Por Dr. Richard Portier
em 8 de agosto de 2020.
Qual das três perguntas abaixo você tem em relação à sífilis?
Essas são as dúvidas mais recorrentes entre meus pacientes. Apesar de ser uma infecção sexualmente transmissível (IST) de fácil diagnóstico e tratamento, quando não tratada, progride ao longo dos anos, podendo afetar órgãos como o cérebro, olhos e o coração.
Seja qual for a sua dúvida, continue lendo esse artigo.
Há 3 formas de contrair a bactéria Treponema pallidum, causadora da sífilis:
A mais comum é através do sexo vaginal, anal ou oral sem o uso de preservativo. A bactéria é transmitida através do cancro duro, ferida causada pela doença. Ela ocorre no pênis, na vagina, no ânus, nos lábios, na língua ou na boca.
Além disso, a ferida facilita a transmissão de outras infecções, como o HIV, hepatite B e hepatite C.
Como qualquer pessoa pode adquirir sífilis através de sexo, todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar o exame de sangue ao menos uma vez na vida.
Algumas pessoas podem se beneficiar com testes mais frequentes, entre elas:
Se você acha que está em risco de ter a infecção, procure atendimento médico. Pergunte se você deve fazer o teste para sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis.
Se você é sexualmente ativo, pode diminuir sua probabilidade de contrair a sífilis:
Infelizmente, o uso de preservativo não previne 100% a sífilis. A ferida pode estar em uma parte do corpo onde a camisinha não cobre. Por isso todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar os exames de sangue ao menos uma vez na vida para rastreio de infecções sexualmente transmissíveis.
Antes da gravidez, você e seu parceiro sexual devem realizar os exames de sífilis para tratamento imediato, se necessário. Isso evitará vários transtornos, pois o tratamento durante a gestação é mais complexo, além do risco do bebê ter a sífilis congênita.
Durante a gestação, você deve realizar os testes no primeiro trimestre ou na primeira consulta, e novamente, no início do terceiro trimestre. Estes exames são rotina em qualquer pré-natal. No caso de exposição sexual de risco ou violência, os exames devem ser realizados necessariamente por volta da 28ª semana de gestação.
Caso você tenha sífilis e não tratar (ou tratar de forma inadequada), pode transmitir a infecção para o seu bebê pela placenta. A transmissão também pode ocorrer durante o parto se houver lesões genitais na mãe. Por isso é necessário tratamento correto imediato na gestação.
Se o bebê contrair a bactéria e não for tratado, pode desenvolver a sífilis congênita. Os principais sinais e sintomas da doenças são:
Outras consequências da infecção podem levar o bebê a nascer com baixo peso, prematuro, natimorto (um bebê nascido morto) ou até morrer devido às sequelas.
Para proteger seu filho, você deve fazer os exames de sífilis pelo menos uma vez durante a gravidez e receber tratamento imediato, se necessário.
A sífilis não é transmitida através do leite materno.
Os sintomas da sífilis em adultos variam conforme o estágio da doença. O tempo médio entre a transmissão da sífilis e o início do primeiro sintoma é de 21 dias, mas pode variar de 10 a 90 dias.
Durante o primeiro estágio, você pode notar uma mancha vermelha escura que rapidamente se transforma em uma única ferida (cancro duro) no local onde a bactéria entrou em seu corpo. Algumas pessoas podem apresentar múltiplas feridas, porém é incomum. Na maioria dos casos ela é pouco sintomática e passa despercebida.
A ferida é geralmente (mas nem sempre) redonda, com bordos endurecidos bem delimitados, indolor, com fundo liso e brilhante. Aumenta de tamanho (0,5 cm a 2 cm), dura de 2 a 6 semanas e desaparece independentemente de você tratar ou não. Também pode aparecer “ínguas” nas virilhas, geralmente em um lado só.
Nas mulheres, a fase primária é de difícil percepção, pois a lesão não causa sintomas e sua localização geralmente não é visível. Ocorre principalmente na parede vaginal, cérvix e períneo.
Mesmo após a ferida desaparecer, você ainda deve realizar o tratamento, pois impedirá que sua infecção evolua para o estágio secundário.
Nesta fase, a bactéria se dissemina pelo corpo.
Você pode ter erupções cutâneas (como se fosse uma alergia) e/ou lesões na mucosa da boca, vagina ou ânus. Elas podem aparecer quando sua ferida primária está cicatrizando ou várias semanas após a cicatrização. A “alergia” são manchas ásperas avermelhadas em todo o corpo, porém são mais frequentes nas palmas das mãos e/ou na parte inferior dos pés e geralmente não coçam.
Você também pode apresentar outros sintomas, como mal-estar, febre, “ínguas”, dor de garganta, perda de cabelo, dores de cabeça, perda de peso, dores musculares, cansaço, verrugas na região genital e feridas na língua .
Os sintomas deste estágio duram entre 4 e 12 semanas e desaparecerão, independentemente se você tratar ou não. Sem o tratamento correto, sua infecção passará para o estágio latente e, possivelmente, terciário.
O estágio latente da sífilis é um período em que não há sinais ou sintomas, sendo sua duração variável.
A única forma de realizar o diagnóstico é através dos exames de sangue. Por ser a fase mais longa, é nela que a maioria das pessoas descobrem a doença.
Se você não receber tratamento continuará com a bactéria em seu corpo por vários anos, com chances de evoluir para o estágio terciário.
Poucas pessoas com sífilis desenvolvem o estágio terciário. No entanto, quando ocorre, pode afetar diferentes órgãos, como o cérebro, nervos, olhos, coração, pele, vasos sanguíneos, fígado, ossos e articulações, resultando em morte. A sífilis terciária é muito grave e acontece entre 10 a 30 anos após início da infecção. Os principais sinais e sintomas, por órgãos, são:
O diagnóstico da sífilis ocorre de duas formas:
Como a maioria das vezes os sintomas não são visíveis, geralmente o diagnóstico é realizado através dos exames de sangue.
Eles são divididos em duas classes:
Cada um possui um significado, e juntos, dão o diagnóstico da sífilis. Seu médico saberá interpretar os diferentes resultados dos exames.
Os treponêmicos permanecerão positivos, ou seja, reagentes, para o resto da sua vida, mesmo após o tratamento.
Os não treponêmicos tendem a negativação, por isso são usados para o acompanhamento. No entanto podem permanecer positivos, mesmo após o tratamento. Isso é chamado de cicatriz sorológica.
Falso-positivos podem ocorrer devido a reações cruzadas com outras doenças, como, por exemplo, lúpus, artrite reumatóide, hanseníase, entre outras.
Pessoas com sífilis devem informar seus parceiros sexuais para que eles também realizem os exames e recebam tratamento, se necessário.
Os sintomas da sífilis podem ser parecidos com outras doenças, por isso os exames de sangue são fundamentais para o diagnóstico. Entre essas doenças estão:
A sífilis tem tratamento e é curada com o uso de antibióticos prescritos pelo seu médico. E sim, é aquela que dói, a famosa Benzetacil.
O tratamento recomendado para adultos e adolescentes com sífilis primária e secundária é a penicilina benzatina em 2 doses em um dia. Para sífilis latente é administrado 2 doses em intervalos semanais, por 3 semanas, totalizando 6 doses. Siga as orientações do seu médico e nunca se automedique.
O tratamento recomendado para a neurossífilis e sífilis ocular é a penicilina cristalina por 10 a 14 dias. Como poucos hospitais possuem esse antibiótico, por isso, geralmente é tratada com ceftriaxona intravenosa pelo mesmo período.
Para pessoas alérgicas a penicilina, pode-se usar doxiciclina ou tetraciclinas.
Após o tratamento, é necessário o acompanhamento médico com exames de sangue para que se confirme a cura da infecção. Sendo assim, retorne para a consulta com seu médico.
Após o tratamento você pode ser reinfectado com a bactéria. Por isso é importante o uso de preservativos e a realização dos exames de sangue anualmente se você é sexualmente ativo(a).
É necessário também que seu parceiro(a) realize os exames, e se necessário, trate, para que a transmissão não continue a ocorrer entre o casal.
Pode não ser óbvio que um parceiro(a) sexual tenha sífilis. Isso ocorre porque as feridas podem estar escondidas na vagina, no ânus, sob o prepúcio do pênis ou na boca. A menos que saiba que seu parceiro(a) foi testado(a) e tratado(a), pode estar em risco de ter sífilis novamente.
Não façam sexo até completar o tratamento. Espere, no mínimo, 7 dias após o fim da terapia para ter relações sexuais.
Anote todos os seus sintomas, quando eles iniciaram e quando você teve a exposição de risco. Anote também suas dúvidas e leve-as ao médico. Não hesite em fazer outras perguntas caso elas ocorram no momento da consulta.
Quando diagnosticada precocemente, a sífilis tem cura e não deixa sequelas. Pelo fácil diagnóstico e tratamento, você não pode deixar ela evoluiu para o estágio terciário.
Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.
Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.
Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV.
Nenhuma informação desta página e dos nossos produtos substitui uma consulta presencial com seu médico. Jamais faça nenhuma mudança no seu tratamento sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não à essas alterações. Portanto, é imprescindível que você tenha acompanhamento médico para sua segurança. Se tiver qualquer dúvida, envie um email para richard@richardportier.com que responderemos o mais breve possível. Obrigado!
© 2022 Richard Portier. CNPJ 31.671.711/0001-11. Todos os direitos reservados. Termos de uso.