar indetectável por seis meses, as pessoas vivendo com HIV pode ter relações sexuais desprotegidas para conceber, sem se preocupar em transmitir o vírus.

Muitas pessoas dizem que saber sobre ‘Indetectável = Intransmissível’ é muito poderoso – e eu percebo isso no meu dia a dia. Torna o sexo mais relaxado e agradável. Pode fazer a diferença em como você se sente sobre si.

Preservativos e contracepção

Usar preservativos continua sendo importante para impedir outras infecções sexualmente transmissíveis.

Os preservativos impedem que os fluidos corporais que contêm outros patógenos passem de uma pessoa para outra. O uso de um lubrificante à base de água ou silicone torna-os ainda mais seguros.

Quando os preservativos são usados de forma consistente e correta, eles são muito eficazes. 

Se você precisar de métodos contraceptivos, informe o seu médico sobre o seu tratamento para o HIV. Alguns antirretrovirais podem interagir com a pílula e outros contraceptivos hormonais.

Fatos sobre a transmissão

A pessoa que está em tratamento e está com a carga viral indetectável, por pelo menos seis meses, e com a adesão perfeita, não precisará se preocupar em transmitir o HIV. Mas se você ainda não está nesse estágio, ou esquece de tomar seus remédios, deve utilizar preservativos. Por isso, converse com o seu médico para saber se você ainda pode ou não transmitir o vírus.

O sexo anal e vaginal são as formas mais comuns de transmissão. Considera-se o sexo oral de risco muito baixo. É impossível que o HIV seja transmitido através de beijos, abraços ou carícias. Não há risco de transmissão durante o contato social normal, ao compartilhar utensílios domésticos como xícaras, pratos ou talheres, ao usar o mesmo banheiro ou ao respirar o mesmo ar que alguém que vive com o HIV.

PEP (profilaxia pós-exposição)

Se você está preocupado com a possibilidade de ter exposto alguém ao HIV, está disponível, pelo SUS, o tratamento emergencial chamado PEP.

Este pode ser útil se você fez sexo sem camisinha ou se a camisinha estourou. Mas a PEP não é necessária se sua adesão está perfeita e a carga viral está indetectável por pelo menos seis meses.

A PEP envolve tomar medicamentos contra o HIV em até 72 horas após uma exposição de risco ao HIV. Se houver indicação, a pessoa tomará, todos os dias, três medicações, que juntos, são dois comprimidos: tenofovir desoproxila, lamivudina e dolutegravir. O tratamento tem duração de 28 dias.

Durante o tratamento deve-se praticar abstinência sexual. Porém, em caso de relação sexual, deve-se usar camisinhas com os parceiros (as).

Profilaxia Pré-Exposição

A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) consiste no uso contínuo de medicamentos contra o HIV por uma pessoa que não tem a infecção pelo vírus. 

Mas o que é profilaxia? A palavra “profilaxia” significa prevenir uma infecção. Por exemplo, as vacinas. Elas te protegem contra uma determinada doença. Quando você toma a vacina para gripe, reduz seu risco de ficar doente pelo vírus da gripe. A mesma lógica vale para a PrEP. Sua eficácia, segurança e efetividade foram demonstradas em diversos estudos.

O medicamento atualmente usado é um comprimido composto por dois antirretrovirais: tenofovir desoproxila e emtricitabina (Truvada®). Ele funciona de forma consistente se tomado todos os dias. Tomar de forma irregular deixa o medicamento menos efetivo. 

Se você ainda está com a carga viral detectável, ou não se enquadra nos critérios de “I=I”, e não quer utilizar preservativos, a PrEP pode ser uma boa opção para o seu parceiro (a).

Estudos mostram que usar a PrEP todos os dias diminui o risco de contrair o HIV através do sexo em mais de 90% e em 70% no uso de drogas injetáveis. Porém, se não tomar a medicação todos os dias, a PrEP não é eficaz. 

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!

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