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ARTIGOS

Gripe: tudo o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 8 de agosto de 2020.

Qual das seguintes ”verdades” você já escutou?

  1. “Eu tomo a vacina da gripe e fico gripado mesmo assim! Ela não funciona! Nunca mais vou tomar!”
  2. “Eu tomo a vacina da gripe e ela me deixa gripado! Nunca mais vou tomar!”
  3. “Meu vizinho falou que um conhecido dele tomou a vacina da gripe e morreu mesmo assim! Essa vacina não funciona! Nunca vou tomar!”

Esses mitos, que se espalham rapidamente, trazem todos os anos mortes e sobras de vacinas.

Nesse artigo irei explicar tudo sobre a gripe (influenza), a diferença entre gripe e resfriado e, principalmente, desmistificar a vacina e as falsas verdades ditas acima.

O que é a gripe, por que ela é conhecida como influenza e a diferença entre gripe e resfriado

A gripe é uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus influenza. Por esse motivo também é conhecida como influenza.

Ele infecta as vias aéreas altas, como o nariz e a garganta e, às vezes, a via aérea baixa, como os pulmões.

A principal diferença entre a gripe e o resfriado comum, é que a primeira pode causar desde uma doença leve até grave que leva à morte.

Mas por que você fica gripado quase todos os anos? Existem vários tipos de vírus influenza circulando no mundo e a cada ano há um vírus predominante. Além disso, o vírus sofre mudanças (mutações). Consequentemente, nosso corpo não consegue se defender contra ele, ficando doente. 

Vou te dar um exemplo… Existem 3 tipos de influenza: 

  • A.
  • B.
  • C. 

Cada tipo sofre mutações, formando subtipos. No tipo A existem subtipos como o H1N1, H3N2, H5N1, entre outros. Em cada ano, um deles é predominante, e como você nunca entrou em contato com ele, não possui defesa. O principal objetivo da vacina é desenvolver essa defesa em você, e assim, não ter a doença. 

Veja essa história (hipotética)… Ano de 2018, o vírus influenza predominante é o H3N2. João, que tem asma, tomou a vacina daquele ano. José, que tem diabetes, não, por acreditar que a vacina faz mal a ele. João agora tem a defesa (imunidade) contra o vírus H3N2, enquanto Jóse não tem. 

Maria, com sintomas da gripe, espirra nos dois. João, por ter a defesa, nada acontece. Jóse, por não ter, e apresentar um fator de risco para desenvolver doença grave, fica com sintomas e precisa ser internado no hospital. 

Anualmente a vacina é feita de acordo com os vírus influenza predominantes naquele ano. Por isso deve tomar a vacina todos os anos, principalmente se você tem uma doença crônica. Ao tomar a vacina, faz a defesa (imunidade), assim, não apresenta sintomas da doença.

“Mas por que eu fico gripado todos os anos mesmo tomando a vacina da gripe?”. 

A vacina protege contra os vírus influenza que causam doença grave, porém não protege contra os vírus que causam o resfriado comum, como o vírus sincicial respiratório. Consequentemente você não terá defesa contra eles. E ao entrar em contato terá sintomas. 

Transmissão da gripe

Apesar do vírus circular durante todo o ano, a infecção é mais comum no outono e no inverno. 

No Brasil ocorre vigilância durante todos os meses, onde são parceiros hospitais e laboratórios públicos e privados. Os dados coletados mostram quais vírus estão circulando, mutações e o impacto que as infecções estão causando na população.

O vírus é transmitido de forma direta principalmente por pequenas gotículas produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou conversa. Essas gotículas entram em contato com pessoas próximas através da boca, nariz, olhos ou mãos. 

Também é possível contrair de forma indireta por meio do contato com a secreção infectada. Por exemplo, uma pessoa infectada espirra na mão, segura com ela em um corrimão e deixa suas secreções ali. Outra pessoa passa a mão no corrimão e coça o nariz. Ela pode contrair o vírus dessa forma. 

O período de transmissão ocorre quando a pessoa está sem sintomas (2 dias antes) e nos primeiros 7 dias após o início da doença. Crianças e pessoas com sistema imunológico enfraquecido podem transmitir por um tempo maior.

Prevenção da gripe

A principal forma de prevenção é tomar a vacina para a gripe todos os anos. Ela é eficaz e segura, e é composta por vírus inativado. E por que tomá-la? Esses são os benefícios da vacina: 

  1. Evita que você fique gripado.
  2. Reduz o risco de hospitalização associada à gripe.
  3. É uma importante ferramenta preventiva para pessoas com doenças crônicas.
  4. É associada a taxas mais baixas de eventos cardíacos, como infarto, em pessoas com doença cardíaca, especialmente entre aqueles que sofreram um evento cardíaco recente.
  5. Reduz hospitalizações entre pessoas com diabetes (79%) e doença pulmonar crônica (52%).
  6. Ajuda a proteger as mulheres durante e após a gravidez. Ser vacinado também pode protege o bebê após o nascimento.
  7. Um estudo que analisou a eficácia da vacina em mulheres grávidas descobriu que a vacinação reduz o risco de infecção respiratória aguda associada à gripe em cerca de metade das gestantes.
  8. Outros estudos mostram que a vacina aplicada na mãe protegeu o bebê por vários meses após o nascimento.
  9. Um estudo de 2017 foi o primeiro a mostrar que a vacinação pode reduzir significativamente o risco de uma criança morrer de gripe.
  10. Faz com que os sintomas da gripe sejam mais leves.
  11. Protege as pessoas ao seu redor.

No SUS, a estratégia de vacinação é direcionada para grupos prioritários com predisposição para complicações da doença. Os principais grupos são:

  1. Crianças com idade entre 6 meses e 5 anos.
  2. Gestantes.
  3. Puérperas até 45 dias após o parto.
  4. Profissionais de saúde dos serviços públicos e privados.
  5. Toda a população indígena a partir dos 6 meses de idade.
  6. Pessoas com 60 anos ou mais.
  7. Adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade sob medidas socioeducativas.
  8. Pessoas privadas de liberdade e funcionários do sistema prisional.
  9. Professores das escolas públicas e privadas.
  10. Pessoas com com doença crônicas citadas acima. Nestes casos é necessário a prescrição médica no ato da vacinação. 

Recomenda-se para crianças entre 6 meses a 8 anos, que estarão recebendo a vacina pela primeira vez, duas doses em intervalo de 30 dias entre a uma e outra para induzir a resposta imune apropriada. No serviço privado, maiores de 6 meses podem ser vacinados mediante prescrição médica. 

Se você tem condições financeiras, não deixe de se vacinar. Além dos benefícios citados acima, você impede a proliferação do vírus. 

A vacina é contraindicada para menores de 6 meses e para pessoas que já apresentaram alergia grave (reação anafilática). 

Efeitos colaterais podem ocorrer mas a maioria são leves, como dor no local da aplicação, dor no corpo e mal-estar. 

Outra dúvida muito frequente é a diferença entre a vacina trivalente (disponibilizada pelo SUS) e quadrivalente (disponibilizada pela rede privada). A primeira protege contra 3 diferentes vírus (2 influenza tipo A e 1 tipo influenza B), enquanto a segunda contra 4 diferentes (2 influenza subtipo A e 2 influenza tipo B). Hoje, no Brasil, não existe estudo mostrando qual é a melhor.

Outras dicas importantes de prevenção:

  1. Tenha bom senso: evite contato com pessoas gripadas. Não compartilhe comida, talheres e itens pessoais. 
  2. Evite tocar nos olhos, nariz e boca.
  3. Lave as mãos com sabão e use álcool em gel com frequência.
  4. Não coma aves mal cozidas ou cruas, nem animais exóticos.  

Sinais e sintomas da gripe

Os sintomas iniciam em cerca de 1 a 4 dias após a transmissão, com uma média de 2 dias. Os principais são:

  1. Febre ou sensação de febre/calafrios, porém nem todos apresentam.
  2. Tosse.
  3. Dor de garganta.
  4. Nariz escorrendo ou entupido.
  5. Dores musculares.
  6. Dores de cabeça.
  7. Fadiga (muito cansado).
  8. Algumas pessoas podem ter vômitos e diarreia.

Alguns sintomas como fraqueza, tosse seca e mal-estar podem persistir por algumas semanas após a resolução da gripe. 

Nos casos graves a pessoa pode apresentar sintomas como:

  1. Falta de ar.
  2. Respiração acelerada.
  3. Dor no peito.
  4. Pressão baixa. 

Nesses casos, é necessário suporte médico imediato

As principais complicações são: 

  1. Pneumonia bacteriana.
  2. Infecções de ouvido.
  3. Sinusite.
  4. Desidratação.
  5. Miocardite.
  6. Encefalite.
  7. Descompensação de doenças crônicas.

Sintomas graves e complicações ocorrem em qualquer idade. Porém o risco é maior em pessoas com mais de 65 anos, gestantes, crianças pequenas e pessoas com doenças crônicas como:

  • Asma.
  • Condições neurológicas e de neurodesenvolvimento incluindo distúrbios cerebrais, medula espinhal, nervos periféricos e musculares, como paralisia cerebral, epilepsia, acidente vascular cerebral, deficiência intelectual, atraso de desenvolvimento moderado a grave, distrofia muscular ou lesão da medula espinhal.
  • Doença pulmonar crônica como doença pulmonar obstrutiva crônica e fibrose cística.
  • Doença cardíaca como cardiopatia congênita, insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana.
  • Doenças hematológica como a anemia falciforme.
  • Doenças endócrinas como diabetes mellitus.
  • Doenças renais como insuficiência renal crônica.
  • Doença hepáticas como cirrose.
  • Doenças metabólicas como distúrbios metabólicos hereditários e distúrbios mitocondriais.
  • Sistema imunológico enfraquecido devido a doença como pessoas com HIV | AIDS e câncer ou medicação como uso de corticóide crônico.
  • Pessoas com menos de 19 anos de idade que estão recebendo terapia com aspirina a longo prazo.
  • Pessoas com obesidade extrema. 

Diagnóstico de gripe

É muito difícil distinguir a gripe de outras infecções virais, como o resfriado comum. Existem testes para identificar qual tipo de vírus está causando a infecção, porém são realizados em pacientes hospitalizados.

Diagnóstico diferencial

Os sinais e sintomas da influenza não são específicos e podem ser similares a outras infecções virais, como rinovírus, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus, coronavírus, entre outros. Também pode ser similar a outras doenças bacterianas, como sinusite, amigdalite, otite, entre outros.

Tratamento da gripe

A maioria das pessoas com gripe tem sintomas leves que não precisam de cuidados médicos ou medicamentos antivirais. Você deve ficar em casa e evitar o contato com outras pessoas, para diminuir a chance de transmissão. Hidrate-se bem e coma refeições leves. Tome analgésicos e antitérmicos se necessário. 

O tratamento antiviral é recomendado para pessoas:

  1. Hospitalizadas.
  2. Com alguma doença crônica. 
  3. Estão em maior risco de complicações associadas à influenza. 

Consulte um médico imediatamente se você está em alguns desses grupos. O tratamento é mais eficaz se iniciado dentro de 48 horas após o início dos sintomas. 

A principal medicação utilizada no Brasil é o oseltamivir (Tamiflu). Geralmente o tratamento é por 5 dias. 

Conclusão

A gripe faz parte do nosso dia-a-dia, principalmente durante o inverno. Tomar a vacina anualmente deve ser uma rotina, igual um check-up. Faça a higiene das mãos de forma adequada e se proteja. Saiba identificar os sinais e sintomas e os fatores de risco para procurar assistência médica quando necessário.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

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