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ARTIGOS

Febre chikungunya: tudo o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 8 de agosto de 2020.

Diferente da dengue e da zika, o vírus chikungunya pode deixar sequelas graves, pois é a única que apresenta uma fase crônica

Ela dificilmente levará a morte, porém os sintomas podem ser graves e incapacitantes

Por ser uma doença de fácil prevenção, cabe a nós atitudes diárias para nos protegermos e protegermos quem está ao nosso redor. 

O que é a febre chikungunya

A febre chikungunya é uma doença febril aguda causada pelo vírus chikungunya, da família Togaviridae e do gênero Alphavirus

Diferente da dengue e da zika, você pode desenvolver a fase crônica da doença.

Transmissão da febre chikungunya

A principal forma de transmissão do vírus é através da picada do mosquito Aedes fêmea infectada. Ela se infecta quando pica uma pessoa que tem o vírus no sangue, criando um ciclo homem-Aedes-homem. 

Pode ocorrer transmissão da mãe para o filho durante a gestação, principalmente durante o parto, causando infecção neonatal grave. 

Até o momento, nenhum bebê foi infectado pelo vírus por meio da amamentação.

Raramente pode ser transmitido por via transfusional e transplante.

O vírus não pode ser transmitido diretamente entre pessoas por via sexual ou respiratória.

Prevenção da febre chikungunya

A melhor medida preventiva para quem vive em áreas que há mosquitos é eliminar os locais onde ele põe seus ovos, principalmente locais que contêm água parada, como por exemplo, recipientes de plástico, tambores, baldes ou pneus usados. Estes devem ser cobertos ou descartados adequadamente. Recipientes para comida de animais e vasos com flores devem ser esvaziados e limpos pelo menos uma vez por semana. Eliminando os ovos e as larvas do mosquito, reduzirá o número de mosquitos presentes nessas áreas e consequentemente, o número de infecções.

Já as principais medidas de proteção individual são:

  1. Evite surtos. Se possível, evite lugares conhecidos de transmissão de doenças epidêmicas. 
  2. Esteja ciente dos horários e lugares de exposição a picada do mosquito. Embora eles possam picar a qualquer hora, os mosquitos que transmitem doenças como dengue, zika e chikungunya picam durante o dia. Evite ficar ao ar livre ou use mais repelente durante esses horários.
  3. Use roupas apropriadas. Você diminui sua exposição usando camisas de mangas compridas, calças compridas, calçados fechados e chapéus. Enfiar a camisa dentro da calça, e depois as calças dentro das meias e usar sapatos fechados reduz o risco. Repelentes ou inseticidas, como a permetrina, podem ser aplicados nas roupas e equipamentos para maior proteção.
  4. Mosquiteiros. Quando as acomodações não são adequadamente protegidas ou não têm ar condicionado, as redes mosquiteiras são essenciais para fornecer proteção. Se as redes não chegarem ao chão, elas devem ser colocadas embaixo dos colchões. Redes de cama são mais eficazes quando são tratadas com um inseticidas. Existem algumas pré-tratadas.

Repelentes

O uso de repelente é a melhor forma de proteção individual. Os principais no mercado brasileiro com princípio ativo comprovado cientificamente e que funcionam na prevenção na picada de insetos são: 

  • DEET – Off!®, Repelex®.
  • Icaridina – Exposis®.
  • IR3535 – Merck IR 3535®.

Vários fatores podem influenciar na eficácia e a duração da proteção do produto, como a espécie do mosquito e do carrapato, temperatura ambiente, exposição à água, entre outros. 

Em geral, concentrações mais altas do ingrediente ativo proporcionam maior duração de proteção, independentemente do princípio ativo. Produtos com menos de 10 % de ingrediente podem oferecer apenas uma proteção limitada de 1 a 2 horas. Por exemplo, é recomendado o uso de produtos contendo mais de 20 % de DEET, próximos a 50 %. Maior que 50 % não oferece proteção maior.1

Independentemente do produto usado, se você começar a perceber picadas de insetos, reaplique o repelente de acordo com as instruções do rótulo.

Eles podem ser aplicados com filtro solar sem redução da sua atividade. No entanto, dados limitados mostram uma redução de um terço no fator de proteção solar de filtros solares quando repelentes de insetos contendo DEET são usados após a aplicação do protetor solar. Produtos que combinam filtro solar e repelente não são recomendados, porque o filtro solar é reaplicado com mais frequência e em maior quantidade. Ou seja, use produtos separados, aplicando a proteção solar primeiro e depois o repelente. Se for um repelente com DEET, reaplique o filtro solar com mais frequência. 

Roupas, chapéus, sapatos, mosquiteiros, jaquetas e equipamentos de acampamento podem ser tratados com permetrina para proteção adicional. 

A permetrina é um inseticida, acaricida e repelente altamente eficaz. A roupa tratada com o produto repele e mata carrapatos, piolhos, mosquitos e outros artrópodes que picam e incomodam. Roupas e outros itens devem ser tratados com 24 a 48 horas de antecedência para permitir a secagem. Siga as instruções do rótulo ao usar nas suas roupas. Lembre-se que nunca deve ser aplicada na pele, apenas em roupas, mosquiteiros ou outros tecidos, conforme indicado no rótulo do produto.

Algumas precauções que você deve tomar ao usar um repelente:

  1. Aplique repelentes somente na pele exposta ou na roupa, conforme indicado na etiqueta do produto. 
  2. Nunca use repelentes em cortes, feridas ou pele irritada.
  3. Ao usar sprays, não borrife diretamente no rosto – borrife as mãos primeiro e depois aplique no rosto. Não aplique nos olhos ou na boca e aplique com moderação nas orelhas.
  4. Lave as mãos após a aplicação para evitar a exposição acidental aos olhos ou ingestão.
  5. Crianças não devem manusear repelentes. Em vez disso, adultos devem aplicar repelentes nas suas próprias mãos primeiro, e depois gentilmente espalhar sobre a pele exposta da criança. 
  6. Evite aplicar diretamente nas mãos das crianças. Depois de voltar para casa, lave a pele e a roupa do seu filho com sabão e água ou dê banho na criança.
  7. Use apenas o suficiente para cobrir a pele ou a roupa exposta. Aplicação exagerada é desnecessária.
  8. Lave as roupas tratadas antes de usá-las novamente. Essa precaução pode variar com diferentes repelentes – verifique o rótulo do produto.

Se após o uso você desenvolver uma alergia na pele ou outro tipo de reação, como coceira ou inchaço, lave-se com água e sabão neutro e interrompa o uso. Se ocorrer uma reação grave, procure assistência médica urgente.

Sinais e sintomas da febre chikungunya

A maioria das pessoas apresentam sintomas. Eles começam de 3 a 7 dias após a infecção e duram em média 7 dias. Os sintomas mais comuns são:

  1. Febre.
  2. Dor em várias articulações, principalmente pequenas articulações. Geralmente são bilaterais e simétricas.
  3. Dor de cabeça.
  4. Dor muscular.
  5. Inchaço das articulações.
  6. Erupção cutânea, parecido como uma alergia.
  7. Cansaço.
  8. Conjuntivite sem secreção
  9. Náusea.
  10. Vômitos.
  11. Diarreia.
  12. “Ínguas”.
  13. Dor retro-ocular. 

Se você apresentar alguns desses sintomas, procure assistência médica

Como os sintomas podem ser parecidos com o da dengue, e esta possui uma fase crítica, é importante que seu médico difira a chikungunya com a dengue.

A maioria dos pessoas melhoram em uma semana. Outras, permanecem ou pioram das dores nas articulações e musculatura durante meses. 

Caso os sintomas persistam por mais de 3 meses, está instalada a fase crônica. Os principais sintomas dessa fase são:

  1. Dor articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda.
  2. Edema nas articulações.
  3. Limitação de movimentos.
  4. Deformidades.
  5. Dormência e formigamentos nos membros.
  6. Distúrbio do sono.
  7. Alterações de humor.
  8. Depressão.
  9. Cansaço.

Os principais fatores de risco para cronificação são: 

  • Idade acima de 45 anos.
  • Sexo feminino.
  • Alteração articular preexistente.
  • Maior dor articular na fase aguda. 

A febre chikungunya dificilmente levará a óbito, mas os sintomas podem ser graves e incapacitantes. Agende uma consulta médica se permanecer com os sintomas.

Pessoas em maior risco para doença mais grave (como encefalite, miocardite, hepatite, pancreatite, entre outros) incluem recém-nascidos infectados na época do nascimento, idosos (≥65 anos) e pessoas com condições médicas como pressão alta, diabetes ou doença cardíaca. Os principais sintomas são:

  1. Sonolência.
  2. Dor de cabeça intensa.
  3. Convulsão.
  4. Perda de força.
  5. Dor torácica.
  6. Palpitação.
  7. Falta de ar.
  8. Diminuição no volume da urina.
  9. Pressão baixa.
  10. Sangramentos espontâneos.
  11. Vômitos persistentes. 

Caso você apresente um desses sintomas, procure um pronto atendimento imediatamente.

Diagnóstico da febre chikungunya

Seu médico pode diagnosticar a infecção simplesmente observando seus sintomas e a epidemiologia local, ou seja, se há casos em sua região ou na região onde você viajou.

São solicitados exames de sorologias para detectar anticorpos contra o vírus para confirmar a infecção. 

Diagnóstico diferencial

Os sinais e sintomas da febre chikungunya podem ser parecido com outras doenças, como: dengue, zika, artrite séptica, malária, leptospirose, febre reumática, entre outros. 

Tratamento da febre chikungunya

Não há medicação específica para o tratamento do vírus chikungunya. 

São usados medicamentos para aliviar sintomas, como analgésicos e opióides. 

Descanse, beba bastante líquido e consulte um médico.

Não tome aspirina e outros antiinflamatórios não hormonais durante a fase aguda, devido a possibilidade do diagnóstico de dengue.

Se você permanecer com os sintomas após 3 meses, graves e incapacitante, provavelmente você precisará de seguimento médico para controle da dor. Podem ser usados medicamentos com a amitriptilina, gabapentina, prednisona, hidroxifloroquina e metotrexate. Faça também fisioterapia. Converse com seu médico sobre o assunto. 

Conclusão

Anote todos os seus sintomas, quando eles iniciaram e quando você teve a exposição ao mosquito. Anote também suas dúvidas e leve-as ao médico. Não hesite em fazer outras perguntas caso elas ocorram no momento da consulta. 

Procure atendimento médico se você permanecer com dores. Existe tratamento para aliviar esse sintoma tão incapacitante.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

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