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ARTIGOS

Hepatite B: tudo o que você precisa saber

Por Dr. Richard Portier

em 8 de agosto de 2020.

Os exames de sangue solicitados pelo seu médico para diagnosticar a hepatite B assustam, eu sei. 

São tantas letras… HGsAg, Anti-HBc total, Anti-HBs. Isso quando o médico não solicita Anti-HBc IgG e IgM, HBeAg, Anti-HBe.

Acredite, elas fazem sentido e auxiliam o seu médico, mostrando exatamente:

  1. Se você tem ou não hepatite B.
  2. Se já teve a doença.
  3. Se foi vacinado.

Ao longo dessa leitura você poderá identificar se está em risco de ter hepatite B, as formas de preveni-la e a necessidade de ser vacinado.

O que é a hepatite B e a diferença entre hepatite aguda e crônica

A hepatite B é uma doença hepática causada pelo vírus da hepatite B. Ela é contagiosa pois é transmitida, na maioria das vezes, pelo sangue. 

Existem duas condições em relação a hepatite B, similar a hepatite C: a infecção aguda e a crônica

  1. A infecção aguda é de curta duração e ocorre nos primeiros 6 meses após a exposição ao vírus.
  2. A infecção crônica é de longa duração e ocorre quando o vírus da hepatite B permanece no seu corpo após 6 meses.

O risco de cronificação depende, principalmente, da idade que ocorreu a infecção. Em menores de 1 ano chega a 90%, entre 1 e 5 anos varia entre 20 e 50% e em adultos é de cerca de 10%. Ou seja, ela cura espontaneamente na maioria dos adultos. 

Transmissão da hepatite B

Você pode contrair o vírus pelo sangue, saliva, sêmen, secreções vaginais. Menos frequente em outros fluidos corporais, como suor, leite materno, lágrimas e urina de pessoas infectadas. 

A transmissão pode ocorrer: 

  1. Verticalmente – transmissão da mãe vivendo com o vírus para o bebê durante o parto.
  2. Durante o sexo oral, vaginal e anal sem preservativo com um parceiro(a) vivendo com o vírus.
  3. Compartilhando agulhas, seringas ou outros equipamentos de drogas injetáveis, inaláveis (cocaína) e pipadas (crack).
  4. Compartilhando itens como lâminas de barbear ou escovas de dente com uma pessoa vivendo com o vírus. 
  5. Contato direto com o sangue ou feridas abertas de uma pessoa vivendo com o vírus.
  6. Exposição ao sangue de agulha ou outros instrumentos cortantes infectados, geralmente materiais não esterilizados, como por exemplo, material de manicure e pedicure, lâminas de barbear e depilar, tatuagens, piercing.
  7. Procedimento odontológicos e cirúrgicos, hemodiálise, transfusão, endoscopia, entre outros, quando as normas de biossegurança não são aplicadas. 
  8. Acidente de trabalho (por exemplo, com uma agulha contaminada) em ambientes de cuidados de saúde.

O vírus da hepatite B pode sobreviver fora do corpo por pelo menos 7 dias. Durante esse tempo, ele ainda pode causar infecção se entrar no corpo de uma pessoa que não esteja infectada. Limpe superfícies sujas com sangue com uma mistura de água sanitária e água, sempre utilizando luvas, mesmo se o sangue estiver seco. 

Diferentemente da hepatite A, ela não é transmitida rotineiramente por comida ou água. No entanto, pode ser transmitida por alimentos pré-mastigados por uma pessoa com o vírus.

Ele não se espalha por talheres, amamentação, abraços, beijos, toque, tosse ou espirros. Também não pode ser transmitido por picada de insetos. 

Embora qualquer um possa contrair hepatite B, alguns comportamentos podem deixar você em maior risco, entre eles: 

  1. Fazer sexo com uma pessoa vivendo com o vírus.
  2. Ter vários parceiros (as) sexuais.
  3. Ter uma infecção sexualmente transmissível.
  4. Homens que fazem com homens (HSH).
  5. Injetar drogas ou compartilhar agulhas, seringas ou outros equipamentos.
  6. Viver com uma pessoa que tem hepatite B crônica.
  7. Nascer de mãe vivendo com o vírus.
  8. Exposição ao sangue na atividade laboral. 
  9. Fazer hemodiálise.
  10. Viajar para países com taxas moderadas a altas de hepatite B.
  11. Fazer sexo violento.
  12. Fazer piercings ou tatuagens com instrumentos não estéreis.

Se você está preocupado com a possibilidade de ter sido exposto ao vírus da hepatite B, marque uma consulta com seu médico. A hepatite B é diagnosticada através de exames de sangue disponíveis no SUS e em laboratórios particulares. 

Prevenção da Hepatite B

O objetivo da vacina é prevenir que você contraia o vírus da hepatite B. Ela é recomendada para:

  1. Todos os bebês, sendo a primeira dose logo após o nascimento.
  2. Todas as crianças e adolescentes com menos de 19 anos de idade que não foram vacinados.
  3. Pessoas cujos parceiros (as) sexuais têm hepatite B.
  4. Pessoas sexualmente ativas.
  5. Pessoas que buscam avaliação ou tratamento para uma infecção sexualmente transmissível (IST).
  6. Homens que fazem sexo com homens (HSH).
  7. Pessoas que compartilham agulhas, seringas ou outros equipamentos de injeção de drogas.
  8. Pessoas que têm contato domiciliar próximo a alguém vivendo com o vírus da hepatite B.
  9. Profissionais de saúde.
  10. Pessoas com doença renal em estágio terminal, incluindo pré-diálise, hemodiálise, diálise peritoneal e pacientes em diálise domiciliar.
  11. Residentes e funcionários de instituição de longa permanência.
  12. Viajantes que irão viajar para regiões com taxas moderadas ou altas de hepatite B.
  13. Pessoas com doença hepática crônica.
  14. Pessoas vivendo com HIV.
  15. Qualquer pessoa que deseja proteção contra o vírus da hepatite B.

A vacina geralmente é administrada em uma série 3 ou 4 doses durante um período de 6 meses. Ela é muito eficaz e segura. A dor local é o efeito colateral mais comum.

Desde que a vacina ficou disponível em 1982, mais de 100 milhões de pessoas receberam uma vacina contra hepatite B nos Estados Unidos e nenhum efeito colateral grave foi relatado.

Se você não concluiu a série de vacinas proposta, converse com seu médico para retomar a vacinação o mais rápido possível. Receber doses extras não é prejudicial. 

Ela é contraindicada para pessoas que apresentam alergia grave aos componentes da vacina.

Converse com seu médico. A vacina é gratuita pelo SUS e também está disponível em laboratórios particulares. 

Já a imunoglobulina é uma substância produzida a partir de uma amostra de sangue humano que contém anticorpos contra o vírus da hepatite B e é administrada apenas em casos específicos. 

Se for usar drogas injetáveis, não compartilhe seringas. Também não compartilhe itens como lâminas de barbear ou escovas de dentes.

Cuidado em salões de beleza e clínicas estéticas. Caso queira fazer uma tatuagem ou algum procedimento cirúrgico, fique atento às normas de biossegurança do local.

Hepatite B na gestação

Os exames de hepatite B fazem parte da rotina pré-natal. É importante que você faça o diagnóstico da doença para que, se houver a indicação de tratamento, inicie imediatamente para evitar a transmissão para o bebê. Ela ocorre principalmente na hora do parto e durante a amamentação, e raramente, durante a gestação (transplacentária). 

Após o nascimento, seu bebê receberá doses da vacina e imunoglobulina, começando nas primeiras 12 horas de vida. Essa terapia diminui em 95% a chance do seu filho adquirir o vírus. Duas ou três doses adicionais da vacina serão necessárias nos próximos 6 meses. O tempo e o número total de injeções serão influenciados por vários fatores, incluindo o tipo de vacina, a idade e o peso do bebê ao nascer. 

Sem vacinação, cerca de 90% dos bebês nascidos de mulheres com infecção pelo vírus da hepatite B podem desenvolver infecção crônica, o que pode levar a graves problemas de saúde. 

A vacina é recomendada para todos os bebês, independente se a mãe tem ou não o vírus. A hepatite B é uma doença grave, porém prevenível. 

Sinais e sintomas da hepatite B

Cerca de 70% dos adultos desenvolvem sintomas na infecção aguda. Ocorrem, em média, 90 dias após a exposição, entre 6 semanas e 6 meses. Mesmo não apresentando sintomas, você ainda pode transmitir o vírus.

Os principais sintomas da hepatite B aguda são: 

  1. Febre.
  2. Fraqueza.
  3. Perda de apetite.
  4. Mal-estar.
  5. Náusea.
  6. Vômito.
  7. Dor abdominal.
  8. Dor no corpo (mialgia).
  9. Urina escura.
  10. Dor nas articulações.
  11. Icterícia (cor amarela na pele ou nos olhos).
  12. Diarreia.
  13. Erupção cutânea parecido como uma alergia.
  14. Fezes sem cor.

Geralmente duram algumas semanas, mas você pode ficar doente por até 6 meses. Isso é chamado de síndrome pós-hepatite. Os sintomas que geralmente permanecem são o cansaço fácil, desconforto abdominal, intolerância a bebidas alcoólicas e alimentos gordurosos. 

Menos de 0,5% podem desenvolver a hepatite fulminante, que se caracteriza pela evolução rápida para insuficiência hepática, ou seja, o fígado para de funcionar. Os principais sintomas são icterícia acentuada, vômitos, febre persistente, confusão mental, sonolência, entre outros. A doença é fatal em mais de 80% dos casos. 

Já na hepatite B crônica, você pode ter sintomas semelhantes aos da hepatite B aguda, mas a maioria das pessoas são assintomáticas. Cerca de 15% a 40% apresentam risco de complicações, como a insuficiência hepática, cirrose ou câncer de fígado (carcinoma hepatocelular). Mesmo o fígado se tornando doente, você pode não apresentar sintomas, porém exames de sangue demostraram anormalidades.

Diagnóstico da hepatite B

Por não apresentar sintomas na fase crônica, a hepatite B é considerada uma doença silenciosa. Portanto, se você está em risco de ter contraído o vírus, deve realizar os testes diagnósticos. Eles são indicados para todas as pessoas sexualmente ativas. 

Os principais exames são: HGsAg, Anti-HBc total e Anti-HBs. Porém podem ser solicitados: Anti-HBc IgG e IgM, HBeAg, Anti-HBe e carga viral para hepatite B (PCR quantitativo). Estes testes mostram se você:

  1. Tem infecção aguda ou crônica.
  2. Se já teve a doença e curou dela.
  3. É imune à hepatite B.
  4. Poderia se beneficiar da vacinação.

Seu médico saberá interpretá-los. 

Outros exames (como TGO, TGP, RNI, plaquetas, bilirrubinas) serão solicitados para avaliação do dano hepático causado pelo vírus, e poderão auxiliar no tratamento. 

Diagnóstico diferencial

Os sintomas da hepatite, tanto aguda como crônica, podem ser parecidos com outras doenças, como: mononucleose, toxoplasmose, citomegalovirose e outras doenças virais, leptospirose, febre amarela, malária, dengue hemorrágica, hepatite alcoólica, medicamentosa, autoimune, doenças hemolíticas e obstrução mecânica das vias biliares (tumor, cálculo).

Tratamento da hepatite B

Não há medicação específica para tratar a hepatite B aguda. Durante essa fase, é necessário descanso, alimentação adequada e ingestão de líquidos, embora alguns casos mais graves possam necessitar de internação hospitalar.

Na hepatite B crônica, vários fatores influenciam no tratamento, por isso é necessário que você procure atendimento médico

Nem todas as pessoas precisam tratar. Se houver indicação, a escolha do tratamento será baseada no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções, publicado pelo Ministério da Saúde em 2016. 

Independentemente se você irá tratar ou não, é necessário seguimento e monitoramento quanto aos sinais de doença hepática. Ele é realizado através do exame do médico, exames de sangue e exame de imagem do fígado, geralmente a cada 6 meses. 

No Brasil existem vários medicamentos aprovados para o tratamento e todos são disponibilizados gratuitamente pelo SUS

Você deve evitar a ingestão de álcool. Sempre pergunte ao com seu médico quais medicamentos, suplementos ou chás você pode tomar, pois eles podem danificar ainda mais seu fígado. 

Conclusão

Anote todos os seus sintomas, quando eles iniciaram e quando você teve a exposição de risco. Anote também suas dúvidas e leve-as ao médico. Não hesite em fazer outras perguntas caso elas ocorram no momento da consulta. 

Quando diagnosticada precocemente, a hepatite B não deixa sequelas. Não deixe ela evoluiu para uma insuficiência hepática, cirrose ou câncer de fígado.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

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