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ARTIGOS

Dengue: tudo o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 8 de agosto de 2020.

A dengue é uma doença muito conhecida devido a inúmeras epidemias nos últimos anos. 

Já fez e ainda faz parte da vida do brasileiro. 

Mesmo não vivendo uma epidemia no momento, as medidas de prevenção devem ser uma rotina no nosso dia-a-dia. Assim, nos protegemos e protegemos quem está ao nosso redor. 

É um trabalho de formiga. Se todos fizerem, todos serão beneficiados. 

O que é a dengue

A dengue é uma doença febril aguda causada pelo arbovírus do gênero Flavivirus.

São conhecidos quatro sorotipos: 

  1. DENV 1
  2. DENV 2
  3. DENV 3 
  4. DENV 4

E o que isso significa, Richard?

Que você pode ter até 4 vezes a doença da dengue. Isso ocorre pois, quando você contrai um determinado sorotipo do vírus, desenvolve imunidade para aquele sorotipo e não para os outros. 

Por exemplo, em 2016, você teve dengue e o sorotipo prevalente naquele ano era o DENV 1. Após curar da doença, criou imunidade para este sorotipo. 

No ano de 2017, achando que nunca mais pegaria o vírus por já ter pego no ano anterior, não se preveniu e teve novamente os sintomas. Isso ocorreu pois o sorotipo prevalente naquele ano era outro, o DEV 2, e você não tinha imunidade contra ele. Por isso ficou doente novamente. 

Nunca deixe de prevenir-se. Você deve ficar atento as regiões endêmicas, principalmente antes de viajar.

Transmissão da dengue

A principal forma de transmissão do vírus ocorre através da picada do mosquito Aedes fêmea infectada. 

Ela se infecta quando pica uma pessoa que tem o vírus da dengue no sangue, criando um ciclo homem-Aedes-homem. 

Também pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação e a amamentação. 

Raramente pode ser transmitido por via transfusional e transplante.

O vírus não pode ser transmitido entre pessoas por via sexual ou respiratória.

Prevenção da dengue

A melhor medida preventiva para quem vive em áreas que há mosquitos é eliminar os locais onde ele põe seus ovos, principalmente locais que contêm água parada, como por exemplo, recipientes de plástico, tambores, baldes ou pneus usados. Estes devem ser cobertos ou descartados adequadamente. Recipientes para comida de animais e vasos com flores devem ser esvaziados e limpos pelo menos uma vez por semana. Eliminando os ovos e as larvas do mosquito, reduzirá o número de mosquitos presentes nessas áreas e consequentemente, o número de infecções.

Já as principais medidas de proteção individual são:

  1. Evite surtos. Se possível, evite lugares conhecidos de transmissão de doenças epidêmicas. 
  2. Esteja ciente dos horários e lugares de exposição a picada do mosquito. Embora eles possam picar a qualquer hora, os mosquitos que transmitem doenças como dengue, zika e chikungunya picam durante o dia. Evite ficar ao ar livre ou use mais repelente durante esses horários.
  3. Use roupas apropriadas. Você diminui sua exposição usando camisas de mangas compridas, calças compridas, calçados fechados e chapéus. Enfiar a camisa dentro da calça, e depois as calças dentro das meias e usar sapatos fechados reduz o risco. Repelentes ou inseticidas, como a permetrina, podem ser aplicados nas roupas e equipamentos para maior proteção.
  4. Mosquiteiros. Quando as acomodações não são adequadamente protegidas ou não têm ar condicionado, as redes mosquiteiras são essenciais para fornecer proteção. Se as redes não chegarem ao chão, elas devem ser colocadas embaixo dos colchões. Redes de cama são mais eficazes quando são tratadas com um inseticidas. Existem algumas pré-tratadas.

Repelentes

O uso de repelente é a melhor forma de proteção individual. Os principais no mercado brasileiro com princípio ativo comprovado cientificamente e que funcionam na prevenção na picada de insetos são: 

  • DEET – Off!®, Repelex®.
  • Icaridina – Exposis®.
  • IR3535 – Merck IR 3535®.

Vários fatores podem influenciar na eficácia e a duração da proteção do produto, como a espécie do mosquito e do carrapato, temperatura ambiente, exposição à água, entre outros. 

Em geral, concentrações mais altas do ingrediente ativo proporcionam maior duração de proteção, independentemente do princípio ativo. Produtos com menos de 10 % de ingrediente podem oferecer apenas uma proteção limitada de 1 a 2 horas. Por exemplo, é recomendado o uso de produtos contendo mais de 20 % de DEET, próximos a 50 %. Maior que 50 % não oferece proteção maior.1

Independentemente do produto usado, se você começar a perceber picadas de insetos, reaplique o repelente de acordo com as instruções do rótulo.

Eles podem ser aplicados com filtro solar sem redução da sua atividade. No entanto, dados limitados mostram uma redução de um terço no fator de proteção solar de filtros solares quando repelentes de insetos contendo DEET são usados após a aplicação do protetor solar. Produtos que combinam filtro solar e repelente não são recomendados, porque o filtro solar é reaplicado com mais frequência e em maior quantidade. Ou seja, use produtos separados, aplicando a proteção solar primeiro e depois o repelente. Se for um repelente com DEET, reaplique o filtro solar com mais frequência. 

Roupas, chapéus, sapatos, mosquiteiros, jaquetas e equipamentos de acampamento podem ser tratados com permetrina para proteção adicional. 

A permetrina é um inseticida, acaricida e repelente altamente eficaz. A roupa tratada com o produto repele e mata carrapatos, piolhos, mosquitos e outros artrópodes que picam e incomodam. Roupas e outros itens devem ser tratados com 24 a 48 horas de antecedência para permitir a secagem. Siga as instruções do rótulo ao usar nas suas roupas. Lembre-se que nunca deve ser aplicada na pele, apenas em roupas, mosquiteiros ou outros tecidos, conforme indicado no rótulo do produto.

Algumas precauções que você deve tomar ao usar um repelente:

  1. Aplique repelentes somente na pele exposta ou na roupa, conforme indicado na etiqueta do produto. 
  2. Nunca use repelentes em cortes, feridas ou pele irritada.
  3. Ao usar sprays, não borrife diretamente no rosto – borrife as mãos primeiro e depois aplique no rosto. Não aplique nos olhos ou na boca e aplique com moderação nas orelhas.
  4. Lave as mãos após a aplicação para evitar a exposição acidental aos olhos ou ingestão.
  5. Crianças não devem manusear repelentes. Em vez disso, adultos devem aplicar repelentes nas suas próprias mãos primeiro, e depois gentilmente espalhar sobre a pele exposta da criança. 
  6. Evite aplicar diretamente nas mãos das crianças. Depois de voltar para casa, lave a pele e a roupa do seu filho com sabão e água ou dê banho na criança.
  7. Use apenas o suficiente para cobrir a pele ou a roupa exposta. Aplicação exagerada é desnecessária.
  8. Lave as roupas tratadas antes de usá-las novamente. Essa precaução pode variar com diferentes repelentes – verifique o rótulo do produto.

Se após o uso você desenvolver uma alergia na pele ou outro tipo de reação, como coceira ou inchaço, lave-se com água e sabão neutro e interrompa o uso. Se ocorrer uma reação grave, procure assistência médica urgente.

Sinais e sintomas da dengue

Cerca de 75% das pessoas são assintomáticas ao contrair o vírus. Porém 20% apresentam sintomas leves a moderados enquanto 5% apresentam sintomas graves. 

A doença pode apresentar 3 fases clínicas: febril, crítica e de recuperação.

Na fase febril, os sintomas duram de 2 a 7 dias e iniciam de 3 a 15 dias após a infecção Os principais são:

  1. Febre alta, de 39º a 40ºC. 
  2. Dor de cabeça forte.
  3. Dor retroorbitária (atrás dos olhos) forte.
  4. Dor nas articulações.
  5. Dor muscular e/ou óssea.
  6. Erupção cutânea, parecido com uma alergia.
  7. Náusea.
  8. Vômitos.
  9. Diarreia.
  10. Falta de apetite.
  11. Coceira.

Procure atendimento médico se você acha que está com dengue. Grande parte das pessoas recuperam-se gradativamente, com melhora do estado geral e retorno do apetite. 

A fase crítica acontece em 5% das pessoas. Preste atenção aos sinais de alerta à medida que a temperatura diminui de 3 a 7 dias após o início dos sintomas. Vá imediatamente para um pronto socorro se você apresentar um dos seguintes sintomas:

  1. Dor abdominal intensa e contínua.
  2. Vômitos persistentes.
  3. Mancha vermelha ou qualquer outra mancha na pele.
  4. Sangramento do nariz ou gengivas.
  5. Vômito com sangue.
  6. Fezes pretas (como carvão) ou sangue nas fezes.
  7. Sonolência ou irritabilidade.
  8. Pele pálida, fria ou úmida.
  9. Dificuldade ao respirar.
  10. Desmaio.
  11. Acúmulo de líquidos.
  12. Diminuição do volume da urina.

Eles sintomas marcam o início de um período de 24 a 48 horas que podem levar à falha do sistema circulatório e choque (pressão baixa) e, possivelmente, a morte, sem tratamento imediato e apropriado. Você pode desenvolver baixa contagem de plaquetas e manifestações hemorrágicas, com a tendência a se machucar facilmente ou ter outros tipos de sangramentos na pele, nariz ou gengivas. Outras complicações, embora incomuns, são a hepatite, miocardite, pancreatite e encefalite.

Sintomas mais graves e complicações podem ocorrer em qualquer idade, porém apresentam risco maior pessoas com mais de 65 anos, gestantes, crianças pequenas e pessoas com doenças crônicas como:

  • Hipertensão arterial.
  • Diabetes mellitus.
  • Asma .
  • Doença hematológicas.
  • Doenças renais crônicas.
  • Doença grave do sistema cardiovascular.
  • Doença auto-imune.

Diagnóstico da dengue

Seu médico pode diagnosticar a infecção simplesmente observando seus sintomas e a epidemiologia local, ou seja, se há casos em sua região ou na região onde você viajou.

São solicitados exames de sangue para avaliar a gravidade da doença e exames sorológicos para detectar anticorpos e antígenos contra o vírus para confirmar a infecção. 

Diagnóstico diferencial

Os sinais e sintomas da dengue em cada apresentação podem ser parecidos com outras doenças, como:

  1. Fase febril: enteroviroses, influenza e outras viroses respiratórias, hepatites virais, malária, febre tifóide, chikungunya, zika, entre outras.
  2. Fase febril com erupção cutânea: rubéola, sarampo, enteroviroses, mononucleose infecciosa, parvovirose, citomegalovirose, farmacodermias, doença de Henoch-Schonlein, chikungunya, zika, entre outras.
  3. Fase crítica: hantavirose, febre amarela, leptospirose, malária grave, riquetsioses, septicemia, entre outros.

Tratamento da dengue

Não há medicação específica para o tratamento do vírus da dengue. 

O tratamento baseia-se principalmente na hidratação adequada, levando em consideração aos sinais e sintomas que você apresenta e a gravidade da doença. 

Procurar atendimento médico é essencial, pois ele irá estadiar em um dos 4 grupos (A, B, C e D). Cada um possui uma conduta em relação a hidratação (se via oral ou endovenosa) e a necessidade de internamento.

São usados medicamentos para aliviar sintomas, como analgésicos. Descanse e beba bastante líquido. Evite o uso de aspirina. Em caso de piora dos sintomas, com o aparecimento de algum sinal de alarme, procure imediatamente um pronto socorro. 

Vacina da dengue

Em dezembro de 2015 a primeira vacina da dengue (Dengvaxia® – Laboratório Sanofi Pasteur) foi aprovada no Brasil. 

Trata-se de uma vacina de vírus vivos atenuados, composta pelos quatro sorotipos do vírus da dengue. 

Ela está licenciada para crianças a partir de 9 anos, adolescentes e adultos até 45 anos. São aplicadas 3 doses com intervalos de 6 meses. 

Por ser composta por vírus atenuado, ela é contraindicada para pessoas com imunossupressão, alergia grave, tuberculose sem tratamento e gestantes. 

Além dessas populações, em 2017, as Sociedades Brasileiras de Imunizações (SBIm), Pediatria (SBP), Infectologia (SBI) e Medicina Tropical (SBMT) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) também a contraindicão para pessoas que não tenham sido previamente infectados pelo vírus. 

Se você iniciou e ainda não completou o esquema vacinal, e desconhece seu status sorológico prévio à vacinação, converse com seu médico. Fatores como onde você vive, a intensidade da transmissão e a idade devem ser considerados na decisão da continuidade ou não do esquema vacinal.

Conclusão

Anote todos os seus sintomas, quando eles iniciaram e quando você teve a exposição ao mosquito. Anote também suas dúvidas e leve-as ao médico. Não hesite em fazer outras perguntas caso elas ocorram no momento da consulta. 

Quando diagnosticada precocemente e com a hidratação adequada, diminui sua chance de desenvolver a forma grave da doença.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

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