Por Dr. Richard Portier
em 18 de julho de 2020.
Os ossos são órgãos fundamentais para a proteção do nosso corpo e para a nossa locomoção.
O crânio protege o cérebro, a coluna a medula espinhal, a caixa torácica o coração, o fígado e os pulmões, e assim por diante. Além disso, armazenam minerais e nossa medula óssea, responsável pela produção de células do sangue. Por isso devemos protegê-los.
As pessoas que vivem com HIV (PVHIV) apresentam maior risco de osteoporose e osteopenia – condições caracterizadas por perda da densidade mineral óssea. Felizmente, há muito para se fazer para promover a saúde dos seus ossos e impedir problemas futuros.
Neste artigo você irá aprender qual é a prevalência destes problemas nas PVHIV, quais os fatores de risco, como diagnosticá-las e como você pode preveni-las com mudanças nos seus hábitos de vida.
Usarei como referência o livro “Endocrinologia clínica”, 7.ª edição e o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição, além de outros artigos específicos.
O osso é um tecido que se reconstrói constantemente – células ósseas antigas são substituídas por novas células ósseas. Para fazer isso, nosso corpo precisa de dois componentes principais: colágeno e minerais.
O colágeno fornece a estrutura flexível, porque os ossos precisam ter alguma elasticidade – sem colágeno, se tornam muito quebradiços e podem quebrar mais facilmente.
Já os minerais endurecem a estrutura do colágeno fornecendo a estrutura e a força do seu corpo.
Para ter ossos saudáveis, você precisa encontrar um equilíbrio entre força e flexibilidade.
Existem dois tipos de células que trabalham neste processo: osteoclastos e osteoblastos.
Osteoclastos removem os ossos danificados, deixando para trás cavidades onde os osteoblastos constroem um novo osso, com o colágeno e os minerais.
Quando crianças, estamos continuamente ganhando mais ossos do que perdendo. Porém, quando adultos, a perda pode começar a superar o ganho – processo chamado de “perda da densidade óssea”.
Na população geral, a perda óssea aumenta nas mulheres quando atingem a menopausa e nos homens na faixa dos 70 anos.
Embora tudo isso seja algo natural à medida que envelhecemos, você pode reduzir a perda óssea – com algumas mudanças nos hábitos de vida – para permanecer forte e flexível por mais tempo.
Estudos demonstram que a perda da densidade óssea é comum em PVHIV, afetando até alguns adultos jovens. Embora as fraturas sejam raras – a maioria nunca quebrará um osso – apresentam maior risco de fratura do que à população geral, sendo aproximadamente três vezes mais.
O artigo “Prevalence and Risk Factors of Low Bone Mineral Density in HIV/AIDS Patients: A Chinese Cross-Sectional Study” publicado na JAIDS em julho de 2022 nos demonstra qual a prevalência e os fatores de risco a baixa densidade mineral óssea nas PVHIV.
Neste estudo realizado entre outubro de 2017 a agosto de 2020, 717 pessoas vivendo com HIV em terapia antirretroviral foram incluídas. Diagnosticaram baixa densidade mineral óssea em 32,2% (231/717) dos pacientes, sendo 17 (2,4%) com osteoporose e 214 (29,8%) com osteopenia.
Os fatores de risco associados foram idade superior a 50 anos, índice de massa corporal menor que 18,5 kg/m² e terapia antirretroviral com tenofovir desoproxila.
Primeiramente, podemos concluir que a baixa densidade óssea é prevalente na PVHIV, podendo acometer 1 a cada 3 pessoas. Porém, a forma grave, a osteoporose, é infrequente. Neste estudo apenas 2,4% apresentaram osteoporose.
Podemos concluir também que o envelhecimento e o uso do tenofovir desoproxila são fatores de risco associados à baixa densidade óssea. Esses dois fatores já são conhecidos e bem descritos na literatura médica.
O exame para o diagnóstico da baixa densidade óssea é a densitometria óssea, porém não são todas as PVHIV que necessitam realizá-la. A seguir estão os critérios para considerar o exame, de acordo com o guideline da European AIDS Clinical Society, 11.ª edição:
Se o resultado for normal (T-score ≥ -1), repetir após 3 a 5 anos nos grupos 1, 2 e 3; não há necessidade de novo exame nos grupos 4, 5 e 6, a menos que os fatores de risco mudem; novo exame no grupo 7 se o uso de glicocorticóide se manter.
Em caso de osteopenia (T-score < -1 e > -2,5), mudança nos hábitos de vida são fundamentais, como: prática de exercícios de força e aeróbicos; aumentado da ingesta de alimentos ricos em cálcios; reposição de vitamina D em caso de deficiência ou insuficiência; e cessar o uso de álcool, drogas e cigarro. Além disso, pode ser necessária a simplificação ou a troca do tenofovir desoproxila na terapia antirretroviral.
Em caso de osteoporose (T-score ≥ -2,5), além das orientações prévias, poderá ser necessário o tratamento medicamentoso. Por isso, um acompanhamento com o endocrinologista será necessário.
A boa notícia é que você pode fazer muito para prevenir a perda óssea.
Aqui estão diversas dicas práticas para você iniciar hoje:
O exame de densitometria óssea faz parte dos exames complementares de rotina que devem ser solicitado para as PVHIV, de acordo com os critérios vistos acima.
Além disso, seu médico pode solicitar exames de sangue, como dosagem de vitamina D, vitamina B12, testosterona, cálcio e fósforo para avaliar efeitos colaterais relacionados à terapia antirretroviral.
O Colégio Americano de Medicina Esportiva recomenda atividades de resistência e de fortalecimento muscular.
Portanto, planeje seu programa de exercícios e converse com o seu médico.
Você deve ter como objetivo 150 minutos de atividade aeróbica moderada (ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa) toda semana.
Uma maneira de fazer os 150 minutos recomendados é fazer 30 minutos em cinco dias por semana. Isso inclui atividades como caminhar rapidamente, correr, dançar, nadar, praticar esportes e andar de bicicleta.
Além disso, faça treino de força progressivo em dois ou mais dias da semana. O exercício de fortalecimento muscular inclui musculação ou crossfit.
Como explicado anteriormente, os ossos são constituídos por colágeno e minerais, como o cálcio, fósforo, manganês, potássio, zinco, cobre, boro e cromo.
Uma alimentação rica em proteínas e com uma grande variedade de vegetais, legumes, frutas, nozes e sementes, fornece todos os nutrientes necessários para formar e manter seus ossos saudáveis.
Porém, o mineral mais importante é o cálcio. Os alimentos ricos em cálcio são:
Embora a melhor forma de obter cálcio e outros nutrientes essenciais seja através da comida de verdade, isso nem sempre é possível.
Se você está considerando suplementar, converse primeiro com seu médico ou farmacêutico, pois os suplementos de cálcio podem interagir com alguns antirretrovirais, principalmente o dolutegravir.
Como o seu corpo precisa de vitamina D para absorver cálcio e fósforo, e muitas PVHIV apresentam deficiência de vitamina D, converse com seu médico sobre a dosagem e suplementação, caso seja necessário.
Outra vitamina essencial é a vitamina K, necessária para sintetizar a osteocalcina, uma proteína óssea necessária para a formação óssea.
Embora a vitamina K1 seja abundante em vegetais de folhas verdes, a vitamina K2, a mais importante para a saúde óssea, é encontrada apenas pequenas quantidades em alguns alimentos, como gemas de ovos, queijo cottage, queijos fermentados e produto fermentado de soja (natto).
Suplementar vitamina K2 pode ajudar a garantir a quantidade certa dessa vitamina para seus ossos.
Sempre verifique os rótulos dos suplementos, pois muitos contêm apenas vitamina K1, que não é a forma necessária para prevenir a osteoporose.
E por fim, se você está tomando qualquer anticoagulante, como a varfarina, fale com o seu médico e farmacêutico antes de aumentar a sua ingestão ou suplementar a vitamina K, pois interfere nos efeitos dos anticoagulantes.
O cigarro, o uso de álcool e drogas são fatores de risco para desenvolver a osteoporose. Portanto, cesse o uso.
Também é uma boa ideia tomar medidas para reduzir o risco de queda. Aqui estão algumas dicas:
Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.
Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.
Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV.
Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!
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