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ARTIGO

O que é o HIV, a AIDS e o tratamento?​

Por Dr. Richard Portier
em 18 de julho de 2020.

Durante a minha residência médica em infectologia no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, eu estava no ambulatório, quando meu chefe me parou e perguntou para uma paciente:

  • A senhora conhece esse médico?

E ela respondeu.

  • Sim, ele me contou a historinha do carneiro. 

Eu tinha contado a história 2 anos antes daquele dia. 

Era uma paciente que não aderia ao tratamento, pois não entendia sua doença. Através dessa história, expliquei o que é o HIV, a AIDS e principalmente, o tratamento. A partir daquele dia ela passou a ser aderente. 

Primeiro, é central você entender o que é o HIV e a AIDS. Como resultado, terá uma aderência muito maior ao tratamento. Por isso preparei a aula abaixo e esse artigo especial para você. HIV tratamento

O que é CD4?

O CD4 é um linfócito, uma célula do sistema imunológico, responsável por combater infecções. 

Por que não ficamos doentes a todo momento, Dr. Richard?

Quando entramos em contato com qualquer microrganismo, o sistema imunológico nos protege. Neste sistema existem várias células protetoras, sendo uma delas a célula linfócito CD4. 

Por exemplo: se você entrar em contato com a bactéria da tuberculose, ficará doente? Provavelmente não, pois o sistema imunológico te protegerá. Como resultado, irá combater a bactéria, destruindo-a ou inativando-a. 

O linfócito CD4 é um soldado, nos protege quando necessário. Em 1 mL de sangue temos entre 500 a 1500 células, ou seja, soldados para nos proteger.

O que é HIV?​

O HIV é o vírus da imunodeficiência humana, que, se não tratado, pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA, ou AIDS, em inglês). 

Assim como qualquer outro vírus, o HIV precisa de uma célula específica para se multiplicar e sobreviver. Essa célula é o linfócito CD4. 

Porém, ao se multiplicar, o vírus destrói o CD4. Por isso, com o tempo, a quantidade de células reduz progressivamente. Sem esses linfócitos, o sistema imunológico não consegue proteger, portanto, a pessoa adoece. 

Essas infecções, ou cânceres, chamamos de doenças oportunistas, pois se aproveitam de um sistema imunológico enfraquecido, com poucos linfócitos CD4. Este estágio é chamado de AIDS.

O que é AIDS?​

A AIDS é a fase mais grave da infecção pelo HIV. A pessoa com AIDS está com o sistema imunológico gravemente danificado, com poucos linfócitos CD4 para protegê-la. Como resultado, está exposta às doenças oportunistas e a complicações que o próprio HIV pode causar.

Quais são os estágios da infecção pelo HIV?​

Sem tratamento, o HIV destrói os linfócitos CD4 durante anos, consequentemente, o sistema imunológico. Os três estágios da infecção (demonstrados na imagem abaixo) pelo HIV são: 

  1. Infecção aguda pelo HIV.
  2. Latência clínica.
  3. AIDS. 

Imagem retirada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos. 2018.

Infecção aguda

É a primeira fase da infeção e ocorre entre 2 a 4 semanas após a pessoa contrair o vírus. 

Muitos, mas não todos, desenvolvem sintomas gripais, como: 

  1. Febre. 
  2. “Ínguas”.
  3. Dor de garganta.
  4. Lesões de pele.
  5. Dores musculares.
  6. Dores articulares.
  7. Dor de cabeça. 

Isso é chamado de “síndrome retroviral aguda” ou “infecção primária por HIV”. 

Durante este período inicial, o vírus se multiplica muito. Como resultado, destrói muitos linfócitos CD4. Porém, o sistema imunológico consegue diminuir o ritmo desta multiplicação, deixando o nível de vírus estável, recuperando parcialmente a contagem de linfócitos CD4. 

Devido a grande quantidade de vírus nessa fase, o risco de transmitir o HIV é muito alto. Portanto, é muito importante o uso de preservativos ou abstinência sexual.

Latência Clínica​

Após a infecção aguda, a doença passa para o estágio chamado de “latência clínica”. Neste período o vírus continua sua multiplicação, destruindo os linfócitos CD4, porém sem causar sintomas

É nesta fase que a maioria das pessoas fazem o diagnóstico da infecção pelo HIV. Portanto, ao iniciar o tratamento imediatamente, a infecção não evolui para a fase AIDS. 

AIDS​

Caso a pessoa não trate a infecção, chegará na fase de doença, a AIDS, entre 2 a 18 anos, em média 10 anos. 

Neste estágio da infecção, a contagem de linfócitos CD4 é muito baixa e o sistema imunológico está gravemente danificado. Consequentemente, não desempenha a sua função de proteção. 

É definido AIDS quando a contagem de linfócitos CD4 está abaixo de 200 células por mL ou quando a pessoa desenvolve uma doença oportunista, independentemente da sua contagem de linfócitos CD4. Ou seja, a pessoa só terá 200 soldados para proteção, enquanto uma pessoa saudável apresenta entre 500 a 1500. 

Sem tratamento, a pessoa sobreviverá aproximadamente 3 anos

Se desenvolver uma doença oportunista grave, a expectativa de vida sem tratamento cai para 1 ano

Porém, se iniciado o tratamento, a chance de controle da doença existe, mas nunca será tão benéfica comparada a uma pessoa que iniciou antes dessa fase.

HIV e o tratamento

Nas últimas duas semanas, eu mostrei o que é o linfócito CD4, o HIV e a AIDS, e quais são os estágios da infecção causada pelo HIV. Hoje eu ensinarei o que é o tratamento, e qual é a sua finalidade. 

A terapia antirretroviral (TARV) é o uso de medicamentos contra o HIV para o tratamento da infecção. A TARV é recomendada para todas as pessoas vivendo pelo HIV, independente do tempo de infecção. 

Os medicamentos contra o vírus, chamados de antirretrovirais, impedem sua multiplicação. Como resultado, a quantidade de vírus no corpo reduz até ficar indetectável no sangue. Não ter o HIV no sangue faz com que os linfócitos CD4 não sejam destruídos, consequentemente, mantêm a proteção do sistema imunológico. Com um número bom de soldados, sem que eles sejam atacados, a pessoa está protegida.

Embora ainda haja HIV escondido no corpo em lugares onde os antirretrovirais não chegam, chamadas de células reservatórios, o sistema imunológico é forte o suficiente para combater as doenças oportunistas. 

Porém, ao parar o tratamento, o HIV volta a se multiplicar, destruindo os  linfócitos CD4 e o sistema imunológico novamente. Por isso é importantíssimo tomar os antirretrovirais todos os dias. A TARV não cura HIV, mas faz as pessoas vivendo com HIV vivam suas vidas de forma saudável.

A história

Para você entender melhor vou fazer uma analogia. Essa história eu conto para todos os meus pacientes com dúvidas em relação ao HIV. Acima de tudo, acredito que se você entende a infecção e tira suas dúvidas, aceitará e terá uma adesão melhor ao tratamento. 

Ela foi contada para mim por quem eu tenho um especial carinho, o também médico infectologista Dr. José Luiz de Andrade Neto. Ele viveu a época em que não existia tratamento. Portanto, perdeu muitos pacientes. Mas também ajudou vários, os sobreviventes da década de 80 e 90. Esta é minha homenagem por tudo o que ele fez para essas pessoas. 

A terra, o pasto, o carneiro e a cerca

Em primeiro lugar, eu quero que você imagine a terra, o pasto, um carneiro e uma ovelha. Para sobreviverem, o carneiro e a ovelha precisam reproduzir, ou seja, multiplicar sua espécie. Portanto, alimentam-se do pasto. Quanto mais carneiros, mais pastos são destruídos, e mais exposta fica a terra.

A terra exposta fica vulnerável a infecções, como fungos e bactérias. Até o momento em que nada mais cresce, ou seja, ela morre. O que aconteceria se você construísse uma cerca e prendesse todos os carneiros em um canto? O pasto cresceria novamente, protegendo a terra. Porém, ao quebrar a cerca, todos os carneiros voltariam a comer o pasto, expondo a terra novamente.

O CD4, o HIV e o tratamento

Agora vamos trocar os personagens: a terra é a pessoa que vive com HIV, o pasto seus linfócitos CD4, o carneiro é o HIV e a cerca é o tratamento

O HIV precisa se multiplicar, e precisa “comer” o CD4. Consequentemente, quanto mais HIV, mais CD4 são destruídos, e a pessoa fica mais exposta. Em conclusão: a pessoa exposta, ficará vulnerável a infecções, como fungos e bactérias. Até o momento em que ela não responde mais, ou seja, morre. Ao iniciar o tratamento, ela constrói a cerca. E só ela pode fazer isso, ninguém mais. Deixando o vírus preso, os linfócitos CD4 voltam o suficiente para proteger.

Porém, se a pessoa para o tratamento, destrói essa cerca. Então, o vírus volta a se multiplicar e destruir os linfócitos CD4. Ela fica exposta novamente. Não existe cura para a infecção causada pelo HIV. O tratamento não é uma arma que irá acabar com todos os vírus, mas pode controlá-los.

Tomar os antirretrovirais todos os dias conforme orientado pelo pelo médico é o melhor negócio para a vida da pessoa que vive com HIV. O tratamento sempre será a parte mais importante da saúde. Tratar o vírus é igual a viver, ter amores, ter futuro.

infectologista curitiba

Dr. Richard Portier

Graduado pela Universidade Positivo, é Médico Infectologista graduado pelo Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e Membro da Internacional AIDS Society.

Com grande experiência na saúde das pessoas que vivem com HIV, fez estágio no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e trabalhou na Unidade de Internamento de Infectologia e no Ambulatório de HIV/AIDS do Hospital de Clínicas – UFPR. Hoje possui um consultório privado em Curitiba onde realiza consultas online para todo o Brasil.

Sua missão é melhorar o físico, a saúde e a confiança das pessoas vivendo com HIV. 

Médico Infectologista

CRMPR 32.357

RQE 23.586

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